“Seu Ramalho”, como é mais conhecido no bairro, trabalha há 16 anos nesta função e pretende continuar na ativa por vários anos
Por Rafael César, de São Sebastião
O nordestino Ramalho Antero Porto, 68, mais conhecido como “Seu Ramalho”, desenvolve uma função considerada pesada para muitos. Ele e mais três funcionários da Somar (Associação Amigos da Praia de Maresias) são responsáveis pela limpeza dos cinco quilômetros de perímetro da praia, do bairro de Maresias (Costa Sul de São Sebastião).
Morando em Maresias há quase 20 anos e pai de sete filhos, Seu Ramalho afirma que nunca foi mais feliz na vida, com um salário de R$ 990 e alguns benefícios. Ele lembra da época em que trabalhava em sítios, na sua cidade natal Esperança (localizada no agreste paraibano, a 159 km da capital João Pessoa), ganhava em média cinco reais por dia.
“Trabalhei em colheita de feijão, milho e outros grãos. Além disso, quando cheguei no Litoral Norte Paulista, eu fiz alguns extras como servente de pedreiro. Minha saúde não estava boa e precisava arrumar uma outra profissão. Comecei a correr atrás e foi quando surgiu a oportunidade de entrar neste emprego, que me orgulho demais de ter conquistado”, relatou Ramalho.
Nestes 16 anos na areia da praia de Maresias, o auxiliar de limpeza já encontrou muitas coisas incomuns abandonadas na praia, porém, o que mais o incomoda é quando encontra animais marinhos mortos pelo caminho. Ele diz que nestes casos sempre acionam os bombeiros ou a Polícia Florestal para retirar o bicho.
De acordo com Seu Ramalho, os banhistas locais e veranistas tem uma participação na sujeira deixada na praia, no entanto, não só os veranistas como o própria natureza contribui para o trabalho do catador. “O mar traz muitos troncos, o vento traz muitas folhas e os animais que não possuem dono também sujam o ambiente. Durante esses anos, acho que o plástico é o material que sempre encontro com facilidade pela areia”, completou.
Os cachorros sem donos do bairro que ficam perambulando pela praia, vivem tentando atacar os rapazes que fazem esse tipo de serviço, pois as vestimentas e o saco de lixo assustam os pets. Com a rotina de constantes ataques dos dogs, os trabalhadores nem reclamam mais.
“Temos que parar e tentar acalmá-los. Quando não conseguimos, o jeito é tentar espantar. O maior desafio nas nossas andanças para manter a praia limpa é o calor intenso, o segundo maior são os mosquitos e depois a falta de cooperação das pessoas”, explicou o recém-contratado, João Batista Ribeiro da Silva, 45, que trabalhou por 15 anos vendendo sorvetes no bairro.
Um dos outros funcionários da associação é José Gomes da Silva, 49, que está trabalhando na limpeza da praia a cinco meses e confirma que a profissão que ele exerce pode e deve ser considerada gratificante, não só por ele, mas por muitos.
“Trabalhava na obra igual ao Seu Ramalho, entretanto, não tinha metade do reconhecimento que recebo executando essa minha nova tarefa. As pessoas nos param na praia para agradecer e às vezes até tentam nos ajudar. Nós não tivemos um bom estudo, e por isso, considero mais do que honrosa essa minha profissão”, disse Gomes.
O risco dos serviços acabarem
A diretora da Somar, Dirceia Arruda de Oliveira, 80, afirmou que o serviço prestado pela associação corre risco de se tornar extinto durante o ano, por causa da falta de anunciantes nos portais da praia que mantêm a limpeza.
“Nós conseguimos poucos anunciantes até o momento e não sei se conseguiremos continuar mantendo os trabalhadores. Antes eram seis, agora, são quatro sendo que dois foram contratados recentemente. Estamos conversando com membros da prefeitura, inclusive o prefeito, para nos ajudando” completou a diretora.
Dirceia contou ainda que nos feriados e em outra datas, quando o número de turistas é maior, a prefeitura sempre disponibilizou funcionários para ajudar na limpeza. No entanto, no decorrer do ano o serviço é exclusivo da associação.