Especial

Dia das Mães: Nelly, uma entre milhares de mães que vivem em casas de repouso

Tamoios News
Foto - Adriana Coutinho/TN

“Filhos, visitem suas mães neste domingo, mesmo que elas não os reconheçam mais”

Por Adriana Coutinho

“Vamos fazer uma matéria sobre o Dia das Mães…o que acham dos asilos? Sobre as mães que aguardam a visita dos filhos no domingo”? E assim ficou resolvido na reunião de pauta. Num primeiro momento, para mim foi um baque. E as que não vão receber visitas? É muita tristeza, meu Deus.

Porque essas mães que hoje são vovós e bisavós, e em seus íntimos (as que ainda se lembram de algo, devido à maioria com idade avançada e doenças degenerativas) tenham um pensamento apertadinho e guardado a sete chaves – de que possivelmente não venha ninguém e não haja comemoração com a família. Mas, mesmo assim aguardam. Ficam ali, sem serem sequer lembradas – por filhos, netos ou qualquer outro ente da família. Finda o dia, que acabou como outro qualquer. Mas era o Dia das Mães.

E lá fui eu, em busca de uma história para contar, não poderia causar tristeza, entrevistar uma mãezinha que não receberia ninguém – já tinha isso em mente – seria muito sofrimento. Precisava de uma que tivesse boa memória, que a casa de repouso, autorizasse, claro – Foi a parte mais difícil, fiz contato com asilos e finalmente quando já desistia, encontrei D. Nelly, ops, Nelly! (quase apanhei chamando-a de ‘dona’) e saí de lá tão abastecida de amor, muito além do que pude imaginar. Entrei emocionada e saí depois de uma sessão com minha psicóloga! Sim, ela é psicóloga!

Enquanto a aguardava, observava as outras senhoras, todas arrumadinhas, no salão decorado com corações, pois haveria uma festinha antecipada de Dia das Mães, para que pudessem comemorar juntas, já que no domingo, as que recebem a família, sairiam para almoçar ou ficariam em visita pessoal com eles.

Vi mães de pessoas conhecidas da cidade, encontrei amigo que foi para participar também desta tarde junto com a sua progenitora, outras que olhavam além daquele momento, talvez lembrando de algo, ou nem percebendo o que estava acontecendo ali. E eu, tentando segurar a emoção.

Tenho mãe com mais de 70 anos, tenho filho, não tenho mais avós e aquela cena para os mais sensíveis, é detonador de lágrimas que disfarçamos. Mas ela notou assim que chegou.  “É, Adriana, envelhecemos muito rapidamente e ninguém está preparado para ser velho e a sociedade não sabe o que fazer; o Brasil tornou-se um país de velhos, também há muitos idosos aqui em Caraguá” disse Nelly Acuyo Myssior, 87, socióloga formada pela USP, psicóloga, pedagoga. Sua fala calma, seus passos curtos e não tão firmes, destoam de sua mente altamente ativa, refletindo uma mulher culta e intelectualizada. “Coloquei sapato só para a entrevista e este adereço para os cabelos, que me apertam a cabeça”, disse ela, assim que começamos a conversar. “Gosto de ficar mais à vontade, mas me arrumei para receber você”, disse com olhos azuis brilhando.

Foto – Adriana Coutinho/TN

Nelly morava em Ilhabela antes de vir morar no CLAM – Convívio Lazer e Amparo à Melhor Idade, em Caraguatatuba. “Estou aqui há cinco meses, conheci outras casas, mas era tudo muito formal. Aqui sinto que dá para ser uma família”. Ela conta, que com seu conhecimento e sensibilidade tem atuado dentro da instituição ajudando a fazer o acolhimento para os novos integrantes que chegam. Na casa, vivem 12 senhoras.

Ela lembra que conheceu Ilhabela logo que instalaram a balsa, veio ainda jovem, passear com uma amiga, depois encantada com a ilha, comprou um terreno e construiu uma casinha. Seu marido faleceu e ela resolveu viver no local que amou desde sempre há 12 anos atrás.  Nasceu em Porto Feliz, na área rural, filha de família simples. Cresceu, estudou em São Paulo, onde trabalhou, casou-se e foi mãe beirando os 40 anos. Aquariana, budista, mente alerta e à frente de seu tempo, mesmo com a idade avançada, discute autores e tem planos para o futuro “Sempre fui essencialmente educadora; tenho dois livros na área do ‘antigo’ Estudos Sociais, publicados pela Editora do Brasil e aguardo o lançamento de um para crianças”, conta cheia de orgulho.

Seus filhos, dois homens, casados, “vivem suas vidas, Marcelo, profissional de marketing, pai de Isabela e Luca reside em São Paulo. Já Daniel, pai de Cauê e Mary, vive em Ilhabela, é proprietário de um bar bacana, e também é formado em Marketing.

Foto – Adriana Coutinho/TN

Penso que passaria dias conversando e ouvindo suas histórias, ela parece que lê meus pensamentos e diz que adoraria que eu voltasse para conversar ‘sem entrevista’ e eu brinco que ela será a minha psicóloga, ando precisando (risos).  Mas, pergunto o que mais temo: se seus filhos virão visita-la neste domingo. “Sim, virão, tenho certeza, Marcelo deve fazer-me uma surpresa, devemos sair para almoçar todos, Daniel e os filhos”, ufa, respiro aliviada.  “Espero que as outras mães que vivem aqui também recebam a visita dos filhos”, comenta com carinho.

Enquanto terminávamos nossa conversa, ganhou um belo chapéu de laço dos colaboradores Aldo e Versi. Colocou, e toda’ faceira’ disse que adorava chapéu. “Vou usá-lo hoje na apresentação da orquestra na praça da Cultura. Você vai, Adriana”? Não, Nelly, minha adorável nova amiga, psicóloga, vou pensar na sua história e escrevê-la. Para que todos os filhos estejam com suas mães nesse domingo. Mesmo que elas não se recordem mais deles.

 

1 Comentário

  • Hoje é dia daquela que firmou parceria com Deus para ajudá-lo em sua grande obra.
    Mãe é vida, amor, luz, proteção, perdão, ensinamento…
    eu ficaria aqui até amanhã e não conseguiria descrever o que é Mãe. Enfim ela é um ser tão especial e belo que não tem descrição exata, só sei que é de valor inestimável, grandiosa e cheia de riquezas, Mãe nunca deixa de ser rica, mesmo que viva na pobreza!!!!
    Beijo e ótimo dia das mães!!!

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