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Uma Parada para a Leitura em São Sebastião

Tamoios News
Pedro Renato da Silva
Pedro Renato da Silva

Ponto de ônibus vira

Pontos de ônibus se transformam em espaços de leitura comunitários na Barra do Una

Por Fabi Medioli

“Ler para uma criança: isso muda o mundo”, diz a propaganda de um famoso banco. É indiscutível que a leitura traz inúmeros benefícios para quem a pratica. Algumas iniciativas populares têm preenchido as lacunas de uma sociedade que, infelizmente, ainda lê muito pouco.

Uma dessas ações de incentivo são os projetos que transformam locais como pontos de ônibus em “bibliotecas” ao ar livre. Projetos que, aos poucos, se tornam um sucesso em todo o país. O sistema funciona de maneira democrática: o empréstimo dos livros é gratuito, sem fiscalização de entregas e retiradas, já que a ideia é incentivar a leitura e formar novos leitores.

Em São Sebastião já existem dois pontos de ônibus que servem como base de leitura, instalados na Barra do Una e no Sertão do Una. O idealizador do projeto é Pedro Renato da Silva, 36, comerciante e presidente da AMBUSS, a Associação de amigos do bairro Barra do Una.

“Indo para Bertioga, reparei que passando por Guaratuba tinha um ponto bonito e que me chamou a atenção. Parei para ver o que era e vi que tinham vários livros. Perguntei para alguns barraqueiros do que se tratava, e eles me disseram que era o ponto da leitura”, conta Pedro.

O líder da associação tirou algumas fotos e seguiu viagem. Mas a ideia de criar um projeto semelhante não saiu da cabeça de Pedro.

“Uma semana depois convoquei uma reunião com os moradores locais, mostrei as fotos e disse qual era a ideia. Perguntei a todos se eles teriam interesse de termos nossos pontos de leitura também, o que foi aprovado por unanimidade”, diz. Quando a ideia surgiu, Pedro já tinha em mente o público-alvo da ação. “Principalmente as crianças; meu objetivo era direcionar esses livros principalmente a elas”.

Pedro Renato conta que, após o aval da maioria, o projeto contou com a colaboração dos moradores e comerciantes para tornar o ambiente convidativo para a comunidade. “Os pontos são bem coloridos e cheios de detalhes. Pra isso entrei em contato com dois grandes comerciantes com quem tenho bom relacionamento. Eles gostaram do projeto apresentado e se dispuseram a ajudar em tudo que fosse necessário para a montagem dos pontos”. Os parceiros em questão foram a construtora Schahin, de Barra do Una, e a casa de materiais de construção Cameron, de Boracéia. “Eles gostaram do projeto apresentado e se dispuseram a ajudar em tudo que fosse necessário para a montagem”, revela Pedro.

Em posse dos materiais conseguidos com os empresários, a mão-de-obra ficou por conta dos próprios moradores, que deram início ao primeiro ponto, situado na entrada da Vila dos Mineiros. E as crianças (principal público do projeto) também participaram da construção.

“O ponto da leitura é muito legal, ele fica bem em frente à minha casa; meu pai ajudou a montar e mais um monte de pais das minhas amigas. Nós mesmos cuidamos da limpeza e da arrumação, minha mãe deixa uma vassoura aqui, pra manter tudo bem limpinho”, diz Emanuelly Rodrigues de Jesus, de 8 anos, aluna do 2º ano de uma escola municipal do bairro.

Karolaine Jesus de Souza, 9, estudante da mesma escola de Emanuelly, diz que a longa espera pelo ônibus escolar é aliviada pela leitura no ponto. “A maioria das vezes ficamos esperando até mais de uma hora o escolar passar, e os livros são uma boa distração. O ponto ficou mais bonito e nem sentimos a demora do ônibus”, conta. Outra usuária do ponto é Emily de Mello Dutra Santos, 10 anos. Para ela, o ambiente oferece, além da leitura, um espaço de convivência. “A leitura é muito importante, mas o ponto se tornou um ponto de encontro do pessoal”, diz, confessando que às vezes “fazemos muito bagunça, mas antes de ir embora deixamos tudo limpo e organizado”.

As doações dos livros são feitas por moradores, transeuntes e comerciantes. Pedro Renato fala do projeto com grande entusiasmo. “Já temos um acervo de 800 livros, tudo doação. Com o sucesso do primeiro ponto, que foi entregue em 12 de maio de 2015, entregamos o segundo em 26 de agosto e em breve concluiremos o nosso projeto com a reforma do terceiro ponto, que fica em frente da entrada da Vila dos Baianos”, diz.

Todos os dias, é feita uma vistoria nas doações, uma espécie de triagem para garantir que o conteúdo dos livros não ofenda ninguém. Além dos livros, muitas revistas também são deixadas no local, por isso a fiscalização. As opções vão desde os infantis, como “Uma surpresa pro papai” de Nair de Medeiros Barbosa, até dramas familiares, como “O guardião de memórias” de Kim Edwards, além de livros de auto-ajuda, Atlas National Geografic, enciclopédias completas, revistas de decoração e gibis.

Quem preferir pode levar o livro para casa e devolver depois. Praticamente não há registros de livros sem devolução. Além das crianças, muitos adultos também aproveitam o espaço. O projeto aproximou a comunidade, pois são os próprios moradores os responsáveis pela manutenção dos pontos. Tudo sob a orientação da AMBUSS.

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