Educação

Estudantes mantém ocupação de escola Colônia dos Pescadores contra o fechamento de salas

Tamoios News
Ricardo Hiar

Ricardo Hiar

Jovens afirmam que movimento será mantido por tempo indeterminado; Apeoesp apoia a ação

Por Ricardo Hiar

Um grupo de estudantes, com idades entre 14 e 21 anos, mantém desde a última quinta-feira (26) a ocupação da Escola Estadual Colônia dos Pescadores, localizada no bairro Indaiá, em Caraguatatuba. Desde então, pelo menos 50 jovens têm permanecido 24 horas por dia na unidade escolar, como protesto ao possível fechamento de salas no próximo ano letivo, que pode acontecer com a reorganização do sistema educacional divulgada no mês passado pelo Governo do Estado. Alguns professores também aderiram ao movimento.

De acordo com a Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), que tem apoiado a ocupação em Caraguatatuba, apesar do litoral norte não ter entrado na lista das cidades que terão escolas estaduais fechadas em 2016, haverá impactos com a reorganização, que é o fechamento de dezenas de salas. “Pela nossa estimativa, pelo menos 30 salas de aula devem ser fechadas no ano que vem. Isso representa uma superlotação em outras salas e demissão de professores”, explicou o diretor estadual da entidade, Rodolfo Alves de Souza.

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Segundo o vice-presidente regional da UEE (União Estadual dos Estudantes), Lucas Demétrio, a iniciativa de ocupar a escola foi motivada pela ação de jovens em todo o Estado, que têm agido dessa mesma forma para evitar os fechamentos de escolas. “Nós vimos tudo o que estava acontecendo em outras cidades e percebemos que também haveria mudanças por aqui, então convocamos uma assembleia e optamos pela ocupação”, afirmou.

Demétrio acredita que, pelo fato da decisão ter sido tomada coletivamente, ela é legítima e democrática. O jovem, de 21 anos, diz que desde quinta-feira todas as ações foram tomadas em conjunto, para respeitar a vontade da maioria.

Ele afirma que a única condição para a saída dos estudantes é que a Diretoria de Ensino de Caraguatatuba apresente um documento oficial, afirmando que não haverá fechamento de salas na escola Colônia dos Pescadores a partir de 2016. “A palavra da vez é a resistência. Vamos até o fim”.

O rapaz conta ainda que o movimento não impossibilitou a realização de outras atividades no local, como as aulas regulares. “Nós até chamamos alunos para a escola, mas alguns professores e a direção tem avisado que não há aulas, para que as pessoas não venham para cá e também entrem no movimento”, completou.

Outra jovem que abraçou a causa foi a estudante do segundo ano do ensino médio, Victoria Carolina, 16 anos. Para ela, foi preciso agir para garantir os direitos dos estudantes. Conforme explicou, os alunos tiveram que preencher recentemente um formulário apontando se trabalhavam ou não e, apresentaram a carteira de trabalho. Ela diz a iniciativa foi um levantamento preliminar para o encerramento de salas de aula no período noturno.

Victória reclamou de alguns veículos de comunicação que quiseram descaracterizar a seriedade do movimento. “Chegaram a nos chamar de idiotas no rádio. Idiota a gente seria se visse tudo isso acontecendo com nossa escola e ficasse de braços cruzados”, afirmou.

Kaio Henrique de Paula Souza, 14 anos, também está participando da ocupação. Ele cursa o 9º ano do ensino fundamental e acredita que se não agir agora, pode ter problemas no futuro, ao precisar de uma vaga no ensino médio. O jovem conta que recebeu total apoio em casa. “Meus pais estão me apoiando, pois eles dizem que não puderam lutar pelas melhorias na época deles, mas eu estou podendo e por isso devo estar aqui”, disse.

A ocupação

Para evitar conflitos os alunos aprovaram em assembleia algumas regras de convivência. Um cartaz com todos os itens foi afixado no pátio, para que todos as sigam. Entre as condições para permanecer no grupo estão: nada de drogas; nada de preconceito; manter a ordem e limpeza; saber e respeitar que as assembleias são a máxima de decisões, ou seja, nada deve ser definido individualmente.

Os jovens têm dormido e se alimentado nas dependências da escola. No primeiro dia, todos dormiram no pátio, mas como o espaço é aberto e ficou mais frio durante a noite, eles resolveram colocar os colchões numa sala de aula.

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Para controlar o acesso, eles levaram cadeados e sempre há um aluno responsável por manter tudo fechado. No pátio, local onde eles permanecem a maior parte do tempo, há muitos cartazes com frases ideológicas e alusivas ao movimento. Logo ao lado do nome da escola, uma frase deixa clara a ação “sob nova direção”. Eles ainda fizeram um mural artístico e a música é constante no espaço.

Neste sábado (28), vários locais passavam por limpeza. “Estão dizendo que estamos deteriorando o prédio, mas pelo contrário, estamos cuidando. Cada um está fazendo uma benfeitoria na escola. Estamos limpando, cuidando da horta, organizando. Até uma lixeira específica para o lixo reciclável e o da horta orgânica nós criamos”, explicou Lucas Demétrio.

Além das doações de alimentos, os jovens ainda receberam uma geladeira e um fogão para manterem-se na unidade. Há uma área onde os jovens estão guardando alimentos e eles se revezam na hora de prepara-los. “Muitas pessoas de fora estão nos ajudando e nos trazem alimentos. Estamos recebendo muito apoio”, afirmou Victoria.

Apeoesp

Para Rodolfo Souza, a reorganização escolar proposta pelo Governo Estadual é um plano de fundo econômico, para ajuste fiscal e não visa a melhora educacional.

Sobra a ocupação, Rodolfo Souza diz que a entidade tem dado o respaldo jurídico aos estudantes, para que eles tenham garantido o direito de manifestação pacífica. “Tivemos 92 dias de greve e agora os estudantes e a sociedade estão debatendo esses temas que são relevantes. Nós apoiamos porque o que queremos é a construção de uma escola de qualidade”.

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O diretor da Apeoesp disse ainda que o setor tem encontrado dificuldades para conversar com a Secretaria de Estado da Educação. “Se é para ocorrer mudanças, queremos participar das discussões, sermos ouvidos. Só não vamos aceitar fechamento de salas de aula e a diminuição da oferta de matrículas”, finalizou.

Por não se tratar de dia letivo, nenhum representante da educação estadual foi encontrado pela reportagem neste sábado para comentar o assunto.

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