Educação

Futuro de ocupação da escola Colônia dos Pescadores será decidido hoje à noite por estudantes

Tamoios News
Ricardo Hiar
Ricardo Hiar

Assembleia decidirá se ocupação continua ou será encerrada em Caraguatatuba

 

Depois de 11 dias de ocupação, alunos avaliarão os resultados do movimento e deliberar sobre próximas ações

Por Ricardo Hiar

O grupo de estudantes que ocupa desde o dia 26 de novembro a escola estadual Colônia dos Pescadores, em Caraguatatuba, vai realizar uma assembleia hoje à noite, para decidir os rumos do movimento. De acordo com os alunos, a ideia é avaliar se é momento de acabar com a ocupação, já que houve o atendimento de reivindicações, ou se a mesma ainda deverá ser mantida por tempo indeterminado.

Numa reunião de conciliação ocorrida no Fórum de Caraguatatuba, na última sexta-feira (4), com representantes dos jovens manifestantes, da direção da escola e Diretoria de Ensino, foi registrado um termo que garante alguns dos pedidos feitos pelos alunos quando iniciaram a ocupação.

No dia seguinte, o governador Geraldo Alckmin revogou o projeto de reorganização escolar que ocorreria em 2016 e resultaria no fechamento de diversas escolas em cidades de São Paulo. A pretensão do Governo em fechar escolas foi o principal motivador das ações estudantis.

Mobilizações em vários municípios foram crescendo ao longo do mês de novembro, contra os fechamentos e a redução da oferta de vagas. Além da escola Colônia dos Pescadores, outra unidade em Ubatuba também foi ocupada.

Em Caraguatatuba, não havia escolas na lista de fechamentos pela reorganização anunciada por Alckmin, mas o receio dos alunos era outro: o fechamento de salas de aula, que poderiam resultar no aumento do número de pessoas em cada turma, uma limitação na oferta de novas vagas, principalmente no período noturno, e a demissão de professores.

De acordo com o vice-presidente regional da UEE (União Estadual dos Estudantes), Lucas Demétrio, que acompanha o grupo já tem motivos para comemorar. “Podemos dizer que tivemos já algumas vitórias com esse movimento. Tanto pelo que ação do Alckmin, de revogar a reorganização, quanto da Diretoria de Ensino, que atendeu nossas demandas, que foram documentadas na justiça”, explicou.

Conquistas

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Dentre os compromissos firmados com os estudantes na audiência de conciliação, estão: garantia das vagas em 2016 para os alunos que estão matriculados no período noturno; atendimento de forma simplificada para quem deseja transferir de turno e ingressar no noturno – o interessado só precisará apresentar uma declaração dos pais com a permissão ou a carteira de trabalho que comprove atividade profissional; manutenção da oferta do mesmo número de vagas de 2015 para a EJA (Educação de Jovens e Adultos).

Também foi registrado outros compromissos, como salas de aula com no máximo 40 alunos e possibilidade da abertura de novas salas a partir de 25 alunos. O documento ainda aponta que nenhum aluno apoiador da ocupação sofrerá retaliação por ter participado.

“Nosso prazo para darmos um retorno sobre a ocupação termina hoje, por isso permanecemos no movimento até aqui para avaliarmos tudo. Ainda temos medo de que o governador volte atrás, ou que os fechamentos atinjam outras escolas, o que não seria bom do mesmo jeito. De que adiantaria manter essa escola intacta e as outras serem afetadas?”, completou.

O jovem avalia positivamente a ocupação e diz que houve um amadurecimento durante os 11 dias na escola. “Foi criada uma cultura diferente e os estudantes ganharam uma nova percepção. Acredito que isso terá continuidade ao longo do ano, mesmo com a volta das atividades normais”, afirmou Demétrio.

Kaio Henrique de Paula Souza, 14 anos, que cursa o 9º ano do ensino fundamental, também considera toda a ação positiva. “Foi algo muito forte, gostoso de vivenciar. É uma experiência que levarei para minha vida toda. Despertou algo que vai fazer toda a diferença daqui para frente na escola”, destacou.

Ano letivo não será concluído em 2015 e alunos precisarão repor aulas em janeiro

Segundo informações da Diretoria de Ensino de Caraguatatuba, com a ocupação da escola Colônia dos Pescadores, os alunos da unidade deixaram de ter, até esta segunda-feira (7), sete dias letivos de aula, que precisarão ser repostos para a conclusão do ano letivo.

Como até então o calendário previa o encerramento das atividades escolares no dia 21 de dezembro, e é obrigatório que sejam realizados 200 dias letivos na escola, não será possível o fechamento do semestre ainda em 2015.

De acordo com a Diretoria o fechamento deverá ocorrer no mês de janeiro, caso o número de dias a serem repostos não aumentem. Isso porque as férias dos professores ocorrerão entre 4 e 17 de janeiro, período em que a reposição não poderá ser realizada. Neste caso, os estudantes terão aulas em janeiro de 2016, a partir do dia 18.

Os professores que não estão atuando durante a paralisação receberão os salários normalmente, mas deverão repor esses dias não trabalhados nas datas que serão apontadas pela direção da escola e Diretoria de Ensino.

Uma aluna da ocupação, que preferiu não se identificar, diz que o grupo não prejudicou outros estudantes, já que as atividades estavam em finalização. “Estudo aqui há quatro anos e nessa época o pessoal já começa a não vir mais. Quem estudou, quem realizou todas as atividades já passou e muitos não frequentam mais as aulas. A ocupação aconteceu depois do Saresp e nessa época não tem muita coisa mais na escola”, afirmou.

Preocupações

ocupação

Nas redes sociais, duas páginas faltam do movimento, uma favorável e outra contra. A oficial, que é pró ocupação, tem 1098 seguidores. Já a outra, denominada Contra a ocupação do Colônia dos Pescadores, possui 383. Ambas tentam apresentar aos adeptos, os motivos do posicionamento.

Depois do anúncio da revogação do governador sobre a reorganização escolar, o movimento de pais e alunos da escola Colônia dos Pescadores, pleiteando a volta das atividades escolares aumentou. Alguns questionavam a ocupação desde o início, mas poucos realizaram ações efetivas nesse sentido.

Leila Izabel Paulino Ferreira é mãe de Ana Lydia Ferreira, que cursa o 3º ano do ensino médio na escola ocupada. Ela conta que no início não estava nem a favor, nem contra o movimento, mas a partir do momento que o governador anunciou a revogação, ficou contrária à ocupação, por entender que não há mais motivos para os alunos permanecerem lá.

“O governador voltou atrás e eles agora não tem nenhuma proposta. Os alunos ainda têm prova para fazer, trabalho para entregar. Eles precisam terminar o ano letivo. Não acho certo. Que democracia é essa?”, questionou.

Leila diz que muitos alunos estão preocupados, principalmente aqueles que já fizeram vestibular e fizeram matrícula, pois sem a conclusão das atividades, não poderão ingressar na faculdade. “A formatura deles está marcada para dia 19. A empresa que vai fazer o evento não tem como mudar as datas. Essa ação começa a trazer problemas para os outros, então acho que está na hora de desocupar”, concluiu.

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