
Bonecas representam mulheres vítimas fatais da violência no Litoral Norte
Por Ricardo Hiar, de São Sebastião
Um ditado bastante antigo diz “briga entre marido e mulher não se mete a colher”. A professora e advogada Elizabeth Chagas discorda. “Temos que acabar com esse ditado. Em briga de marido e mulher se mete a colher sim, pois não podemos ficar quietos diante de uma mulher sofrendo agressões. Mulher não é saco de pancadas”, afirmou.
Militante desde a década de 70 em causas de defesa dos direitos da mulher em São Sebastião, Elizabeth diz que a legislação atual dá essa prerrogativa para que não apenas a mulher vitimizada denuncie seu agressor. “Muitas mulheres se calam por medo, então qualquer pessoa que souber de um caso de violência pode e deve denunciar”, completou.
Para a militante, apesar de muitas coisas da Lei Maria da Penha ainda serem difíceis de ser praticadas, houve avanços. “Antes, quando um homem batia na mulher e era denunciado, ele ia até a delegacia, pagava cestas básicas, voltava para casa e batia de novo na mulher”, contou.
Ela diz que hoje esse panorama já é melhor, pois há medidas protetivas. O homem agressor é obrigado a sair da casa, deixar os filhos respaldados, pagar pensão alimentícia.
Por essas e outras, Elizabeth Chagas acredita que o dia 8 de março é uma data para ser comemorada. “Vivemos numa sociedade machista. Desde pequenos aprendemos que o rosa é de menina e o azul de menino. A menina ganha panelinha, enquanto o menino ganha skate. Essa discussão de gênero é muito cultural e difícil de mudar, até mesmo para quem milita na causa. Ainda assim já tivemos muitos avanços e temos sim o que comemorar”, explicou.
Mais violência
Dulcinéia Ribeiro Leite, Maria da Penha Rodrigues e Débora Carvalho são mulheres que entraram nas estatísticas entre as que sofreram com a violência doméstica no Brasil. Nenhuma delas pode mais pedir ajuda ou tentar um recomeço, pois foram vítimas fatais e perderam suas vidas. Além do histórico de violência doméstica, elas tinham mais uma característica em comum: todas viviam no Litoral Norte de São Paulo, onde foram assassinadas.
Segundo Elizabeth, as três serão símbolo das ações da semana da mulher em São Sebastião. A ideia é levar informação e reflexão para todos os participantes.
“A violência é muito grande e muitas mulheres morrem todos os dias vítimas dos companheiros. Muitas vezes as pessoas acham que isso só acontece longe, e não é. Essas três mulheres, que são lembradas neste ano, eram daqui, moravam perto da gente e morreram por conta da violência que atinge muitas, dentro de seus lares”.
Machismo
Para a militante do movimento feminista, o grande problema que traz prejuízos e violência contra a mulher ainda é o machismo que impera na sociedade. Segundo ela, são pontos culturais, difíceis de mudar. “A gente nasce e aprende que mulher veste rosa e homem veste azul. Que mulher ganha panelinha e homem skate. Isso vai criando um distanciamento entre o papel da mulher e do homem. Normalmente a mulher tende a perder com essas diferenças”.
AAMS
Criada em 1978, a AAMS surgiu como um desafio feito por um vigário a casais da igreja católica em São Sebastião. Na época, ele disse que chegou estava sendo abordado por mulheres que atuavam na zona de prostituição da cidade e que não tinha as repostas para elas.
Por conta disso, um grupo começou a realizar um trabalho com essas mulheres, não com o objetivo de acabar com a prostituição, mas principalmente para mostrar a elas que, intendente das escolhas, têm direitos e devem lutar por eles.
Em 2006 a prefeitura precisou de um terreno que a associação ganhou no início dos trabalhos e, com o dinheiro da desapropriação, foi comprada a casa onde funciona a atual sede. O centro de referência para a mulher fica aberto de segunda a sexta-feira, das 8 às 18h.
O endereço é Rua Nossa Senhora da Paz, 38, e o telefone de contato é (12) 3892-2202.
Especial Semana da Mulher
Nesta semana, em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, o Portal Tamoios News traz uma série de entrevistas com mulheres da região, em homenagem à data.