O projeto Tecendo Saberes foi aprovado no edital de Fomento direto a Projetos Culturais no Estado de São Paulo promovido pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo. O Tecendo Saberes é promovido pelo Instituto Capiá e tem por finalidade promover a valorização das artesãs e artesãos tradicionais do Quilombo da Fazenda Picinguaba e Sertão do Ubatumirim, Ubatuba/SP, reconhecendo seus saberes e facilitando a transmissão desses conhecimentos no âmbito da educação escolar.
O projeto acredita que a escola, sendo ela um espaço socializador de saberes, deve valorizar a cultura na qual está inserida, criando um espaço acolhedor e motivador para seus estudantes. A cultura de seus estudantes deve ser, além de respeitada, fomentada por meio de ações que valorizem as práticas culturais assim como prevê as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola na Educação Básica no qual enfatiza que “para os estudantes quilombolas, indígenas e caiçaras deve ser garantido o direito a se apropriar dos conhecimentos tradicionais e das suas formas de produção, por meio de uma política educacional que valorize o patrimônio cultural local” (BRASIL. Resolução CNE 08/2012).
O artesanato tradicional constitui-se em uma importante ferramenta de identidade cultural capaz de contribuir com o processo de ensino aprendizagem no contexto da educação escolar. Nos anos de 2016 e 2017 o Instituto Capiá promoveu o projeto Tecendo Saberes na E.M. Prof. Iberê Ananias Pimentel (Picinguaba) e em 2017 na E.M. Manoel Inocêncio (Sertão do Ubatumirim) por meio do Programa de Ação Cultural (ProAC). Através das vivências de transmissão de saberes no contexto escolar foi possível identificar o potencial pedagógico do artesanato tradicional. Esse potencial está relacionado ao campo afetivo, fortalecendo a identidade cultural dos educandos, sua ancestralidade, trazendo à tona um sentimento de pertencimento com sua comunidade, de valorização de sua cultura, além da contribuição para a estruturação cognitiva a partir da elevação do sentimento de confiança e segurança em si própria/o.
Ao mesmo tempo, para os mestres e mestras da tradição oral é fundamental para a continuidade dos seus saberes e fazeres terem seus conhecimentos difundidos em uma instituição social, que tem a sua importância reconhecida pela sociedade, especialmente no extremo norte de Ubatuba, onde praticamente inexistem outros espaços, ditos formais, de socialização de saberes.
As ações são pautadas pela educação popular freireana e Pedagogia Griô onde se acredita que é preciso priorizar os princípios e práticas da tradição oral para que essa seja valorizada, possibilitando o vínculo entre seus/suas fazedores/as – mestres/mestras – e o reconhecimento diante das novas gerações e da educação escolar, potencializando a rede de transmissão oral dos saberes.
Serão realizadas 128 vivências de transmissão de saberes ligadas à produção artesanal, ao longo dos dois anos de atividades (2022 e 2023), sendo 32 vivências em cada uma das escolas por ano com duração de 2:30hrs cada vivência. As vivências respeitarão o calendário escolar, acontecendo no ano letivo, pausando nos períodos de férias. As turmas participantes em cada escola serão as matriculadas no 3º, 4º e 5º ano. Além das vivências está prevista uma visita em cada uma das comunidades. As visitas incluem visitação aos locais de extração de matéria prima, visita a casa de farinha, visita a casa de artesanato, a associação de moradores e outros espaços importantes para a manutenção da cultura local.
Sobre o Instituto Capiá:
O Instituto Capiá é uma organização de caráter educativo, cultural, social e ambiental que tem como propósito realizar ações educativas de valorização e estímulo à continuidade dos saberes e fazeres dos povos tradicionais e promover a troca entre mestres e mestras da sabedoria popular e a atual geração.
O nome dado ao Instituto não é por acaso, o Capiá (Coix lacryma-jobi), também conhecido como “lágrima de nossa senhora”, “capim de contas”, “contas de lágrimas”, entre outros, é uma planta cuja semente é utilizada na produção artesanal de vários povos, apresenta uma diversidade de uso com valor simbólico-espiritual, além de usada para fins utilitários e decorativos.
Acreditamos que cuidar das “sementes” é fundamental ao processo natural de continuidade da vida, assim como valorizar os saberes e fazeres tradicionais e a troca intergeracional é estimular a sua continuidade.
Página web: www.institutocapia.org
