São Sebastião

Centro Comunitário Santa Maria Eufrásia ajuda moradores de rua em São Sebastião

Tamoios News
Ivânio de Abreu

Ivânio de Abreu

O projeto é independente e conta com apoio de 30 voluntários para se manter. Os moradores de rua participam de missas, tomam banho e jantam na sede do projeto

Por Rafael César, de São Sebastião

 

Cerca de 50 moradores de rua de São Sebastião e também de outros municípios, além de andarilhos, recebem amparo no Centro Comunitário Santa Maria Eufrásia. O projeto promove missas, disponibiliza banheiros para as pessoas em condição de rua, roupas e realiza um jantar. A mobilização acontece todas as segundas e terças-feiras, às 18h.

“Desde 1985, quando a campanha da fraternidade era astúcia em Jesus formou-se um grupo de voluntários que começou a dar uma atenção especial para essa causa. A iniciativa veio através de uma passagem do evangelho de que Deus veio para ajudar os mais necessitados e nós seguimos o conselho dele”, explicou a freira Ana Maria Geralda Resende, umas das responsáveis pelo Centro Comunitário.

Existem mais trabalhos sendo feitos no local, contou a freira, como por exemplo, um grupo de maracatu que se apresenta às sextas-feiras, a pastoral da mulher que dá apoio às mulheres que sofrem agressão e as que se prostituem, além de outro trabalho com moradores de rua feito pela Igreja Adventista.

São cerca de 30 voluntários que se organizam para dividir os trabalhos e manterem o projeto funcionando. Rosane Mateus Prado é voluntária, há dois anos, e diz que fazer parte de um projeto como esse é mais do que gratificante. Ela afirma que a visão de vida dela mudou, após o marido e ela começarem a ajudar na ação.

“Às vezes, damos muito valor a bens materiais e a rótulos criados pela sociedade. Quando nós começamos a participar e a observar uma ação como essa tudo muda, pois a partir daí enxergamos com outros olhos aquilo que realmente tem valor. O que não tem valor nenhum para você pode ter um valor enorme para pessoas que não têm nada”, comentou a voluntária, com os olhos cheios de lágrimas.

O semblante dos moradores de rua que aparecem no local costuma mudar, afirma a irmã Ana. “Nós não aceitamos que eles cheguem bêbados ou drogados, porque pode causar algazarras e eles precisam estar bem para ler versos da bíblia. Eles chegam sujos e com aspecto de sofrimento, porém, após tomarem banho, trocarem de roupa, rezar e comerem todos saem muitos felizes e melhores”, complementa.

O morador de rua, Fábio Henrique Monteiro, 43, mais conhecido como Cebola, acha a atitude do grupo de voluntários incrível. “As ‘tias’ nos ajudam muito, sempre venho aqui no Centro Comunitário. Sou de São Sebastião e tenho problemas com a minha esposa que é viciada não consigo ficar em casa e ver ela em péssimas condições. Tenho que vim para rua” completou.

Segundo a irmã, o município deveria ter uma estrutura melhor em relação aos serviços de assistência social. “Não existe um abrigo que eles possam dormir e serem incentivados a trabalhar, muitos deles têm uma profissão, mas estão marginalizados e não conseguem emprego. Já apareceu poliglotas, graduados e intelectuais que são moradores de rua. Algo aconteceu para eles estarem na sarjeta e podemos resgatá-los”, argumentou.

O projeto depende de doações e aceita qualquer tipo de ajuda. A reportagem do Portal Tamoios News acompanhou os trabalhos no projeto nesta semana e conversou com uma doadora que não quis se identificar. Ela diz que arrecadou alimentos como presentes de aniversário de sua filha. O Centro Comunitário fica na esquina da Rua Amazonas, no Centro. Quem quiser doar ou ser voluntário, basta comparecer no local.

Guarda Municipal e os moradores de rua

“Recebemos chamadas diariamente de munícipes reclamando das atitudes dos moradores de rua e andarilhos. Muitos se posicionam estrategicamente em frente comércios para pedir dinheiro, outros cobram para tomar conta de carros na rua, ato que não é permitido pela Lei Orgânica Municipal, além de formarem aglomerados em praças e outros públicos para se embriagarem”, relatou o comandante da Guarda Civil Municipal (GCM) Edson Rosalvo da Silva.

Para o comandante, a maioria dos moradores querem continuar vivendo nas ruas e se negam a ser ajudados. Nas abordagens da GCM, o comandante conta que os inspetores instruem os guardas a dar um direcionamento a todos que moram nas ruas.

“As primeiras abordagens a essas pessoas são conduzidas de uma única forma com a tentativa de amparar. Procuramos saber a origem daquele morador de rua, o por que dele estar nessa vida e ter vindo para a cidade, qual é a necessidade e a prioridade no momento para ele. Trabalhamos com outros órgãos como, o CREAS, a Setradh (Secretária de Trabalho e Desenvolvimento Humano) e a assistência social”, salientou o comandante.

Alguns moradores de rua reclamam que sofrem represálias em abordagens feitas pela GCM. Um deles é Marcos Antônio da Silva Baldo, 51, conhecido como Marquinhos Caiçara, que está nas ruas há dois anos e nasceu em Ilhabela. 

“Já tomei muito pontapé sem razão. A PM (Polícia Militar) não costuma nos enquadrar tanto que nem a GCM. Não estou na rua, porque eu quero. As consequências da vida me trouxeram a essa situação”, contou o morador de rua chorando.

O comandante afirma que não existe agressão ou uso abusivo da força em casos que não tem  necessidade. “As abordagens são feitas de maneiras normais, sabemos que estamos lidando com seres humanos e temos que agir como tais. Na realidade quase ninguém gosta de ser abordado. Jamais incentivamos nenhuma forma de truculência. A GCM tende a passar a seus membros a conscientização do uso progressivo da força, não existe um perfil violento em nossos guardas”, concretizou.

Já a Setradh fez campanhas orientando os munícipes a não dar alimentos, dinheiro e agasalhos diretamente para os moradores de rua e sugere que os encaminhem ao setor.

“Temos que ir além, não adianta nada ajudar naquela hora e depois eles continuarem na mesma situação. Com a ajuda dos órgãos públicos o futuro dessas pessoas pode melhorar e é o que queremos. O número de moradores costuma aumentar na temporada de verão e acaba sendo relativo durante o meio do ano, mas no momento percebemos um aumento de moradores”, disse Edson.

Para o munícipe e supervisor de tubulações Jair Pérez Cardoso, onde ele passa percebe a presença de moradores de rua pela cidade. “Os moradores estão por toda a cidade, nunca vi desse jeito. Eles não me incomodam e não costumam pedir nas para mim não sei porquê. Mas é uma situação difícil e tínhamos que saber lidar, pois se ajudamos incentivamos eles a viverem essa vida e se não ajudamos é capaz deles seguirem o caminho do crime”, disse.

O comandante afirma que as pessoas que precisarem de ajuda ou quiserem registrar algum tipo de ocorrência, basta ligar para o 153, 199 ou 190. Ele relata que muitos bairros da Costa Sul como Maresias, Boiçucanga e Juquehy também são um dos líderes de ocorrências nesse segmento.

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