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Didi, o defensor do mangue Vermelho de Ubatuba

Tamoios News

Jurandir Rosa da Silva, mais conhecido como Didi, é um caiçara nativo, que mora no bairro de
Barra Seca, em Ubatuba, no litoral norte de São Paulo, desde os três anos de idade. Hoje, aos
54, com 6 filhos e 10 netos, Didi presta um serviço voluntário há quase quatro anos, por
iniciativa própria com o objetivo de tornar o mangue Vermelho, que fica na praia Barra Seca,
um local menos poluído. Didi entra com sua canoa de madeira no mangue para retirar o lixo,
principalmente garrafas PET.

“Meu pai era do bairro de Itamambuca, minha mãe se casou com ele e mudou para lá, mas
quando eu era pequeno, eles voltaram pra Barra Seca. Minha mãe chamava Constância e meu
pai Sebastião. Minha família é de pescador. Eu sou um nativo caiçara. Minha família está há
mais de 400 anos em Ubatuba, meus avós trabalhavam com alambique de pinga e pesca. Sou
descendente de tupinambá. Eu trabalhei muito tempo na pesca, como embarcado, mas com o
crescimento do bairro que se tornou turístico, com várias casas de veraneio, eu saí da pesca e
atualmente trabalho com jardinagem, limpeza e cuido de casas de veraneio, mas também
continuo fazendo redes de pesca, tenho uma canoa de madeira e faço pesca artesanal”,
explica Didi.

Didi sempre costumou recolher o lixo que encontrava na praia. “Quando comecei a entrar no
mangue tomei a iniciativa de postar nas redes sociais pra ver se mobiliza as pessoas para
terem mais consciência do problema da poluição”, relata.

Uma ou duas vezes por mês, de acordo com a fase da lua e a altura da maré, Didi encara o
mangue, na maior parte das vezes sozinho, com sua canoa de madeira. “Eu faço esse trabalho
de limpeza de mangue Vermelho a cada 15/20 dias. Eu dependo da maré para entrar no
manguezal, porque eu só posso entrar no manguezal com a maré baixa, que a gente chama de
maré vazia, que é na lua nova ou na lua cheia, nas outras luas os mangues ficam muito cheio
de água e não é possível recolher o lixo”, explica.

Pego as garrafas pets, que na minha opinião é o câncer que temos no mundo hoje: o plástico.

Temos um mangue muito rico aqui, com caranguejo, guaiamum, entre outras espécies, mas
que está impregnado de lixo. Não encontro somente pets, mas chinelo, saco plástico,
garrafinha descartável, etc. É um trabalho de formiguinha, mas a gente não pode desistir, de
vez em quando aparece uns voluntários, que são bem-vindos, mas independente de ter
alguém para me ajudar, eu entro no mangue. Eu tenho netos pequenos e quero deixar um
mundo melhor para eles. Estou fazendo minha parte. Graças a Deus tem gente que tem a
mesma ideia e estamos caminhando nessa luta”, reflete o pescador.

Didi chama seu trabalho voluntário de Caiçara Nativo. “Foi a forma que eu criei para divulgar
meu trabalho nas redes sociais e assim procurar conscientizar as pessoas de recolherem seus
lixos da praia, das encostas onde costumam pescar, das ilhas que visitam, pois quando a maré
sobe o lixo vai para o mar, para os rios e para os mangues. Quando o lixo entra no manguezal
ele não sai mais de lá. Nosso mangue é um berçário de muita vida, o lixo prejudica todo esse
bioma, estou nessa luta tentando limpar esse mangue, vai demorar para isso acontecer, mas
eu não perco a esperança não”, emociona-se Jurandir.

Didi faz esse trabalho com recursos próprios. “Eu compro os sacos para ensacar, separo o
material que recolho no mangue por tipo e deixo no local apropriado para o lixeiro levar”,
explica.

As entradas no mangue costumam encher a canoa com cerca de 600/700 PET. “Da última vez
que eu fiz eu tirei 750 PET, 99 pés de chinelos, garrafas de vinho, redes velhas, carrinho de
bebê, banco de bicicleta, olha tem tanta coisa que aparece no manguezal, que as vezes não dá
para acreditar. O material que é feito a garrafa PET paga muito pouco nas reciclagens, então os
catadores de material reciclado preferem recolher as latinhas de refrigerante e cerveja, que
gera mais dinheiro. Não compensa recolher as PET para reciclagem”, opina Jurandir.

Quando chego na praia com o lixo muita gente acaba vendo, porque faço nos finais de
semana, quando eu tenho folga. As pessoas acabam ajudando a separar, postam também e
assim divulgam o trabalho e contribuem para a maior conscientização do problema da
poluição”, esclarece.