O Sobradão do Porto, patrimônio histórico de Ubatuba erguido em 1846, localizado na Praça Anchieta, no centro da cidade, encontra-se interditado desde 2018, pois a estrutura de madeira do seu interior está comprometida. Em março de 2022, a Defesa Civil de Ubatuba elaborou um laudo confirmando o péssimo estado de conservação do imóvel, atestando que a parte interna da edificação encontra-se com problemas estruturais. O prédio precisará passar por um restauro completo para que possa ser aberto novamente ao público.
O imóvel foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1959. O Iphan afirma que vem insistentemente solicitando que a Prefeitura de Ubatuba, proprietária do imóvel, viabilize o restauro completo do bem tombado. Para a restauração completa do prédio é necessário que a Prefeitura faça a atualização do projeto de restauro e capte recursos para a intervenção.
Segundo a Prefeitura, uma proposta de custo estimado feita por um profissional recomendado pelo Iphan aponta que o restauro ficaria entre três e seis milhões de reais, valor ainda não viabilizado pelo município. Porém, a Prefeitura afirma que a Fundação de Arte e Cultura de Ubatuba (Fundart) já trabalha junto ao Executivo Municipal para a contratação do profissional que fará o projeto inicial, para assim conseguir fechar um orçamento concreto para o restauro e poder então encontrar caminhos para viabilizar a verba necessária.
Sobradão passou por restauração entre 2014 e 2020
Apesar da situação em que se encontra, o Sobradão do Porto passou por uma restauração recentemente, entre 2014 e 2020. Mas a obra contemplou apenas as fachadas e a cobertura do prédio. Segundo o Iphan, a restauração dividiu-se em sete etapas: serviços preliminares, reparação de coberturas, alvenarias, esquadrias, pintura, elementos metálicos e serviços finais. Fruto de um convênio entre o Governo Federal e a Prefeitura de Ubatuba, a intervenção recebeu aproximadamente R$ 1,5 milhão do Governo Federal, com contrapartida da Prefeitura no valor de R$ 132 mil.
Na parte interna do imóvel foi realizado apenas o escoramento do edifício, após se verificar o risco de colapso de peças estruturais internas. O arquiteto responsável pela obra, Milton Nishida, comunicou a situação aos técnicos do Iphan, que foram até o local e constataram a pertinência da solicitação de escoramento de peças estruturais. Mas o arquiteto ressalta que essa foi apenas uma medida paliativa. Segundo ele, “é muito necessário conseguir o mais rápido possível fazer as devidas intervenções na parte estrutural”.
“É uma obra grandiosa, mas é totalmente passível de restauro. Tem que ser feita a restauração estrutural de madeira, de alvenaria, de pau-a-pique, de elementos artísticos, pinturas nas paredes, portas, ferragens, móveis, quadros, lustres. É um palacete muito especial, riquíssimo. No pavimento superior, tem vários ambientes muito requintados. É um patrimônio com vários elementos artísticos altamente elaborados e vários deles já muito fragilizados”, explica Nishida.
Um dos principais problemas que o arquiteto constatou é o ataque de cupim. Segundo ele, muitas estruturas de madeira do edifício terão que ser substituídas, porque o ataque de cupim é tão severo que algumas já estão em condições quase de colapso. “É uma corrida contra o tempo”, alerta.
Importância histórica
O Sobradão do Porto tem 176 anos. Foi erguido por um rico comerciante, fazendeiro, plantador de café, proprietário de uma vasta área da região litorânea, o armador português Manoel Balthazar da Cunha Fortes. O edifício é testemunha de um período em que Ubatuba era uma cidade muito rica, pois seu porto, nas cercanias da foz do Rio Grande, era de grande importância para o comércio brasileiro com o resto do mundo. A fartura terminou com a construção da estrada de ferro Santos-Jundiaí, quando as cargas deixaram de ser movimentadas pelo Porto de Ubatuba, levando a cidade à pobreza e ao esquecimento.
Por Renata Takahashi / Portal Tamoios News
