A mobilização solidária em auxílio às vítimas da tragédia das fortes chuvas que aconteceram no feriado de carnaval em São Sebastião, gerou comoção internacional e nacional e nunca na história política e social deste país ocorreram ações tão imediatas, em que os governos federal, estadual, municipal, empresas privadas, associações e sociedade civil uniram-se para ajudar os desabrigados e desalojados.
O Instituto Verdescola, organização não-governamental que há 15 anos atua nas áreas de atendimento psicossocial, educação, meio ambiente e fomento à cidadania, na Vila Sahy, ponto central do desabamento de terra que ocasionou a tragédia que isolou a cidade de São Sebastião. Ainda que não contasse com estrutura adequada, sua sede se transformou em ponto focal de logística e operações, principal abrigo para as vítimas e hospital de campanha, recebendo, infelizmente, feridos e mortos. O Instituto recebeu milhares de doações de diferentes valores, totalizando R$ 13.803.799,45. A prestação de contas dos gastos com a tragédia se encontra no final de matéria*.
Gerando Falcões é uma associação de desenvolvimento social que atua em mais de 6 mil favelas em todo o Brasil, alcançando mais de 715 mil pessoas e envolvendo 1,2 ONGs. Nascida com a missão de transformar a pobreza da favela, tem pela frente o trabalho de modificar uma realidade em que cerca de 30% da população brasileira ainda vive em situação de vulnerabilidade. Assim que soube da tragédia das fortes chuvas que afetaram a cidade de São Sebastião o Edu Lyra, CEO da Gerando Falcões, lançou uma campanha #TamoJunto e, em apenas nove horas bateu a meta de arrecadação inicial e o total arrecadado foi R$ 17.535,143,00. O balanço da instituição pode ser acessado online.
O projeto Buscapé é uma Associação sem fins lucrativos com 16 anos de atuação, em Boiçucanga, desenvolvido pela Polícia Militar, que tem como foco preencher as horas vagas de crianças com idades de cinco a 12 anos, tirando-as da rua e dando uma visão de mundo melhor. As atividades desenvolvidas são artes marciais, a culinária que é o carro chefe, teatro, música, aulas de boas maneiras, educação militar e natação. O Chef Eudes Assis que está à frente do projeto, iniciou uma campanha de arrecadação que totalizou o valor de R$ 1.280.000,00. Para gerenciar a distribuição desses valores Eudes criou um formulário para as vítimas preencherem e formou um conselho com 14 pessoas para visitar e avaliar a necessidade de cada morador que perdeu seus bens , como colchões, móveis e utensílios domésticos.
As doações em dinheiro ao Fundo Social de São Paulo (FUSSP), Governo do Estado de São Paulo, por Pix, QR Code e conta corrente totalizaram a quantia de mais de R$ 1,85 milhão. O valor será utilizado na aquisição de cestas básicas, cobertores e materiais de limpeza e higiene. Segundo a prefeitura de São Sebastião, que não informou os valores recebidos pelo Fundo Social, a utilização dessa verba será para aquisição de utensílios, eletrodomésticos e móveis – que não integram o estoque de donativos – para mobiliar as casas populares dos programas habitacionais do Minha Casa, Minha Vida (MCMV), do Governo Federal, e da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), do Governo Estadual, que estão em fase de implantação.
*Prestação de Contas Verdescola
Nesta fase, considerada a primeira, o Verdescola destinou cerca de R$ 1,5 milhão em 3 principais frentes, sendo elas:
Acolhimento:
● Realização de 1.400 atendimentos médicos no hospital de campanha;
● Atendimento diário e ininterrupto a 600 pessoas;
● Oferta de cerca de 1.100 atendimentos psicológicos;
● Acomodação de 415 desabrigados;
Distribuição de Itens:
● 1.500 pacotes de fraldas infantis e geriátricas, aproximadamente;
● 1.000 latas de leite em pó, incluindo leites especiais, aproximadamente;
● 1.500 colchões, aproximadamente;
● 600 edredons, aproximadamente;
● 100 toneladas de roupas e calçados;
● 10.000 itens de higiene e materiais de limpeza, aproximadamente;
● 5.000 cestas básicas;
● 43 celulares distribuídos.
Operação e Logística:
● Instalação e manutenção de 20 banheiros químicos para uso da população;
● Preparo e distribuição de 20.000 refeições;
● Apoio a 300 voluntários de outras instituições públicas e privadas;
● Destinação de estrutura física para unidade móvel do Poupatempo, Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU), Secretaria de Justiça e Cidadania e Polícia Civil;
● Utilização de 32 mil litros de água por dia;
● Oferta de garrafas e galões de água mineral, à disposição para os abrigados, voluntários, funcionários e comunidade;
● Disponibilizados 2 helicópteros que realizaram 590 voos para transporte de recursos humanos e logísticos;
● Instalação de circuito interno de câmeras e monitoramento para segurança dos desabrigados e dos recursos logísticos de doações;
● Compra de 150 luvas para exército;
● Compra de 5 carretéis de extensão de energia para os órgãos públicos;
● Instalação de 10 pontos de Wi-Fi livre para toda a comunidade nas dependências do Instituto;
● Disponibilização de espaços, fornecimento de energia e água, além da mobilização de seus funcionários, voluntários, administradores e apoiadores que deixaram suas funções rotineiras para dar total suporte às atividades emergenciais;
● Contratação de empresa de limpeza especializada, garantindo a retirada de lama, desinfecção e esterilização dos ambientes durante o abrigo temporário e pós desalojamento;
● Contratação de equipe de apoio à cozinha, que chegou a multiplicar por 5 vezes a quantidade de refeições que a escola oferecia diariamente;
● Logística para recebimento, separação e distribuição de 100 toneladas de roupas
● Disponibilização de Fumacê para a prevenção de doenças transmitidas por mosquitos na localidade, evitando a dengue;
● Pagamento das despesas extras com água, luz, limpeza, alimentação, funcionários, serviços prestados, equipamentos, utensílios utilizados durante o período do abrigo e de infraestrutura para os atendimentos públicos.
O processo foi coordenado majoritariamente pela HUMUS (Associação Humus Brasil), organização sem fins lucrativos que atua com resposta emergencial em eventos naturais extremos para instalar o gerenciamento e gestão de crise e logística humanitária.
Após a transferência dos desabrigados para hotéis e pousadas na região, realizada pela Prefeitura de São Sebastião, nos dias 01 e 02 de março, o Verdescola iniciou um novo plano de ação, focado na retomada de suas atividades, com o objetivo de devolver à comunidade o ambiente que acolhe e oferece atendimento psicossocial e educação para crianças e adolescentes.
Para tanto, foram destinados recursos humanos e financeiros para:
● Reforma e manutenção das instalações do Instituto Verdescola depois que serviu de abrigo, como: móveis quebrados, pias danificadas, fogão, coifa, materiais para aulas, pintura das instalações, higienização e limpeza;
● Preparação da equipe Verdescola para situações de trauma, com o objetivo de aprimorar a capacidade de acolhimento da comunidade escolar;
● Contratação de 10 funcionários de equipe de limpeza especializada e desinfeção para toda dependência física do Verdescola.
A retomada das aulas ocorreu na última segunda-feira, 13.03, findando a fase emergencial.
A fase 2 vai destinar R$12.303.799,45 a duas iniciativas em benefício à comunidade local. Considerando a vulnerabilidade emocional e psicológica pós-trauma e necessidade de prevenção e diminuição dos efeitos dos desastres naturais, a entidade se prepara para atuar em:
● Apoio psicológico recorrente
Atendimento a cerca de 1.000 estudantes e seus respectivos familiares, e 81 profissionais da Instituição;
● Educação preventiva para áreas de risco
Orientação da comunidade que vive áreas de risco, criando protocolos e manuais de atuação (para casos de necessidade) e contribuindo para que, em longo prazo, os territórios se tornem menos vulneráveis a desastres ambientais.
Adicionalmente, o Verdescola compromete-se com ações de apoio ao retorno para habitação segura para famílias que devem receber moradias ainda esse ano. Considerando, porém, que as atribuições das ações estruturantes de urbanização e habitação são do Poder Público, a entidade aguarda informações pertinentes para desenvolver plano de ação detalhado, em consonância com os interesses comunitários e em diálogo permanente com o território.
Redação/Tamoios News