Em decreto publicado na última segunda-feira (22), o prefeito de São Sebastião, Felipe Augusto (PSDB), instituiu a realização de barreiras sanitárias nas divisas da cidade, com testagem em massa dos ocupantes dos veículos ao adentrarem o município, de acordo com escala definida pela Vigilância Sanitária, de 22 de março a 4 de abril. O decreto prevê a proibição da entrada do visitante que testar positivo, sob pena de incorrer nos crimes contra a saúde pública e no crime de desobediência.
O teste realizado é o imunocromatográfico, que detecta separadamente anticorpos das classes IGM/IGG para o novo coronavírus e a técnica utilizada na realização dos testes é a de punção. Estão dispensados do teste os ocupantes do veículo que apresentarem laudo laboratorial impresso com resultado negativo de teste RT-PCR, no momento da abordagem, realizado no máximo 48 horas antes da chegada em São Sebastião.
O uso de teste rápido que detecta anticorpos em barreiras sanitárias não é uma boa estratégia para conter a transmissão do vírus trazido por pessoas de fora do município, segundo o pesquisador do Instituto Adolfo Lutz Taubaté, Renato Pereira de Souza, que é biólogo, virologista e doutor em epidemiologia.
“O teste rápido tem uma utilização muito específica e algumas características. O princípio é muito simples, ele detecta o anticorpo para coronavírus. E qual é o problema? Primeiro, a questão da própria biologia do vírus. A infecção pelo coronavírus vai gerar os anticorpos a partir do 7º dia de doença. E você vai ter esses anticorpos detectáveis por muito tempo. O pico de detecção desses anticorpos vai ser entre o 10º e o 15º dia. Então, esse teste é bom para detectar pessoas que já estão numa fase mais avançada da doença, em que já começaram a produzir esses anticorpos em níveis detectáveis. Mas não é indicado para uma pessoa que está no início da doença, começando a apresentar sintomas. Ou seja, ele não vai detectar aquelas pessoas que efetivamente oferecem risco de transmissão, porque a maior parte das transmissões ocorre nos 3 primeiros dias de doença, não que não ocorram nos outros dias. Mas, majoritariamente, a fase de transmissão é no início da doença. Então, como uma estratégia para prevenir a entrada de pessoas infectadas, não é muito eficiente”, explica o pesquisador.
Segundo Souza, realizar o teste rápido imunocromatográfico, não em barreiras sanitárias, mas na população de uma cidade, é interessante porque dará uma ideia do espalhamento da infecção. “É muito interessante para entender em uma população quem teve contato com o vírus”, afirma.
“Mas, para detectar caso ativo de transmissão, não é a forma mais eficiente de se fazer isso. Não é válido para esse tipo de estratégia. Você vai utilizar uma técnica que vai estar produzindo uma falsa segurança. Muitas pessoas que estão infectadas e em fase de transmissão simplesmente não vão ter anticorpos ainda e não vão ser detectadas. Se a finalidade é triar casos ativos de transmissão para evitar a entrada no município de pessoas infectadas você não está fazendo isso”, reforça o biólogo.
A Prefeitura de São Sebastião também tem feito ações de testagem em massa na população do município utilizando os testes rápidos que detectam os anticorpos no organismo. Observando as considerações de Souza, seria mais interessante e eficiente reservar esses testes para as pessoas da própria cidade, ao invés de utilizar uma parte deles em visitantes nas barreiras.