8 de Março Especial

Uma mulher na luta pelo meio ambiente

Tamoios News
Foto: Raell Nunes/TN

“A terra é mãe e eu sofro como uma mãe quando eu vejo as questões ambientais”

 


Por Raell Nunes

Mulher, mãe, oceanógrafa por formação e uma eterna militante ambientalista, Berenice Gomes Gallo, 54, a atual coordenadora do Projeto Tamar em Ubatuba, ainda está atuando para que a educação ambiental e o conhecimento de preservação sejam mais acessíveis no Litoral Norte.

Ela conta que antes da faculdade ela já sabia o que queria: lutar pelo meio ambiente. “Sou oceanógrafa de formação, mas antes de entrar na faculdade, eu já era militante ambientalista. Sempre ativa em tudo que eu podia influenciar, desde não deixar derrubar uma árvore, até passar abaixo-assinado na Avenida Paulista para não matarem mais as baleias na Paraíba”, revela.

Em sua adolescência, participou de ONGs ambientalistas na capital. A primeira instituição que trabalhou como voluntária foi a União em Defesa das Baleias (UDB). Depois que se formou, prestou serviços para a SOS Mata Atlântica.

O começo de sua história em Ubatuba mais uma vez envolveu o meio ambiente. Berenice veio fazer um curso de cultivo de mexilhões que o Instituto de Pesca ofertava na época. Até então, a profissional do meio ambiente só vinha a Ubatuba como turista.

“Eu vim fazer esse curso e, a partir daquele momento, por uma questão pessoal, eu comecei a namorar o Hugo, que é meu marido. Eu passei a vir mais e mais. Eu já o conhecia da faculdade. A gente resolveu que viria para Ubatuba”, conta.

Trajetória – Ela continuou o relacionamento e também fazendo o que ama: estar perto da natureza. Desde então virou consultora da SOS Mata Atlântica para fazer o levantamento e acompanhamento do primeiro macrozoneamento. “A primeira vez que a Secretaria de Estado fez o primeiro diagnóstico para o gerenciamento costeiro, eu acompanhava como consultora”, relembra.

Para se manter, Berenice, como ela mesma diz, fez de tudo um pouco: foi coordenadora do grupo setorial de meio ambiente da Fundação de Arte e Cultura de Ubatuba e era fotografa freelancer do jornal “O Estado de S. Paulo”.

Há 28 anos, a militante do meio ambiente e defensora da preservação da natureza foi convidada para implantar a primeira base do Tamar em Ubatuba. “Foi a primeira base de alimentação de todo o Brasil é a primeira e única do Estado de São Paulo”, afirma a atual coordenadora do projeto.

Com um tom de satisfação e orgulho do que faz, Berenice revela ainda que tem um trabalho de inclusão social com os jovens, reabilitação de animais, e o centro de visitantes – que virou uma grande referência de educação ambiental e turística.

“O Tamar não faz um trabalho somente voltado às tartarugas, mas também envolvido com as questões da localidade. Tanto que temos todo um trabalho de inclusão social, somos utilidade pública federal por isso. Temos registro no Conselho Nacional de Assistência Social porque trabalhamos com a comunidade de fato”, ressalta.

Mulher – A coordenadora do Tamar destaca ainda sua voz feminina. Para ela, a mulher tem outras jornadas que o homem não tem. “Por mais que se diga que hoje mudou muito, e mudou, há diferenças. Depois que a mulher saiu para trabalhar, é a mulher ainda que tem filho. Por mais que tenha dividido tudo, é diferente. É diferente hormonalmente, é diferente porque quem deita a cabeça no travesseiro quando um filho está doente e não pega no sono é a matriz, é a mãe, é a Gaia”.

Nas palavras dela, é preciso fazer tudo com a maior energia possível. Ela usa uma pequena metáfora para se expressar. “As pessoas brincam que mulher é igual a um polvo, segura um negócio com uma mão, com a outra atende o telefone, com a outra lava-se a roupa, depois está chamando alguém. Eu faço com muita paixão, com muito amor”, fala, enquanto sorri ao mesmo tempo.

Berenice ainda exemplifica seus ideais ao conectar a mulher ao meio ambiente. “A terra é mãe e eu sofro como uma mãe quando eu vejo as questões ambientais, quando eu vejo o que está acontecendo com Ubatuba, quando vejo o que vem por aí, em relação ao gerenciamento costeiro, e mudança de zoneamento”, desabafa.

Ativista – A defensora da preservação ambiental diz que ama Ubatuba e que quer ser ativa, se doando mais ao lugar em que escolheu para viver. Além de ser coordenadora do Tamar, ela é conselheira no Conselho Municipal de Turismo, membro no Conselho Municipal de Meio Ambiente, e conselheira da APA Marinha do Litoral Norte. A militante releva que está atenta às políticas públicas voltadas às áreas ambientais.

“O município está sob grande pressão. A gente tem que ter um acordo estratégico entre sociedade, e aqui ouvir a voz da comunidade tradicional. Eles são os grandes donos daqui. Os caiçaras, os índios. A sobrevivência das comunidades é compatível com o que os ambientalistas defendem”, acrescenta.

Relativo ao turismo, que é a maior fonte de renda da cidade, Berenice esclarece que a melhor opção é ter um turismo ecológico, de aventura, que, segundo ela, exalte esse oásis – o último reduto de Mata Atlântica. “Com ilhas e um mar imenso, entre São Paulo e Rio de Janeiro, isso é ouro, mas é ouro do jeito que está”, ressalta.

Para Berenice o meio ambiente pode ser um caminho à felicidade, e cita a Costa Rica como exemplo. “É um país que vive do turismo. A indústria é o turismo, e vive muito bem. E é um dos países que têm o maior índice de felicidade da população. Eu acho que é isso que a gente deveria estar fazendo aqui”, conclui.

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