Cultura Ubatuba

Grupo de Fandango de Ubatuba ganha Prêmio Patrimônio Cultural do Brasil

Tamoios News

No dia em que se comemora o Dia do Patrimônio Cultural, comemorado neste sábado 17, o fandango do Litoral Norte será homenageado com o prêmio Patrimônio Cultural do Brasil, num evento promovido pelo Iphan(Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), na cidade de Paranaguá, no Paraná. As homenagens  confirmam que a cultura caiçara ressurge das cinzas para ocupar um lugar de destaque, que sempre mereceu, na cultura brasileira

Por Salim Burihan

O Dia do Patrimônio Cultural, comemorado neste dia 17 de agosto – em homenagem ao nascimento do primeiro presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Rodrigo Melo Franco de Andrade –, será marcado por homenagens aos mestres e grupos vencedores do Prêmio Fandango Caiçara, Patrimônio Cultural do Brasil.

O Fandango Caiçara é uma expressão musical-coreográfica-poética e festiva, cuja área de ocorrência abrange o litoral norte do estado de São Paulo e o litoral norte do estado do Paraná. Essa forma de expressão é um dos bens imateriais  que compõe o Patrimônio Cultural do Brasil.

Possui uma estrutura bastante complexa e se define em um conjunto de práticas que perpassam o trabalho, o divertimento, a religiosidade, a música e a dança, prestígios e rivalidades, saberes e fazeres. O Fandango Caiçara se classifica em batido e bailado ou valsado, cujas diferenças se definem pelos instrumentos utilizados, pela estrutura musical, pelos versos e toques.

Dois grupos e quatro mestres de São Paulo (SP) serão contemplados durante a cerimônia de premiação que ocorrerá na Praça da Matriz Cyro Abalem, na Ilha dos Valadares, localizada no município de Paranaguá (PR). Do Litoral Norte, serão homenageados o Grupo Fandango Caiçara Ubatuba e in memoriam, o mestre Orlando António de Oliveira, ou simplesmente Seu Orlando, falecido em 2016.

O evento reunirá grupos de fandango do Paraná e São Paulo. Vão se apresentar neste sábado, representando o Litoral Norte, os grupos de Ubatuba: Mestre Pedrinho, Fandango Caiçara, Cirandeiros de Ubatuba e Fandango Bacuru.

A iniciativa da premiação tem como objetivo reconhecer e valorizar as representações simbólicas do bem cultural registrado, por meio da premiação de Mestres e Mestras do Paraná e de São Paulo, cuja trajetória de vida tenha contribuído de maneira fundamental para a transmissão e a continuidade do Fandango Caiçara. Também serão premiados grupos cuja trajetória e atuação contribuam de forma exemplar para a valorização, difusão e transmissão do bem cultural às novas gerações.

O prêmio será entregue, na 10ª edição da Festa Nacional do Fandango Caiçara de Paranaguá, pelo diretor do Departamento do Patrimônio Imaterial (DPI/Iphan), Hermano Queiroz, e atende às diretrizes de ações estabelecidas no âmbito da elaboração do Plano de Salvaguarda do Fandango Caiçara. Dentre outras ações, o plano visa identificar, valorizar e dar visibilidade às atividades e às estratégias de preservação das identidades culturais dos protagonistas desta forma de expressão.

 

Premiados de Ubatuba

Categoria Grupos de Fandango Caiçara

Grupo Fandango Caiçara Ubatuba

Em meados do ano 2000, quatro jovens se uniram para por em prática as canções passadas a eles pelos antigos moradores da cidade de Ubatuba (SP), detentores do conhecimento do Fandango Caiçara. Desta união surgiu o Grupo Fandango Caiçara Ubatuba que, atualmente, trabalha com o Projeto Sementes. O objetivo é o fortalecimento da cultura caiçara no município com a valorização dos saberes dos mestres detentores e da transmissão aos mais jovens por meio de oficinas de construção e prática instrumental de rabecas nas escolas municipais e de bailes.

Categoria Mestres/Mestras de Fandango Caiçara

Categoria Mestres/Mestras de Fandango Caiçara (in memoriam)

FOTO: Orlando Antonio de Oliveira na viola – Revelando SP 1999 Foto: Paulo Zumbi

Mestre Orlando António de Oliveira, ou simplesmente Seu Orlando, nasceu em Ubatuba (SP) em 1933 e, com apenas cinco anos de idade, aprendeu com seus pais a tocar Fandango Caiçara. Foi o responsável pela continuidade do Grupo de Xiba e Fandango Caiçara do Prumirim, fundado por seu bisavô, Belarmino Vieira de Morais, em meados do século XIX.

Era um exímio artesão, consertava seus próprios instrumentos. Deixou um vasto repertório de composições musicais, formou diversos músicos e mestres fandangueiros e ajudou a perpetuar uma tradição familiar centenária. Mestre Orlando (1933-2016), se encantou com o fandango e deixou um legado de talento e tradição para Ubatuba.

Durante décadas de sua vida, se dedicou a preservação e disseminação de diversas manifestações culturais na cidade de Ubatuba, como: Folia do Divino Espírito Santo, Folia de Reis e o fandango caiçara, através de festas, bailes, cantando, tocando e ensinando a dançar.

Sua trajetória envolve apresentações em diversos eventos, programas de tv e rádio, diversos projetos desenvolvidos na região do Vale do Paraíba, Litoral Norte de São Paulo e Baixada Fluminense, além de representações no Revelando SP. Mestre Orlando participou também do Programa de Inezita Barroso “Viola, Minha Viola”. Como grande compositor que era, Mestre Orlando deixou mais de 50 músicas, entre elas: canoas, folias, xiba e cirandas.

Outros homenageados

Grupo Cultural de Fandango do Bairro do Rocio
O Grupo Cultural de Fandango do Bairro do Rocio, no município de Iguape (SP), foi fundado, oficialmente, em 2006, por Mestre Nelsinho do Fandango. A sede do grupo – formado por vinte integrantes, dentre tocadores e dançarinos – funciona na casa do próprio mestre, onde são realizados ensaios e bailes aos domingos, as chamadas domingueiras.

Mestre Cleiton do Prado Carneiro, de Iguape (SP), começou a tocar Fandango Caiçara em 1994, com 15 anos de idade. Além de sua atuação no grupo Associação dos Jovens da Juréia (AJJ) – cujo objetivo é a manutenção da cultura caiçara e a geração de renda – e no Grupo Manema, que fundou em 2009, também se dedica à construção de instrumentos musicais como a rabeca, a viola branca e o machete. É membro do Comitê Gestor da Salvaguarda do Fandango Caiçara.

Mestre Ciro Xavier Martins, de Peruíbe (SP), começou a participar do Fandango Caiçara em 1973, aos 14 anos de idade, por influência de seu pai, Mansueto.  Em 2016, fundou o grupo Raízes da Juréia, que toca músicas de compositores caiçaras locais. Mestre Ciro é quase sempre acompanhado por seu filho, Leonardo, que toca adufe e deve dar continuidade à tradição familiar.

Mestre Nelson de Souza Rangel, mais conhecido como Nelsinho do Fandango, nasceu em 1961 no município de Iguape (SP). Desde pequeno, observava a família e a comunidade fazendo Fandango Caiçara e, a partir dos 12 anos, aprendeu a cantar, dançar e tocar viola. Apresenta-se regularmente no Clube Sandália de Prata, tocando viola e cavaquinho. Fundou o Grupo Cultural de Fandango do Bairro do Rocio, também em Iguape.

 

Fandango Caiçara, Patrimônio Cultural do Brasil (LINK)
Fandango Caiçara – registrado pelo Iphan em novembro de 2012 – é uma expressão musical-coreográfica-poética e festiva, cuja área de ocorrência abrange o litoral sul do Estado de São Paulo e o litoral norte do Estado do Paraná. Possui uma estrutura bastante complexa e se define em um conjunto de práticas que perpassam o trabalho, o divertimento, a religiosidade, a música e a dança, prestígios e rivalidades, saberes e fazeres. Ele se classifica em batido e bailado ou valsado, cujas diferenças se definem pelos instrumentos utilizados, pela estrutura musical, pelos versos e toques.