O grupo “Capoeira Mandinga” organizou o evento e mantém um projeto de inclusão social com 100 crianças e adolescentes do bairro da Costa Sul
Por Rafael César, de São Sebastião
O décimo primeiro “Mareginga” graduou vários jovens capoeiristas do bairro de Maresias, localizado na Costa Sul de São Sebastião. O evento, que é organizado anualmente pelo grupo “Capoeira Mandinga”, começou na sexta-feira (23) e terminou no sábado (24). O grupo, que faz há 11 anos um trabalho de inclusão social com 100 crianças e adolescentes residentes da praia, também promove oficinas culturais e apresentações de samba de roda, maculelêe dança do coco.
A cerimônia aconteceu no Clubinho de Maresias e reuniu cerca de 350 pessoas, segundo os organizadores. A graduação na capoeira, que é conhecida como batizado pelos praticantes, é concedida para aqueles alunos que trocarão de cordão (conhecido como faixa em outras artes marciais). A intenção disso tudo é formar professores e mestres capoeiristas, as faixas têm as cores da bandeira nacional e cada cor representa o estágio que o aluno está.
“Quando as pessoas ouvem a palavra ‘batizado’ pensam que tem um cunho religioso, sendo que não tem nada a ver. A graduação se inicia com o cordão verde, onde o jovem recebe sua primeira queda de um professor capoeirista e estreia seu ciclo na roda de capoeira. A partir daí, as cores das faixas seguem mudando a cada ano até o aluno conseguir receber a faixa branca, que é a de mestre”, explicou o contramestre de capoeira, Gustavo Souza Leite, o Simba.
A solenidade contou com a presença de pessoas de várias cidades do país como, São José dos Campos, Rio Grande do Sul, Londrina e São Paulo. Mauro Porto da Rocha, conhecido como mestre Maurão, é o fundador do grupo “Capoeira Mandinga”, que além de ter uma sede em Maresias, possui inúmeras bases pelo Brasil.
Como o evento foi local, não contou com a participação de capoeiristas estrangeiros como em edições anteriores. A festa já recebeu em algumas edições atletas do Japão, Alemanha, África, Estados Unidos da América, entre outros.
“Estou na capoeira desde criança e tenho quase 40 anos de prática. O grupo “Mandinga” existe há 24 anos e vem crescendo cada vez mais. A filosofia do grupo é a educação, através da capoeira. A capoeira está em mais de 172 países e, com certeza, muito bem divulgada em quesitos técnicos e culturais. Ministro alguns workshops na Alemanha e em outros países. A capoeira é a minha base no aspecto cultural, artístico e educacional. Todas as crianças aqui presentes estão recebendo esses conhecimentos também”, completou mestre Maurão.
Para Ioná dos Santos Pereira, 43, mãe de uma aluno de 12 anos e de outra de 17 anos, a capoeira afasta os jovens da criminalidade. “Sempre incentivei os dois, pois as aulas impedem o envolvimento deles em coisas erradas e ainda serve como defesa pessoal. Eu espero que eles nunca saiam do projeto. Fiquei tão empolgada que inclusive eu começarei a atender aulas de capoeira na próxima quarta-feira. Acho que falta investimento dos órgãos públicos na capoeira”.
O evento e a capoeira para os jovens e veteranos
O garoto de 12 anos, Rodrigo Santos de Oliveira, mais conhecido como Café, estava muito contente por receber o novo cordão. “É muito bom conquistar o cordão e espero conquistar todos. O que mais gosto na capoeira é de encontrar com meus amigos e jogar sem parar. Os professores e mestres sempre falam da importância do treinamento para cada dia ficarmos melhores nessa arte”, disse.
Na opinião de Cléber Almeida, 21, que conseguiu uma bolsa de estudos graças ao trabalho de estagiário feito no grupo, o encontro foi um sucesso. “O evento teve uma troca de energia entre o público e os participantes que eu nunca tinha visto. Acho que atingimos a meta em mais um ano de “Mareginga”. O legal é a troca de ensinamentos que acontece com os mais novos, onde eles aprendem e nós aprendemos a ensinar”.
“A capoeira sustenta uma imagem de um esporte, arte-marcial, dança, de uma cultura e de um estilo de vida. Existem praticantes de todas as idades. A democratização na capoeira está presente nos genes de quem a prática e dela própria”, é o que afirma Everaldo Bispo de Souza, 64, que leva o codinome de mestre Lobão.
“A capoeira é um geopatrimônio da humanidade e está caminhando para uma crescente, apesar de faltar investimentos da parte pública. Nasci na Bahia e comecei na capoeira em 67, minha vida é a capoeira e viajo o mundo com ela. O encontro foi um sucesso e faço questão de sempre participar”, completou Lobão.