Quem não conhece Dirceia Arruda de Oliveira em São Sebastião? Dona Dirceia, como é carinhosamente conhecida, com 88 anos de idade, completados nesta quinta-feira (4), é uma das mulheres mais atuantes na política, na defesa das mulheres, na defesa dos animais, no meio ambiente e também na cultura, com os seus poemas e poesias.
Nascida no dia 4 de agosto de 1937, na cidade de Olinda, em Pernambuco, de família humilde, mas desde pequena já lutava pelo meio ambiente, principalmente pelos direitos dos animais. Os pescadores da época, bem rudes, passavam a rede e jogavam fora a metade dos peixes, a pequena menina recolhia e levava para as famílias mais pobres e já se importava com a limpeza das praias e dizia: “olha não deixa sujo aí”.
Teve pouco estudo, mas é autodidata, se formou na vida e nos exemplos que presenciou em sua trajetória. De Olinda ela foi com a família para Aquidauana, no Mato Grosso do Sul, e lá conheceu o seu futuro marido, Naylor Telles de Oliveira. Naylor era radialista na Rádio Local ZYX20 e na Rádio Difusora de Aquidauana.
O seu primeiro emprego foi como Locutora, mandava mensagens para as fazendas do Pantanal. Em seguida ela e o Naylor criaram um programa chamado X20, dirigido para a alta sociedade mato-grossense, onde comentavam sobre o “povo chic”, mas alguns comentários acabaram em muita confusão.
A primeira luta em defesa das mulheres começou com os soldados de um quartel próximo da cidade, que queriam dançar com as meninas no baile sem tirar as esporas e esse episódio a direcionou para as associações de proteção à mulher.
Dirceia se casou e foi morar na capital de São Paulo. O seu marido foi trabalhar na Rádio Nacional, em um programa voltado ao social, chamado “Bairros em Desfile” . Em seguida se candidatou na política e foi eleito vereador pela cidade. Acompanhando seu marido, Dirceia conheceu a pobreza do povo da periferia da cidade. E a necessidade em fazer algo levou Naylor a elaborar projetos voltados à carência da população, e assim legislou por 20 anos na Câmara Municipal de São Paulo.
Nesse tempo, Dirceia teve suas duas filhas e foi trabalhar em uma Escola Estadual, Prof Wolny Carvalho Ramos, no bairro da Água Rasa, que na época o ensino era considerado um exemplo. No paralelo seu marido fazia um show chamado “Peru que Fala”, com o grupo do Silvio Santos. Eles se apresentavam em circos, Dirceia lia as enquetes das peças e também cantava, foi assim que acabou descobrindo sua vocação como poetisa e não parou mais de escrever.
Em um passeio na cidade de São Sebastião, acabou participando de uma reunião da Somar, foi onde nasceu duas paixões: a praia de Maresias e a Associação de Amigos (Somar). Morando em São Paulo a família descia todos os fins de semana. Na época, o trajeto para chegar em Maresias era metade por uma estrada esburacada e a outra pela areia da praia. Apesar da dificuldade eles nunca atolaram pelo caminho.
Quando seu marido faleceu, Dirceia se mudou de vez para Maresias e ficou à frente dos trabalhos da Somar, que além da fiscalização e limpeza da praia, por muitos anos disponibilizou vários cursos gratuitos para crianças e adultos: inglês, ballet, teatro, jiu jitsu, judô, crochê, costura e etc. Esses cursos contribuiram na formação de muitos moradores do bairro.
Ela também se envolveu em vários conselhos, ajudou a fundar associações de outros bairros, como na antiga Vila Baiana, fundada pela guerreira Dona Angela. Ajudou a fundar a Associação das Mulheres da Costa Sul e começou a frequentar a Associação de Amparo à Mulher Sebastianense. Se filiou ao Partido Verde e participou de várias campanhas eleitorais apoiando os prefeitos Dr. Ruan, Ernane, entre outros. Nessa época, Dirceia conheceu a falta de estrutura dos sertões, as invasões e construções irregulares nas encostas e as palafitas na beira dos rios. E é óbvio que ela não poderia deixar de frequentar as sessões da câmara municipal.
Sempre presente nas pré-conferências, conferências, audiências públicas e palestras. Foi incansável na luta em prol do Saneamento Básico em Maresias. Chegou a solicitar ao governador Franco Montoro, e, até hoje o saneamento não foi finalizado.
Para Dirceia a poesia é uma maneira de protestar sem ofender: “voz que recolho na mata, indo embora. O rio que chora ao anoitecer… e o mar que protesta nervoso. E grita… mais lixo… ” e “nesse grito que renovo minhas forças”, relata a poetisa.
Dirceia, cita o livro da jornalista Regina Helena de Paiva Ramos, “Cidadania Pede Passagem”, que descreve a luta interminável de todos à frente do trabalho de uma sociedade de amigos de bairros. E cita a frase de um ator desconhecido: “Sonhos nascem em qualquer lugar, mas só florescem onde há a coragem de não desistir”, para ela essa frase deve ter se inspirado nos voluntários da Somar.
Redação/Tamoios News