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O “Velho Lobo do Mar” de São Sebastião

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Ronaldo Kotscho
Ronaldo Kotscho

O caiçara Silas,73, e seu barco

Por Ronaldo Kotscho

Um jornalista sabe que pode encontrar uma boa história em qualquer esquina, em qualquer cidade, basta saber olhar. Foi o que aconteceu comigo, e quero compartilhar com os leitores do Portal Tamoios News.

Logo que entrei na Alameda Santana, indo na direção da praia, avistei um esqueleto de uma embarcação e um senhor martelando na sua estrutura. O cenário era maravilhoso, e acontecia debaixo de uma árvore muito conhecida no nosso litoral e que se chama Chapéu de Sol, que faz uma sombra maravilhosa tendo como fundo o Canal de São Sebastião.

Não tive dúvida: saquei da minha máquina fotográfica e obtive fotos maravilhosas. Logo imaginei a história que este senhor tinha para contar, mas resolvi aguardar e acompanhar a construção daquele barco. Eu sabia que deveria esperar um tempo até que o barco estivesse quase pronto para ir ao mar. Boas histórias só se completam assim.

Foram quatro anos de espera, mas que valeram à pena.

Silas Gonçalves da Costa, 73 anos, caiçara de Ilhabela e atualmente morador de São Sebastião, nos recebeu numa tarde ensolarada para contar a sua história, quase deitado em seu barco. E, como não podia deixar de ser, martelando. Silas nos contou que começou a trabalhar aos 14 anos ajudando o pai; logo depois foi trabalhar numa serralheria em São Sebastião até a idade adulta, quando mudou de cidade, indo para Santos trabalhar na antiga empresa de ônibus e bondes chamada CMTC. Ficou por lá até se aposentar, voltando novamente para o nosso litoral.

Enquanto estava em Santos, comprou um terreno e construiu uma “meia água” para ajudar a mãe que não tinha moradia. Com o tempo foi aumentando a casa onde mora atualmente.

E o barco? Como ele foi entrar nessa história?

Na empresa de ônibus, o nosso personagem era motorista e enquanto dirigia ao longo das praias de Santos, via o mar e sonhava. “Um dia ainda vou ter o meu barco e levar passageiros, não para o trabalho, mas para passear, pescar e curtir a vida”. Ao voltar para São Sebastião teve que se preocupar em ajudar o filho que não conseguia emprego na cidade.

Teve então uma ideia, unindo o sonho com a realidade de ajudar o filho. Foi à luta comprando um barco usado devido à falta de dinheiro para investir alto com o pequeno salário de aposentado. A pequena embarcação só se prestava à pesca de camarões no canal, mas ajudou o filho a se sustentar por um bom tempo. Mas o velho barco não resistiu, vindo a naufragar perto da costa. Com muito custo conseguiram salvar algumas partes, levando os “pedaços” onde hoje se encontra a nova embarcação.

Finalmente o sonho virou realidade.

Dias após o naufrágio, o filho conseguiu um bom emprego na Petrobras, e com os pedaços que foram salvos, o pai teve a ideia de construir uma nova embarcação.

Acompanhei por longos quatro anos a determinação deste caiçara aposentado que, com apoio financeiro do filho, que ajudava quando podia, nunca desistiu do projeto. Faltam apenas alguns acabamentos e ajustes para que o barco possa navegar, e para que Silas se torne o “novo” velho Lobo do Mar.

259 m barco matéria 6

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