
O protesto aconteceu no último final de semana e reuniu pessoas de todas as idades
Pescadores, surfistas, comerciantes, catadores e turistas protestaram em Maresias para reivindicar obras de saneamento básico
Por Rafael César, de São Sebastião
Cerca de 70 pessoas se reuniram em protesto para cobrar a instalação do sistema de esgotamento sanitário de Maresias, em São Sebastião. Eles reivindicaram a continuação das obras da ETE (Estação de Tratamento de Esgoto), paralisada há alguns meses pelo governo do Estado.
Segundo o projeto, a estrutura da ETE, depois de pronta, seria capaz de coletar e tratar 245 mil litros de esgoto por hora, com nove estações elevatórias e 30 quilômetros de rede. De acordo com a prefeitura, o valor estimado de investimento é de aproximadamente R$ 21 milhões.
O grupo de protestantes se inspirou no carnaval para dar o nome ao manifesto: bloco atolados no esgoto, com posto por pessoas de todas as idades, como idosos, crianças, adolescentes e adultos.
As crianças, que integram a fanfarra de Maresias, tocaram seus instrumentos durante a manifestação, regidas por um instrutor. Apitos e gritos de ordem também foram utilizados para reger o ritmo da ação protestante.“Governador, é osso viver em Maresias sem ter rede de esgoto” e “Governador, presta atenção nunca vi Maresias com tanta poluição”, foram alguns dos brados dos manifestantes.
A ideia de organizar o motim partiu da Sociedade Amigos da Praia de Maresias (Somar), que já vem pedindo o saneamento básico para o bairro, desde 1998.
Nos anos de 2013 e 2014, houve enchentes que causaram muitos danos a Maresias. Em fevereiro de 2013, o governador do Estado, Geraldo Alckmin (PSDB), visitou o bairro que havia sido devastado pela enxurrada, anunciando um repasse de verba as vítimas da chuva e prometendo resolver a situação do saneamento na região.
A Somar chegou a mover uma ação no Ministério Público de São Paulo (MP-SP) para conseguir um parecer da concessionária responsável pela obra que é a Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp) e, também o porquê da demora no repasse da verba do governo do Estado de São Paulo para continuação e conclusão da ETE.
A explicação para a não conclusão foi à crise híbrida vivida no Estado. O dinheiro que seria usado na construção da Estação de Tratamento de Esgoto foi investido no repasse de água e por isso o governo estadual não tinha como repassar a verba para o projeto.
Para a presidente da Somar, Ester Hergovic Rantigueira, 67, o atual prefeito da cidade; Ernane Primazzi (PSC), vem se esforçando para resolver o problema, mais do que os seus antecessores. “Eu tenho mantido contato com ele (o prefeito,), mas as respostas são sempre as mesmas, de que no momento não tem condições de bancar a obra e às vezes nem respostas eles dão. Eu só queria ver essa situação resolvida é uma luta que tem quase 20 anos e precisa ter um final feliz e positivo” complementou a presidente.
A arquiteta, Nancy Carbone, 58, que já frequentava a praia na década de 70 e mora desde os anos 90 na praia, acha que o crescimento desenfreado da população e o descaso do poder público com as necessidades do povo é o motivo dos impactos sofridos a natureza.
“Cada dia que passa as cidades estão mais abandonadas. Existem muitas casas irregulares aqui no bairro, os proprietários destas ocupações não têm condições de pagar um tratamento individual. Por esse motivo em dias de chuva sentimos um mau cheiro no rio Maresias”, comentou Carbone.
A expectativa era de que comparecesse ao protesto cerca de 300 pessoas. A divulgação foi feita pelas redes sociais e anúncios espalhados pelo bairro. O percurso teve como ponto de origem o antigo clubinho, passando por uma das vias da rodovia Rio-Santos (Avenida Francisco Loup). Os guardas de trânsito acompanharam o trajeto.
Segundo o professor de surf, Wellington Bueno de Paula, 26, mesmo não comparecendo o número de pessoas esperadas, o evento alcançou seu objetivo. “Nós esperávamos um número maior de pessoas, mas o que vale é a iniciativa. Provavelmente, conseguimos chamar a atenção havia bastante gente na praia que curtiu e abraçou a causa. Não quero ver nenhum dos meus 90 alunos sendo impedido de surfar por contágio de viroses ou mau cheiro”, disse Bueno.
Uma das fundadoras da Sociedade Amigos da Praia de Maresias, Dirceia Arruda de Oliveira, 77, atualmente membro da diretoria da associação, crê que se nenhuma providência for tomada Maresias correrá o risco de receber a bandeira vermelha da CETESB em breve.
“Desde 1998, nós estamos nessa luta e não iremos desistir nunca, se não resolverem agora, continuaremos promovendo protestos para conseguir o que é nosso de direito é uma luta intensa, constante e insana. Mas imagino que ainda irei desfrutar desse direito ou então acabarei vendo uma bandeira vermelha cravada nesse paraíso”, acrescentou Dirceia.