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A máfia, de novo, atuando no Litoral Paulista

Tamoios News

A Polícia Federal cumpriu, na manhã desta segunda(8), mandados de prisão contra dois italianos, pai e filho, suspeitos de integrar o braço da máfia italiana na América do Sul, conhecido como “Ndrangheta”.

A prisão dos dois italianos, em Praia Grande, ocorre 36 anos após a detenção de um dos maiores líderes da máfia siciliana Cosa Nostra, Tommaso Buscetta, que vivia em Ilhabela, no Litoral Norte. Na ilha, Tommaso enviava cocaína e heroína aos Estados Unidos e Canadá. Leia texto abaixo.

Ndrangheta

O grupo mafioso “Ndrangheta”, com origem na região da Calábria, no sul de Itália, controlaria 40% dos envios globais de cocaína, representando o principal esquema criminoso importador para a Europa. Eles estavam foragidos desde 2014, com passagens por Portugal e Argentina.

Um dos presos já tem condenação por tráfico e associação para tráfico de drogas na Itália (com pena fixada em 14 anos de prisão). Eles ocupavam ao menos três apartamentos na cobertura de prédio de alto padrão na Praia Grande, litoral paulista.

A polícia encontrou com os suspeitos duas pistolas, dinheiro em espécie e veículos. Os mandados foram expedidos pelo Supremo Tribunal Federal, a pedido da Representação da Polícia Federal junto à Interpol, em cooperação com o Escritório da Direção Central para os Serviços Antidrogas, da Itália no Brasil.

Cosa Nostra

Buscetta em uma de suas prisões. Fotos: Anti-Máfia.Org.

 

Ilhabela já foi o berço da máfia no Brasil. Foi na ilha, que se escondeu na década de 80, o famoso mafioso Tommaso Buscetta, o Dom Masino, um dos mais influentes líderes da máfia siciliana.

Na ilha, na época, um recanto turístico pacato e tranquilo, Buscetta instalou a “Conexão Ilha Bela”. Ele trazia drogas (cocaína e heroína) por atacado do porto de Marselha, na França, para levar para os Estados Unidos e o Canadá.

Tommaso Buscetta passou despercebido pela ilha. A maioria das pessoas que conviveram com ele, desconhecia o seu passado e a sua função na máfia. Tommaso, que usava o nome de Tomas Roberto Felice, era conhecido como “Toninho” ou “Toni”, um italiano que circulava pela ilha, em uma moto e utilizava como seu escritório de negócios, um bar e um restaurante a beira mar.

Quando não estava “trabalhando” podia ser encontrado nas mesas, do então badalado  Restaurante Siriúba, point da sociedade paulistana nos fins de semana e férias de verão. O mafioso operava o contrabando de cocaína e heroína para os Estados Unidos, através de embarcações, que atracavam no porto de São Sebastião e, também, em aeronaves que pousavam, durante a noite, no pequeno aeroporto de terra batida que existia na ilha.

Nas horas de folga, Tommaso gostava de velejar. Só após a sua prisão é que os moradores e autoridades de Ilhabela souberam que o “turista italiano” era na verdade Dom Masino, um dos maiores mafiosos do mundo.

O mafioso foi o principal suspeito da morte do dono de uma pousada em Ilhabela, em 1972, mas sequer chegou a ser investigado na época. Mesmo morando na ilha, Tommaso viajava até São Paulo e ao Rio de Janeiro, constantemente.

Frequentava os mais badalados bares, restaurantes e boates. Ele adorava o Brasil. Comentaria mais tarde com os amigos, que por aqui, teria passado os anos mais felizes de sua vida.

Em 1972 foi preso e extraditado. Condenado há 14 anos, cumpriu parte da pena e retornou ao Brasil, em 80, para comandar o contrabando de drogas a partir de Ilhabela.

Casou com a brasileira Maria Cristina Guimarães. Tommaso Buscetta conheceu a brasileira no Rio de Janeiro, na Praia de Copacabana. Tommaso usava na época o nome de Tomas Roberto Felice, e se passava como um investidor italiano no país. Casaram pouco tempo depois, quando ele cumpria pena em uma prisão de Palermo, na Itália.

Liberado, acabou sendo preso novamente no Brasil, por tráfico de heroína, no Rio de Janeiro, quando velejava na praia da Cabeçuda, em Itajaí. Teria pago propina e fugiu. Logo depois, foi preso em São Paulo, em 1983, pelo delegado federal Romeu Tuma.

Ele foi preso quando descia de um carro, em frente ao local onde estava hospedado,  no bairro do Itaim Bibi. Consta que, Romeu Tuma, assim como os moradores de Ilhabela, não tinha a menor ideia da importância de Buscetta, quando ele foi preso em São Paulo.

Maria Cristina, uma espécie de conselheira de Tommaso, fez com que o mafioso, colaborasse com a Justiça italiana. Ganharam proteção e foram para os EUA, onde o italiano entregou à justiça norte-americana os principais mafiosos que agiam no país.

Permaneceu nos EUA, sob proteção do FBI, até morrer de câncer, aos 71 anos, em Nova Iorque, no dia 4 de abril de 2000.

Filme

A história de Tommaso Buscetta virou filme e faz muito sucesso. O filme “O Traidor”, de Marco Bellocchio, venceu sete estatuetas na edição 2019 do Nastro d’Argento, uma das principais premiações do cinema italiano, incluindo melhor filme, direção e ator protagonista, com Pierfrancesco Favino.

O filme é uma coprodução entre Itália e Brasil havia sido indicada em 11 categorias e conta a história do mafioso Tommaso Buscetta (Favino), primeiro grande delator da Cosa Nostra.

O filme também conquistou os prêmios de melhor roteiro, montagem, trilha sonora e ator coadjuvante, com Luigi Lo Cascio e Fabrizio Ferracane. O prêmio é concedido pelo Sindicato Nacional dos Jornalistas Cinematográficos Italianos (SNGCI), e a cerimônia aconteceu no antigo teatro grego de Taormina.

O filme teve locações na Itália, França e Brasil. No Brasil, as filmagens foram feitas no Rio de Janeiro. Não houve gravações em Ilhabela.

Buscetta (1928-2000) era chefe do clã Porta Nuova e fugiu para o Brasil duas vezes para escapar da guerra deflagrada pelos Corleone pelo controle da máfia na Sicília. Em sua segunda extradição, decidiu colaborar com a Justiça, convencido pela sua terceira esposa, Maria Cristina de Almeida Guimarães, interpretada no filme por Maria Fernanda Cândido.   Com Agência Brasil e Anti-Máfia.Org.