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Aldeias do Litoral Norte se reúnem em ato no Dia Internacional dos Povos Indígenas

Tamoios News
Foto: Renata Takahashi

Nesta terça-feira, dia 9 de agosto, data em que se comemora o Dia Internacional dos Povos Indígenas, representantes de todas as aldeias do Litoral Norte de São Paulo se reuniram em um ato que foi realizado em Ubatuba.

A concentração começou por volta das 11 horas da manhã na rotatória do entroncamento entre as rodovias Rio-Santos (BR-101) e Oswaldo Cruz (SP-125), espaço conhecido como “Trevo do Caiçara” por causa da estátua do pescador. De lá, a passeata seguiu pela avenida Thomaz Galhardo até a avenida Iperoig.

Durante o ato, indígenas e apoiadores cantaram músicas tradicionais, utilizaram microfone e caixa de som para discursar, entoaram gritos de protesto e exibiram cartazes manifestando suas principais reivindicações.

As faixas exibiam frases como: “Não ao marco temporal”, “Não ao PL 490”, “Luta pela vida”, “Luta pelo meio ambiente”, “Demarcação já”, “Fora Bolsonaro” e “Fora Marcelo Xavier” (atual presidente da Funai).

O cacique da aldeia Boa Vista, Marcos Tupã, explicou que o ato reuniu representantes das aldeias Yakã Porã, Jaexaá Porã, Akarai e Ywyty Guaçu (de Ubatuba), além dos indígenas da aldeia Rio Silveira (na divisa de Bertioga e São Sebastião).

“Somos contra o desmonte da Funai, contra a mineração em terras indígenas. Somos povos originários, queremos que nossos direitos e nossas terras sejam respeitados. Não aceitamos o Projeto de Lei 490/07 que mexe no Estatuto do Índio e propõe transferir do Poder Executivo para o Legislativo a competência para realizar demarcações de terras indígenas. Também estamos preocupados com as ameaças de revisão de terras já demarcadas”, disse Tupã.

O cacique também criticou o atual presidente da Funai. “Esse Marcelo Xavier é um perseguidor das lideranças indígenas e das ONGs que lutam com a gente pela demarcação das terras. Ele defende a tese do marco temporal, que prevê que só devam ser demarcadas as terras ocupadas pelos povos indígenas até a data da promulgação da Constituição, em 5 de outubro de 1988. No entanto, muitos indígenas foram expulsos de seus territórios. Então nós exigimos a saída desse presidente da Funai, que usa a máquina contra nós.”

Liderança da aldeia Boa Vista, Luiza Kerexu lembrou a importância da presença dos povos indígenas no Litoral Norte. “Estamos aqui para mostrar a força dos povos tradicionais e reivindicar nossos direitos. A gente luta pelo bem, pela vida, contra a destruição da natureza, sempre defendendo nosso planeta. As pessoas precisam olhar pro futuro, cuidar da natureza, essa é a nossa mensagem. Não estamos aqui a favor de nenhum político. É pelo Dia Internacional dos Povos Indígenas.”

O Cacique Adolfo Timóteo, da aldeia Rio Silveira, viajou para Ubatuba para marcar presença no ato. “Nos juntamos com as várias lideranças do Litoral Norte, viemos aqui em Ubatuba para mostrar que existimos e resistimos, continuamos na luta pela demarcação de terra, educação, melhor atendimento na saúde. Mostrar que estamos lutando pelos nossos direitos.”

Timóteo discursou na língua Guarani e explicou à reportagem que a fala foi sobre sua trajetória na luta pelos direitos indígenas. Ele quis inspirar os mais jovens mostrando que uma liderança se constrói acumulando experiências e desafios. “Aprendi com outros líderes, outros pajés que não estão mais entre nós, estive na votação da Constituição de 1988, já fui muito a Brasília, participei de conselho, defendi a educação indígena, a formação da juventude Guarani, estou na liderança da Rio Silveira há mais de 30 anos. Isso que eu estava explicando pros jovens, um dia não vou estar mais aqui e eles serão as futuras lideranças”, contou o cacique.

“O governo brasileiro tem que aprender a respeitar os direitos originários dos povos indígenas. Somos contra o marco temporal, estamos aqui antes da colonização. E estamos nos articulando fortemente para ter mais representação política”, afirmou.

Por Renata Takahashi / Portal Tamoios News