A história de jovens, idosos e famílias inteiras que não podem tomar a vacina
Por Leonardo Rodrigues
Ler notícias de óbitos suspeitos de febre amarela e não poder se proteger. Ver mãe, pai e filho em risco e não poder fazer nada. É assim a situação daqueles que não podem tomar a vacina contra a febre amarela, por recomendação médica. A reportagem foi atrás daqueles que diante do avanço da doença na região não tem muitas opções.
Isabela Cristina, de 18 anos, é uma das que não podem tomar vacina. Ela está amamentando Havi Gabriel, de 3 meses. “O médico disse que até 1 ano não podemos tomar a vacina”.
A jovem mãe afirma que ao contrário daqueles que tem medo de tomar a vacina, o receio é por não existir muitas opções para o cuidado dela, e do bebê. “Repelente sempre. É o único jeito. Dá medo um pouquinho, temos que ter todo cuidado”, comenta enquanto lhe resta apenas esperar até o pequeno Havi não mamar mais no peito.
A vacina não é recomendada para mulheres que amamentam, bebês menores de nove meses, gestantes, pessoas com câncer, em quimioterapia, radioterapia ou transplantados; pacientes utilizando corticoide, com baixa imunidade ou com alergia grave a ovo. Exceções para pessoas nestas condições que necessitem viajar para áreas endêmicas.
A família Hajjar, em Maresias, na Costa Sul de São Sebastião, é outro exemplo. Elizabeth Hajjar, de 61 anos, conta que trata de câncer nos ossos. “Sou oncológica”, afirma ao relatar ainda que em outubro, retirou metástase de câncer de mama.
A mãe de Beth, Terezinha Campos, com 84 anos, tem pressão alta. “Já pensei em tirar minha mãe daqui”, fala ao contar da recusa da mãe, e que o clima no Litoral Norte seria melhor. A família mora em Maresias há 28 anos, mas já frequenta a região há 50.
O marido, Rubens Hajjar, com 59 anos, sofre com diabetes severa. Os médicos também não recomendam a vacina, já que em novembro, Rubens passou por uma cirurgia vascular.
Branco – Beth conta que médicos de São José dos Campos, que cuidam da família, avaliam como preocupante a situação. “Eles pedem repelente 24 horas, protector nas tomadas, telas em todas as janelas, mosquiteiros nas camas, e rezar para Deus”, conta.
Segundo ela, a família usa apenas roupas brancas por orientação médica. “Uma médica me disse que roupas brancas afasta os mosquitos. Eles não gostam de branco”, comenta.
Beth queixa-se que ultimamente há muitos pernilongos em Maresias. Segundo ela, tanto em casa, quanto em seu trabalho, o receio sempre é por conta do aumento do número de mosquitos. “Sigo as recomendações à risca. Sabemos que estamos em uma situação vulnerável”, reconhece ao falar que trabalha em um restaurante pé na areia.
Ela cita que há muitos terrenos baldios e que apesar de lei municipal para que os proprietários limpem seus terrenos, o mato tem atraído diversos bichos, como também mosquitos. “Tem muitos pernilongos em Maresias. São muitos os terrenos cheio de mato”.
Caiçara – Silvio Bras, 45 anos, teve hepatite após realizar cirurgia bariátrica. Situação essa que o leva a tomar remédios fortes. “Já não tenho mais hepatite, a carga viral deu negativa, mas os remédios que tomo podem reagir ao vírus vivo que tem presente nas vacinas”, explica a recomendação do médico para que não tome a vacina.
Os pais de Silvio, com 75 e 70 anos respectivamente, se encontram em situação semelhante. “Eles também não podem tomar a vacina já que tem problemas cardíacos”.
Silvio sabe que não há muitas alternativas. As únicas recomendações que ouviu foi para passar repelente e evitar lugares de risco. A família mora em Barra do Una, também na região sul sebastianense. “Ficamos com medo, mas fazer o quê?”.
Questionado se já pensou em ir embora, ou mudar os pais para outra localidade, Silvio é objetivo: “Nem cogitamos isso. Nossa família é caiçara. Somos daqui”, afirma.
Contudo, o desejo de uns para se vacinarem é o descarte de outros. Apesar das prefeituras promoverem mutirões de vacinação, também se deparam com certa resistência de alguns que optam por não se vacinar. Prova disso é que até o momento nenhuma cidade da região, conseguiu ainda atingir 80% da população.
2 conselhos – Aos que não podem tomar a vacina, a médica e diretora técnica do Hospital de Clínicas de São Sebastião (HCSS), Luciana Rocha de Paula Corrêa comenta que não há muitos conselhos.
Para quem mora próximo à mata, a médica ressalta o uso constante de repelente. E apesar da região ser de praia, Luciana afirma que o ideal são calças e blusas de manga comprida.
Quanto a vitaminas, ervas e chás para repelir o mosquito, a médica diz que não há nada comprovado cientificamente.