Cidades Ilhabela

Festival Citronela Doc 2024 chega à sua quarta edição explorando direitos humanos, identidade cultural e desafios socioambientais

Tamoios News
Rejeito - Leonardo Mecchi

O Citronela Doc – Festival de Documentários da Ilhabela chega à sua quarta edição entre os dias 7 a 10 de novembro de 2024 e traz documentários nacionais contemporâneos que vêm sendo destaque da crítica especializada e colecionando prêmios em mostras competitivas.

Boa parte dos filmes do festival será exibida online para todo o Brasil pela plataforma Spcine Play, de 7 a 15 de novembro.

A programação é toda gratuita e acontece no Centro Histórico de Ilhabela, com 28 filmes no total. Namostra nacional são nove longas e oito curtas-metragens. E também será realizada uma mostra de filmes do Litoral Norte e Vale do Paraíba, com 11 produções.

O Citronela Doc apresenta uma programação diversificada e impactante, com filmes que exploram questões como direitos humanos, identidade cultural e os desafios socioambientais enfrentados por comunidades em todo o Brasil. Com documentários que vão desde a rica cosmologia Yanomami até a luta de mulheres em cozinhas solidárias, o festival se destaca como um espaço de reflexão e celebração das vozes marginalizadas, promovendo um diálogo essencial sobre a realidade contemporânea.

Neste ano o Citronela Doc também firmou uma parceria com a Spcine (São Paulo Cinema e Audiovisual), iniciativa da Prefeitura de São Paulo que fomenta o desenvolvimento do setor audiovisual a partir da promoção de cursos, workshops e do incentivo à produção cinematográfica.

Além de exibir os filmes de forma online e gratuita, a Spcinepromoverá, durante o festival, uma mesa de debates com Leandro Pardí, responsável por difusão na empresa, que vai falar sobre curadoria e a difusão de filmes fora da capital. Outra atividade apoiada pela instituição durante o festival será o estudo de caso do filme “Fluxo – o Filme”, de Filipe Barbosa, que faz parte da rede afirmativa da instituição. Filipe Barbosa, 28 anos, diretor do curta, falará sobre o processo de produção do filme, totalmente produzido na Cidade Tiradentes (São Paulo), bairro de origem do cineasta, que aborda a cultura funk. “Eu tinha um orçamento de mil reais e o sonho de fazer um filme”, conta ele.

O Citronela Doc também promoverá debates com a participação de diretores e personagens dos filmes, além de uma rica programação paralela, com apresentações musicais, reforçando seu compromisso com a cultura local e a diversidade. O evento também trará estandes de alimentação e artesanato local.

O festival tem uma forte preocupação em oferecer acessibilidade aos visitantes. Todos os filmes terão legenda descritiva, parte dos filmes terá tradução em libras, todos os debates terão tradução em libras e o espaço será preparado para receber pessoas com mobilidade reduzida.

Para a mostra nacional, os filmes foram selecionados pelos curadores Luciana Oliveira, Bethania Maria, Francisco Cesar Filho e Carlos Alberto Mattos (veja biografias abaixo).

 As produções selecionadas são filmes de destaque no mercado audiovisual, que estão passando por diversos festivais nacionais e internacionais.

“A Queda do Céu”, de Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha, foi produzido a partir do poderoso testemunho do xamã e líder Yanomami Davi Kopenawa e registrado no livro de mesmo nome, co-escrito por Bruce Albert. O filme acompanha o importante ritual Reahu, que mobiliza a comunidade de Watorikɨ num esforço coletivo para “segurar” o céu. Selecionado para o consagrado Festival de Cannes, o documentário faz uma contundente crítica xamânica àqueles chamados por Davi de “povo da mercadoria”, assim como ao garimpo ilegal e à mistura mortal de epidemias trazidas por forasteiros, colocando em primeiro plano a beleza da cosmologia Yanomami, os espíritos xapiri e sua força geopolítica que nos convida a sonhar longe. O filme conquistou agora em outubro o Troféu Redentor de Melhor Direção de Documentário no Festival do Rio.

 “Não Existe Almoço Grátis” acompanha três mulheres que lideram uma das Cozinhas Solidárias do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) em Sol Nascente, no DF, considerada atualmente a maior favela do Brasil. Para a posse do terceiro mandato do presidente Lula, elas foram encarregadas de cozinhar para centenas de pessoas que estiveram em Brasília para assistir à cerimônia. Com direção de Marcos Nepomuceno e Pedro Charbel, o longa venceu o prêmio do público no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

Outro destaque é “A Transformação de Canuto”, de Ariel Kuaray Ortega e Ernesto de Carvalho, que foi vencedor do prêmio de melhor filme da Competição Envision no mais importante festival internacional de documentários, o IDFA-Amsterdã, além de ter sido eleito como o melhor filme (Grand Prix Nanook-Jean Rouch) no Festival Jean Rouch, na França. O documentário se passa em uma pequena comunidade Mbyá-Guarani entre o Brasil e a Argentina, onde um filme está sendo feito para contar a história de um homem que, muitos anos atrás, sofreu a temida transformação em onça e, depois, morreu tragicamente.

Em “Hoje é o Primeiro Dia do Resto da Sua Vida”, os cineastas Bel Bechara e Sandro Serpa usam seu veículo de trabalho para registrar um processo que mudará totalmente suas vidas: a adoção de Gael, o primeiro filho do casal. Após aguardar cinco anos na fila de adoção, finalmente chegou o momento de conhecer a criança, que coincidiu com a pandemia da Covid-19. Assim, os dois se abrem com muita vulnerabilidade para a câmera em um tom confessional, com o medo da mudança e a ansiedade cultivada para a chegada de Gael.

Assinado pela dupla GG Albuquerque e Felipe Larozza, “Terror Mandelão” mergulha no universo dos bailes funks da periferia da cidade de São Paulo, revelando o som, a tecnologia e o mercado de trabalho dessa manifestação cultural. A obra traz figuras como o DJ K, um dos principais DJs do Baile do Helipa, na maior favela paulistana, Heliópolis, e seu amigo MC Zero K, mostrando os altos e baixos enfrentados pelos jovens na luta para viver da sua música.

Em “Toda Noite Estarei Lá”, Mel Rosário, 56 anos, sofre uma agressão física por transfobia, ao ser retirada da igreja evangélica que costumava frequentar. Ela protesta todas as noites em frente ao templo que a impede de participar dos cultos. Enquanto luta por seus direitos, ela encontra um modo de se reinventar e sobreviver durante a crescente onda de conservadorismo no Brasil. O longa, dirigido por Suellen Vasconcelos e Tati Franklin, foi vencedor do prêmio de melhor direção no festival Olhar de Cinema, de Curitiba, e do prêmio do público no Festival de Vitória.

A ocupação Ouvidor 63, localizada no centro da capital paulista, é retratada no longa “Ouvidor”, de Matias Borgström. Nela residem e produzem 120 artistas latino-americanos. Além de enfrentar constantes ameaças de despejo pelo Governo do Estado, os residentes também lidam com divergências internas decorrentes do patrocínio de uma famosa marca internacional de bebidas energéticas para viabilizar sua Bienal de Artes. O filme foi selecionado para o festival Olhar de Cinema, de Curitiba, para a Mostra Ecofalante de Cinema e para a 47º Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 2023.

Documentário que mostra a trajetória do importante e criativo músico brasileiro, “Luiz Melodia – No Coração do Brasil”, de Alessandra Dorgan, reúne raras imagens de arquivo e é narrado em primeira pessoa pelo próprio artista, falecido em 2017. Grande vencedor do festival In-Edit Brasil, o filme recupera a trajetória de um dos maiores e mais injustiçados cantores e compositores da música popular brasileira, da infância de menino negro no morro aos palcos.

Uma coprodução entre o Brasil e os Estados Unidos, “Rejeito”, de Pedro de Filippis, alerta para o fato de que, após os maiores rompimentos de barragens de rejeito da história, novas barragens ameaçam romper sobre milhões de pessoas em Minas Gerais. No filme, uma conselheira ambiental confronta o modus operandi do governo e mineradoras, enquanto moradores resistem em suas comunidades ameaçadas. Vencedor do prêmio de melhor direção no FICA – Festival de Cinema Ambiental, o longa conquistou o prêmio da juventude no CineEco, em Portugal, e mereceu menção especial do júri no Festival Indie Memphis, nos Estados Unidos.

Entre os curtas-metragens destaca-se “Utopia Muda”, premiado no festival É Tudo Verdade de 2024, que utiliza material colhido pelo diretor Julio Matos durante uma década sobre uma rádio livre sediada na Unicamp, em Campinas. A partir da história da Rádio Muda, a mais longeva rádio livre que desafiou o sistema, o filme discute o direito à liberdade de expressão.

Surpreende também a abordagem de “Pirenopolynda”, de Izzi Vitório, Tita Maravilha e Bruno Victor para uma festa tradicional no Centro-Oeste brasileiro. O filme foi vencedor do prêmio de melhor filme da Mostra Goiás na Goiânia Mostra Curtas e foi selecionado para o Doclisboa, um dos mais importantes festivais europeus de documentários. No filme, Tita, uma multiartista travesti, pretende reconstruir e retradicionalizar a Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis sob um viés afetivo decolonial.

Dirigido por Cíntia Lima, o curta pernambucano “Rei da Ciranda Pesada” trata da história de João Limoeiro, discípulo do cirandeiro Antônio Baracho, conhecido como o Rei Sem Coroa, que em 50 anos de carreira transformou a ciranda de engenho no ritmo que se conhece hoje em dia.

Também produção pernambucana, “O Som da Pele”, de Marcos Santos, focaliza Mestre Batman e seu projeto Batuqueiros do Silêncio, um grupo de percussão formado por surdos. Trata-se de um curta-metragem que reflete sobre a percepção do som.

Por sua vez o curta alagoano “Impedimento”, de Renata Baracho, apresenta mulheres como Charlene Araújo e Amanda Balbino, que descobriram e aprenderam a amar o futebol em sua própria força, encontrando nele não apenas uma paixão, mas também um sentimento de pertencimento.

Em “Alexandrina – Um Relâmpago”, a personagem título é uma mulher preta da Amazônia, que antes fora reduzida a objeto de estudo, esvaziada do seu vasto repertório de conhecimento e logo jogada ao limbo do suposto esquecimento, e que agora é o presente. Uma espécie de filme-transe que remete a ancestralidades femininas amazônicas em andamento não-convencional e pegada sensorial. Produção do estado do Amazonas, a obra dirigida por Keila Sankofa foi selecionada para o Ji.hlava – Festival de Documentários de Jihlava (República Tcheca).

Uma produção do Distrito Federal, “A Chuva do Caju” se passa no coração de um vale escondido nas profundezas do Brasil central. Lá, seu Alvino e dona Neuza plantam e colhem o que a terra dá, como o cajuzinho do cerrado e o baru. Após mais de dois séculos, o tempo continua passando lento no quilombo Vão de Almas, apesar da seca cada vez mais severa. Com direção de Allan Schvarberg, o curta-metragem foi vencedor de menção honrosa do Prêmio Zózimo Bulbul no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

Com reflexões sobre arquitetura afro-brasileira, preservação da tradição do candomblé e resistência, o curta-metragem “O Corpo da Terra”, da cineasta Day Rodrigues, esteve em exibição na 18ª Mostra Internazionale di Architettura: Laboratório do Futuro, no pavilhão brasileiro da Bienal Internacional de Arquitetura de Veneza. A obra traz contribuições sobre a importância do candomblé para os debates públicos frente aos cuidados com o meio ambiente e a luta contra a especulação imobiliária.

Para a mostra do Litoral Norte e Vale do Paraíba, pela primeira vez o festival abriu a oportunidade para cineastas da região  inscreverem-se. A curadoria dessa mostra é de Juliana Borges e Rodrigo Pereira (veja biografias dos curadores e sinopses dos filmes abaixo). a mostra regional se destaca por suas temáticas que vão desde a memória e a identidade cultural até imigração e a resiliência diante de tragédias socioambientais.

Além dos filmes, o festival Citronela Doc traz uma programação paralela com apresentações musicais (veja programação completa abaixo).

O festival Citronela Doc nasceu em 2021 e já se firmou como referência em cinema documental na agenda cultural anual da cidade de Ilhabela. O evento é marcado pela diversidade na produção cultural, reunindo filmes realizados em diversos estados do Brasil, por pessoas de diferentes gêneros e etnias, incluindo realizadores indígenas.

O festival tem produção de Ver Para Crer, Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo do Estado de São Paulo;  realização da Lei Paulo Gustavo, Ministério da Cultura e Governo Federal; apoio de Esporte Clube Ilhabela, DL Projeções, Salga Filmes, DBM Produções e Prefeitura Municipal de Ilhabela.

Serviço:

4º Citronela Doc – Festival de Documentários de Ilhabela
7 a 10 de novembro de 2024
Entrada gratuita

Local:

Esporte Clube Ilhabela: Av. Força Expedicionária Brasileira, 73 – Santa Teresa

 Fonte: Citronela Doc