Economia São Sebastião

Em meio à crise e recebimento de aporte do governo para saldar dívidas, Companhia Docas prevê panorama melhor para 2017

Tamoios News

Presidente da companhia concedeu entrevista exclusiva ao Tamoios News, para falar sobre os desafios que a companhia tem enfrentado com a crise e as perspectivas

Por Ricardo Hiar, de São Sebastião

A crise econômica no Brasil atingiu vários setores e não foi diferente com o ramo portuário. Segundo Casemiro Tércio Carvalho, presidente da Companhia Docas em São Sebastião – empresa que administra o Porto -, esse setor foi um dos mais atingidos. Em entrevista exclusiva ao Tamoios News ele contou sobre os desafios que o grupo vem enfrentando desde 2015, assim como as novas perspectivas a partir do próximo ano, quando a situação pode melhorar.

Para ele, entre alguns indicativos explicam os resultados da crise sobre o porto, como a queda no valor dos barris de petróleo, a desvalorização da Petrobras e alta do dólar, a falta de confiança no mercado e ausência de novos projetos de investimentos por parte do empresariado.

Carvalho diz que esse panorama, iniciado no ano passado e acentuado em 2016, gerou vários problemas econômicos para a companhia, que entrou no saldo negativo. É por isso que até esta quinta-feira (15), a companhia não havia pago a primeira parcela do décimo terceiro salário aos prestadores de serviços. A diretoria da empresa também não foi poupada e está sem receber os vencimentos há pelo menos dois meses.

Para amenizar essa situação, o presidente da Docas conta que precisou recorrer ao Governo Estadual, para pedir um aporte financeiro, de modo que fosse possível cumprir as obrigações trabalhistas, como os salários e os décimos terceiros, agora no mês de dezembro.

“A partir do momento que observamos que todos os projetos prospectados e que iriam entrar no início desse ano foram postergados e não aconteceriam em 2016 – um deles começa em fevereiro 2017 – pedir esse aporte ao Governo, que também não está bem diante a crise, passou a ser nossa única alternativa para sanar os problemas mais emergenciais”, comentou.

Carvalho afirma que foram tomadas medidas para redução de custos, com contenções de despesas bem drásticas, a ponto de decidir, em conselho, a suspensão do salário da diretoria. “Ninguém gosta de ficar sem receber, mas hoje estamos dois meses sem salário, assim como os conselheiros e isso só vai mudar quando normalizar a situação da companhia”, completou.

Ele conta que foi nesse momento que “bateu na porta” do governo, em busca de apoio. “Apresentamos o problema bem argumentado, mostrando que não se trata de um problema de gestão. Foi a crise, que atingiu primeiro a Petrobras, depois a economia macro-brasileira e chegou na gente. Essa crise é uma das mais violentas já registradas, segundo alguns especialistas, com muitas perspectivas pessimistas e muita gente qualificada desempregada”, destacou.

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Projeto de lei

Como a Companhia Docas nasceu autônoma, ela não pode receber dinheiro para custear suas despesas pelo Estado. Os gastos normalmente precisam ser bancados pela companhia. Ao Governo, só cabe normalmente investimentos para ampliação de infraestrutura, como ajudar a melhorar e modernizar o porto. Qualquer outro tipo de intervenção financeira só pode ocorrer por meio de projeto de lei. Por isso, em meio ao período mais crítico desde o último mês, surgiu a proposta de conseguir uma suplementação para liquidar os débitos da folha de pagamento.

“De pronto trabalho do líder de governo na Assembleia, Cauê Macris, e o deputado Paulo Corrêa Júnior articularam a proposta para conquistar o apoio dos demais deputados. Isso culminou na aprovação da lei”.

O projeto precisou passar por alguns ritos burocráticos, mas foi assinado na manhã desta sexta-feira (16) e o repasse de R$ 8,5 milhões ocorrerá até no máximo na próxima segunda-feira (19).

Com essa ação, será possível pagar os salários atrasados e também as primeiras e segundas parcelas dos décimos terceiros. O Projeto de Lei foi aprovado pela maioria do legislativo após o deputado Paulo Corrêa Jr (PEN) apresentar aos demais deputados a realidade vivida pela Docas, conseguindo a aprovação de 51 votos a favor ao projeto proposto pelo Governador Geraldo Alckmin (PSDB).

“Isso vai dar um fôlego. Estamos otimistas para que as coisas melhorem no ano que vem. Para isso, alguns projetos precisam prosperar. Já estamos falando de quatro novos clientes e também pela expectativa da economia melhorar, para aumentar nosso volume de atividades. Também teremos o reajuste tarifário, que auxiliará a colocar a casa em ordem”, acrescentou.

Hoje há 100 pessoas atuam diretamente na empresa, além de outras 500 que prestam serviços diretos e indiretos e compõem a comunidade portuária.

Histórico

Segundo Casemiro Tércio, que atua na região desde 2011, no ano em que tornou-se o presidente da Companhia Docas, o porto possuía já um déficit financeiro, que foi organizado ao longo dos anos seguintes. “Em 2011 o porto era só barrilha, sulfato e malte, com algumas cargas de projeto. Só tinha 100 mil metros de área, além de uma taxa de ocupação de berços baixa. A primeira ação foi reformar os pátios para recuperar a vinda de veículos. Retomamos em 2011 com 20 mil unidades no ano. Até então, o máximo que já havia operado era 10 mil”, explicou.

De acordo com o que relatou, em 2013 foram quase 50 mil veículos, chegando ao teto de 57 mil unidades no ano seguinte. Em 2015, essa situação começou a mudar e houve redução para 45 mil veículos. Além dessa queda, a crise fez com que as empresas se reorganizassem.

Um dos principais ganhos da Docas era o armazenamento dos veículos por períodos de quase um mês – as vezes mais. “O que dava uma boa receita para a companhia era esse tempo, pois nós ganhamos em várias fases da operação, como a atracação, infraestutura, utilização do canal e armazenagem. No caso dos veículos, o grosso da receita era na armazenagem”, esclareceu.

Para Tércio, algo que comprometeu bastante o andamento da Docas foi a recuperação judicial da empresa Schahin, que na época atuava no porto com cerca de mil funcionários e várias ações no local.”Ela deixou um déficit que hoje deve estar beirando os R$ 9 milhões, rompeu o contrato no meio da operação”, disse.

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Ações

O presidente da Companhia Docas conta que algumas ações foram planejadas para não precisar recorrer ao Governo, como o projeto de exportação de milho. “Estava tudo pronto e ocorreram problemas com a safra do milho e o país deixou de exportar, para importar. Ia fechar no prejuízo, mas se tivesse dado certo, conseguiria pagar as folhas de pagamento, que é o mais importante e não precisar de aporte do Governo”, lembrou.

Ainda foram feitos cortes severos, como diminuição da frota, fim a vigilância terceirizada, mantendo outras formas a segurança, redução de custos operacionais de contratos, entre outros. O ano passado, a empresa fechou com R$ 1,5 milhão negativo. “Começamos 2016 já com esse R$ 1,5 milhão negativo, por isso foi difícil reverter o panorama”, completou.

Ampliação

Apesar de evitar em falar detalhes sobre a ampliação do Porto, que foi suspensa pela Justiça Federal, Carvalho considera de extrema importância. Ele conta que quando assumiu a gestão, o espaço era deficitário. Nesse período foi construído o pátio 3, dentro da licença de operação, chegando hoje a quase 400 mil metros operacionais. O problema, no entanto, é que há a restrição de apenas um berço, motivo pelo qual seria indispensável a ampliação.

“Quem tem um berço só, não tem nenhum. Tem carga que leva três dias para descarregar e outras que levariam oito horas. Qual prioridade para operação? O fato de ter um berço só, gera fila. Fica navio fundeado, que não é bom para o porto, nem para a empresa, muito menos para a cidade, que tem um navio parado ali no meio do canal. Tem navio que fica 40 dias fundeado”, comentou.

Tércio explica que foi aberto um novo processo de negociação. “Espero que o Ministério Público seja sensível com nossa causa e tope esse acordo. Nesse ambiente de crise, se tivermos mais um berço de imediato, permitirá uma diversidade de cargas e atratividade”, completou.

Conforme disse, a nova proposta é tirar o projeto de ampliação do Araçá e reorganizar as unidades de negócio na área que sobrou, para redistribuir as cargas.

Mudança da sede

Dentre as ações que estão em curso para otimizar os gastos da Companhia Docas, está a mudança da sede administrativa para São Sebastião. “Hoje sede operacional fica em São Sebastião e a administrativa em São Paulo. No primeiro trimestres as duas ficarão em São Sebastião”, explicou o presidente da Docas.

Segundo comentou, com a mudança, setores como recursos humanos e financeiro serão fixados no litoral. “Devemos economizar cerca de R$ 1 milhão por ano trazer para cá. Vamos reduzir custos com viagens, condomínio em São Paulo, hora extra de motorista. Também conseguiremos otimizar melhor as pessoas dentro do ambiente de trabalho”, completou.

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