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Dra. Luciana à frente da UTI covid-19 relata que foi um momento muito difícil, mas enfrentou por amor a profissão e ao próximo

Tamoios News
Dra. Luciana Corrêa

Como homenagem ao Dia Internacional das Mulheres, o Tamoios News vai contar como a médica Luciana Rocha de Paula Corrêa, de 40 anos, lidou ao ter que trabalhar no combate à doença.

Formada em medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora, em Minas Gerais (MG) e pós-graduada em dermatologia pela Faculdade de Ciências Médicas de MG, ela atua como clínica geral, concursada pela prefeitura de São Sebastião desde 2008, época que mudou para a cidade.

“Há um ano começamos a nos preocupar com o vírus que atingia os outros países e por um momento chegamos a pensar que estaríamos imunes a pandemia, mas não, ela chegou, tivemos que mudar nossas rotinas e nos reinventarmos”.

“Quando a pandemia começou aqui no Brasil tivemos que nos organizar para abrir as UTI´s (Unidade de Terapia Intensiva) especializadas. O Hospital de São Sebastião tem um corpo clínico muito bom, mas com vários profissionais que faziam parte do grupo de risco. Eu tomei a frente para não expor essas pessoas. O responsável pela UTI, Felix Plastino, tem mais de 60 anos e era do grupo de risco. Eu resolvi que faria isso pela população, pela equipe do hospital, pelo corpo clínico e claro pela minha família, caso eles precisassem, porque eu queria que todos tivessem o melhor tratamento”, conta Luciana.

Na ocasião, a médica teve o apoio de Felix para montar a equipe. “Enquanto eu estive a frente eu acompanhei o trabalho todos os dias, desde que a UTI abriu, dia 6 de abril de 2020”, relembra.

Ela explica que foi muito difícil no começo da quarentena. “Pensei que ia morrer. A questão da paramentação e desparamentação, de ficar no plantão de 12 horas com toda aquela paramentação. Quando tinha os picos com número altos de casos, a gente não conseguia sair pra fazer xixi, às vezes fazia na calça, tinha que almoçar correndo, além de ter que ficar com a máscara no rosto o tempo inteiro. Meu marido era coordenador do serviço de fisioterapia e eu pedi que não entrasse na UTI, porque eu tenho dois filhos e eu não queria que eles ficassem sozinhos. Foi um momento muito difícil, eu fiz por amor à profissão, por querer ajudar o próximo”, reflete.

Na foto, dra Luciana, dra. Laís e as técnicas de enfermagem, Juliana e Maria Inês.

A médica conta que o cansaço não era somente físico. “Como é uma doença nova a gente tinha que ler a respeito. O primeiro mês foi muito intenso porque tinha nosso medo e junto tinha a necessidade de estudar o tempo todo, então era uma sobrecarga física e intelectual e psicológica”, lembra.

Enquanto esteve à frente da equipe, Luciana conta que três profissionais ficaram doentes e tiveram que ser afastados. “Enfrentamos as dificuldades juntos. Eu passava quase todos os dias ao telefone, orientando, perguntando e acompanhando todos os casos. Me lembro de cada um dos pacientes, dos óbitos e da felicidade da equipe quando conseguíamos salvar algum paciente. Isso ficou muito marcado”, emociona-se.

Luciana não está mais na equipe, segundo ela, por questões políticas. “Não me tiraram por competência técnica, nem pela dedicação, porque todo mundo que me conhece sabe que quando eu entro eu entro de corpo e alma. Para mim foi uma experiência maravilhosa”, afirma. Emocionada, ela conta que aprendeu que é muito mais capaz do que imaginava. “Vi que além de mim tem muita gente que está nessa profissão por amor, porque não sou só eu, tem muita enfermeira, muito fisioterapeuta, muito colega que se dedicou, não só pelo dinheiro, mas pelo amor à profissão”, analisa. “Isso tudo eu fiz por carinho, assim como tinha a escolha de entrar lá ou não. Eu escolhi entrar”, assume.

Luciana não coordena mais a UTI especializada de Covid-19. “Atualmente estou só na clínica médica do Hospital das Clínicas de São Sebastião. Trabalho também no Hospital Regional e no SAMU, onde sou coordenadora médica”, relata.

Casada desde 2009, com o fisioterapeuta respiratório, Thiago Richiter Cecilio, eles têm dois filhos, Gabriel, de 10 anos, e Clara, de 7. “Na minha casa também mora a minha mãe, que tem 83 anos e está comigo há sete anos e a minha mãe de criação, que é a babá que me criou, que tá com a gente há 45 anos, que eu trouxe pra morar comigo, sem contar os seis cachorros, gato e papagaio”, diverte-se Luciana, que mesmo com tanta responsabilidade enfrenta a vida com bom humor e leveza.