Ilhabela Manifestação

Manifestação exige ações contra o racismo em colégio na Ilhabela

Tamoios News
Manifestantes em frente ao Colégio São João, no Perequê, na Ilhabela Foto: Simone Rocha

Participaram pais e representantes de diversos movimentos de combate ao racismo e violência contra a mulher

Por Simone Rocha

Na semana passada um vídeo viralizou na internet, onde um pai de aluno do colégio São João, no bairro Perequê na Ilhabela, discute, de maneira bem exaltada com um grupo de alunos e uma professora. O motivo seria a respeito de uma denúncia de racismo praticada pelo filho dele, que em um comentário numa rede social comparou o cabelo de uma aluna aos pelos pubianos. A escola publicou uma nota de repúdio lamentando qualquer tipo de violência física ou verbal.

Os pais e representantes de movimentos apoiadores de diversos segmentos, como combate ao racismo, violência contra a mulher, entre outros, organizaram nesta segunda-feira (16), uma manifestação em frente ao colégio, para cobrar da escola atitudes para combater essa prática.

Carolina Gui, que tem dois filhos adotivos, de 8 e 14 anos que estudam no local, disse que já teve oito episódios de racismo no colégio São João. “Sempre que fico sabendo que eles são alvo de preconceito. Eu procuro a direção da escola, mas percebo que muito pouco ou quase nada é feito para coibir esse tipo de comportamento”, lamenta Carolina. “Já cheguei a ouvir da direção anterior, que se eu não estivesse satisfeita, que tirasse meus filhos da escola”, lembra.

Eloiza Lourenço já chegou a mudar a filha de escola devido ao racismo      Foto: Simone Rocha

Eloiza Lourenço disse que já mudou a filha de escola por causa do racismo. “Hoje me arrependo de ter tomado essa atitude, porque isso não resolveu o problema. Temos que lutar para combater esse mal e não fugir dele, pois ela continua sofrendo com o preconceito no atual colégio”, reflete.

A médica ginecologista e obstetra Janete Martinez Peres, que tem uma filha no colégio São João desde os três anos, agora com 17, disse que mesmo não sendo negra, a filha já passou por situações complicadas. “Quando ela tinha cinco anos chegou em casa com uma nota de R$10 reais. Perguntamos como ela conseguiu aquele dinheiro, ela disse que um amiguinho deu em troca de um lugar melhor na fila de um brinquedo. Procuramos a escola e devolvemos o dinheiro ao amiguinho dela e dissemos que dinheiro serve para comprar determinados objetos, não um lugar na fila, isso ele poderia ter pedido a amiguinha”, lembrou a médica.

A funcionária pública, Vitória Leal, que participa do Coletivo Negro Odu, um grupo que atua na Ilhabela desde o assassinato da vereadora Marielle Franco, do Rio de Janeiro, afirma que o arquipélago tem um apartheid social gigante. “Existem espaços aqui que são claramente destinados aos brancos, onde nem negros com poder aquisitivo alto frequentam, devido ao racismo vir em primeiro lugar que o dinheiro”, afirma Vitória.

Alguns adolescentes que acompanharam o protesto pacífico disseram que o aluno envolvido na denúncia de racismo costuma intimidar a todos e que não foi a primeira vez que ele pratica racismo ou bullying. Segundo relatos, os alunos e até muitos pais tem medo dele, devido à forma agressiva e preconceituosa que age.

Nino Assis, da Associação Movimento Afrodescendentes da Ilhabela, foi um dos que discursaram em frente ao colégio. “Nota de repúdio não é suficiente. Alunos e professores vêm sofrendo com o preconceito neste local. Não vamos silenciar. Não só pelos atos praticados no colégio São João, mas por todas as escolas da Ilhabela, sabemos que a responsabilidade maior é dos pais e responsáveis, mas a escola tem papel fundamental em adotar medidas contra o racismo e demais preconceitos”, disse Nino.

Os coordenadores Pedro e Claudia, representaram a escola e afirmaram que o colégio está aberto ao diálogo      Foto: Simone Rocha

O coordenador pedagógico do Fundamental II, Pedro Mancini, acompanhou a manifestação e conversou com os pais. “Dentro de sala de aula abordamos sempre esses temas. Em nome da direção da escola quero dizer que estamos dispostos a ouvir os pais e pensarmos juntos em ações para coibir ainda mais atitudes racistas”, avisou. Claudia Fettback, coordenadora do Fundamental I, trabalha há 21 anos no São João e disse que ficou impressionada com o protesto. “Vocês estão dando uma aula de cidadania hoje, indo muito além de tudo o que procuramos ensinar em sala de aula. Parabéns aos pais e organizadores dessa manifestação. A escola está disposta a ouvi-los e reinventar o modo de tratar o assunto”, afirmou.

Uma comissão formada por quatro pais que estavam na manifestação foi conversar com a direção da escola. “Minha filha estuda aqui, como mãe e representante do Conselho da Mulher Negra de São Sebastião manifesto meu apoio à escola, seja em palestras ou outras ações contra o racismo, ” informou Shirlei Rodrigues. O Conselho Municipal dos Direitos da Mulher da Ilhabela, representada por Thaís Vassoler, disse que está à disposição, não só do Colégio São João, mas de qualquer escola que tenha o interesse de combater as diversas formas de preconceito.

O Coletivo Negro Odu realiza na cidade ações como o Cine Tela Negra, todo último domingo do mês, às 17h, na ONG Pés no Chão, no bairro Barra Velha, onde depois da exibição do filme com temática sobre diversos temas, é realizada uma roda de conversa. E no segundo domingo do mês, às 17h, na praça Elvira Storace, tem a escola de “afrobetização” para abordar assuntos contra o racismo e contar um pouco da história dos negros da Ilhabela e do Brasil.