Para a ex-presidente da Fundart, Cristina Prochaska, falta vontade política para a reabertura do espaço
Por Raell Nunes, de Ubatuba
Um prédio de 2.428m², que possuiu um auditório com capacidade para acomodar 450 pessoas sentadas, e que custou R$ 10 milhões aos cofres públicos. Essas são algumas das características do centro do professorado, cuja estrutura chama atenção de quem passa pela região central de Ubatuba, que é o único teatro da cidade, mas está de portas fechadas há pelo menos três anos.
A obra do prédio foi concluída em 2012, quando artistas e cidadãos do município puderam desfrutar do espaço apenas sete vezes. Na época, quem respondia pela administração da cidade era o prefeito Eduardo Cesar (na época, do DEM).
Em janeiro de 2013, já na gestão de Maurício Moromizato (PT), o prédio foi fechado definitivamente, sob alegação de irregularidades no projeto. O Corpo de Bombeiros não teria autorizado o funcionamento do local, alegando que havia sérios problemas na questão da segurança.
Uma estimativa aponta que toda a reforma no teatro custaria por volta de R$ 300 mil. Contudo, a reforma ainda não foi feita e os problemas continuam.
No ano passado, em participação numa sessão ordinária do Legislativo, o ex-prefeito apresentou slides afirmando que era possível abrir o teatro. Segundo depoimento, como o fechamento do teatro pela atual gestão, foi a população em geral que perdeu.
“Governo fraco, cultura fraca. Se for para abrir o teatro, tem que ter coragem. Se passaram anos e não se pode apontar uma obra do atual prefeito [Mauricio], porque tem que ter coragem, planejamento, vontade de fazer”, acrescentou.
Sobre a questão de ser possível resolver todos os problemas com investimentos de R$ 300 mil, a ex-presidente da Fundart (Fundação de Arte e Cultura de Ubatuba), Cristina Prochaska, disse que esta mesma quantia foi investida no filme “A grande Vitória”.
Prefeitura afirma que cumpre a lei e que respeita impedimentos jurídicos
Em nota da assessoria de imprensa, a prefeitura de Ubatuba esclareceu que o teatro foi interditado administrativamente pelo município em função dos apontamentos do Corpo de Bombeiros e pela ausência AVCB. Segundo o perito judicial, que constatou as irregularidades, parte da obra foi executada em desacordo com o projeto. Além disso, os reparos precisavam atender a nova legislação do “pós Santa Maria”. São exatamente essas irregularidades que impedem a emissão do AVCB e o funcionamento do prédio.
O prédio não foi reaberto em função da questão jurídica. Atualmente, a Prefeitura cumpre seu papel: ingressou com ações em face das empresas e aguarda a definição do judiciário para solucionar o problema.
Os principais reparos devem ser feitos na tubulação de incêndio, executada em desacordo (diâmetro) com o projeto. Também há problemas no sistema “anti-pânico” do prédio e na largura das escadas de acesso ao camarim. Em função da questão jurídica ainda não sabemos o valor exato das obras.
Importância do teatro
Shakespeare dizia que a vida é uma peça de teatro que não nos permite ensaios. Já Oscar Wilde afirmava que o mundo poderia ser um palco, mas o elenco era um horror. No entanto, o dramaturgo alemão Bertolf Brecht falava que todas as artes contribuem para a maior de todas as artes, a arte de viver.
Foi pensando nessa importância da arte teatral que diversos protestos foram feitos para a reabertura do teatro de Ubatuba. Artistas de expressão nacional divulgaram vídeos nas redes sociais com o apelo: “eu sou a favor da abertura do teatro de Ubatuba”.
Entre muitas personalidades do cenário artístico estavam, Dani Moreno, Marcos Breda, Cláudia Alencar, Edwin Luisi, Charles Möeller e Cláudia Lira. Lúcia Veríssimo explicou que o teatro é o provedor cultural da sociedade.
“É na casa de espetáculos que a sociedade pode ir para se espelhar, se enxergar e se alto rever, e quem sabe mudar. Como pode o teatro de Ubatuba fechar suas portas? Isso é humanamente impossível”, acrescentou.
Anselmo Vasconcellos disse em nome de todos os artistas brasileiros que fazem teatro e que percorrem o país com o teatro: “nós queremos o teatro de Ubatuba aberto”. Ele também falou que um templo como aquele não poderia estar fechado.
Similarmente, o músico Fernandinho, da banda de reggae Planta e Raiz, afirmou que apoiaria qualquer manifestação para a reabertura do teatro municipal.
Problemas políticos
Em entrevista exclusiva ao Tamoios News, a ex-presidente da Fundart, Cristina Prochaska falou sobre os problemas envolvendo a casa de espetáculos. Para ela, o problema é mais político, do que apenas estrutural.
Tamoios News (TN) – O único teatro do município, que custou cerca de R$ 10 milhões aos cofres públicos, está pronto desde 2012, mas está fechado após irregularidades na construção. Qual sua opinião em relação a isso?
Cristina Prochaska (CP) – Eu não sei dizer quanto o teatro custou. Mas no tempo em que trabalhei nesta gestão do Mauricio, nunca vi nenhum movimento para realmente resolver a questão e abrir o teatro. Todo o trabalho de verificação das irregularidades do prédio foram apontadas por um dos ex- secretários do Mauricio, que fez um lindo e extenso estudo sobre a questão. As irregularidades, se ainda existem são responsabilidade do ex-prefeito Eduardo, das empreiteiras Valenge e Scopus.Porém quando você é eleito prefeito, você recebe erros e acertos da gestão passada. É assim em qualquer lugar do mundo. O teatro já poderia estar aberto, isto é fato indicado em um enorme processo. O prefeito alega falta de verba, recurso financeiro, e manda a Fundart que já não tem verbas, investir 300 mil reais no filme ” A grande vitória”. Este dinheiro dava e sobrava para abrir o teatro. O filme não trouxe absolutamente nada para o povo de Ubatuba, apesar de ser bonito. O povo de Ubatuba nem teve acesso ao filme. Vai ver na televisão como o dinheiro da cultura foi usado. Prefiro não me estender neste assunto.
TN – A não abertura deste espaço cultural é prejudicial à população em que sentido?
CP – Todos perdem, inclusive a prefeitura que tem custo mesmo com ele fechado. Custo financeiro e político. Cultura certamente não é prioridade para o prefeito Mauricio, em minha opinião. Na Fundart, nas duas vezes que eu trabalhei lá (Diretora de Cultura 2013 e Presidente 2015) , só vi o prefeito uma vez no prédio e rapidamente.
Aquele espaço do teatro pode gerar emprego e renda o ano todo para a cidade. Podem ser realizadas inúmeras oficinas, cursos profissionalizantes, workshops, além do espaço para os artistas se apresentarem como circo, dança, música, palestras, teatro, exposições de todo o tipo, durante 365 dias.
TN – Dizem que há irregularidades na construção, mas são incorrigíveis?
CP – As irregularidades já foram apontadas e são totalmente corrigíveis e podem ser adequadas. Há um empurra, empurra, entre as empreiteiras Valenge e Scopus, porém um grande trabalho já foi feito em relação a isso e sim, a licitação para o início das obras já poderia ter sido feita e já poderíamos estar com o teatro aberto.
TN – Faz 4 anos que o teatro foi construído, e está parado há 3. Você acha que a população perdeu muito nesse período de portas fechadas?
CP – Sim. O povo de Ubatuba perdeu muito, não só os artistas. O teatro é um prédio público construído com verba pública, não aguento mais assistir o apontar de dedos e o prefeito não tomar a atitude correta, assumir a responsabilidade do que é nosso e resolver a questão de uma vez por todas. Parece que ele fica de picuinha com o ex-prefeito e num vai e vem burocrático de quem é o culpado. Assuma sua responsabilidade como gestor e resolva a questão.