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Outubro judaico e a vitalidade de uma comunidade no Litoral Norte

Tamoios News
Imagem/Poio Estavski

Outubro é um mês central para o calendário judaico, um período em que fé, tradição e identidade se renovam. Ao longo de três semanas, acontecem algumas das datas mais significativas da religião: o Yom Kippur, o Sukkot, o Shemini Atzeret e o Simchat Torah. Esses rituais, que atravessam milênios de história, encontram eco não apenas em Israel ou nas grandes comunidades judaicas do mundo, mas também em São Paulo e no Litoral Norte, especialmente na Costa Sul de São Sebastião.

O que significam os feriados de outubro

O Yom Kippur, celebrado este ano entre a noite de 1º e 2 de outubro, é conhecido como o Dia do Perdão. Trata-se do momento mais sagrado para os judeus, marcado por 25 horas de jejum, orações e reflexão espiritual. É um dia dedicado à reconciliação com Deus e ao perdão entre as pessoas, num exercício profundo de humildade e introspecção.

Em seguida, inicia-se o Sukkot, a Festa dos Tabernáculos, de 6 a 13 de outubro. Durante uma semana, famílias constroem cabanas temporárias chamadas sukkot, recordando os 40 anos de travessia no deserto após a saída do Egito. É também uma festa agrícola, celebrando a colheita e a confiança na proteção divina.

Ao fim de Sukkot, surgem duas datas de forte simbolismo: o Shemini Atzeret e o Simchat Torah. O primeiro, em 13 de outubro, marca a conclusão do ciclo festivo e pede a bênção das chuvas, fundamentais na tradição agrícola judaica. O segundo, o Simchat Torah, celebrado em 14 e 15 de outubro na Diáspora, festeja o encerramento e o reinício da leitura anual da Torá, com danças, cantos e alegria comunitária ao redor dos rolos sagrados.

Os novos judeus e o retorno das raízes

Enquanto essas datas são celebradas pelas comunidades já estabelecidas, um fenômeno mais amplo vem acontecendo no Brasil: o surgimento dos chamados “novos judeus”. São descendentes dos bnei anussim — judeus forçados à conversão durante a Inquisição Ibérica — que buscam hoje reconectar-se às suas origens.

No Nordeste brasileiro, esse movimento ganhou força: famílias e até comunidades inteiras passaram por processos formais de conversão, criando novas sinagogas e centros de estudo. Trata-se de um retorno simbólico e espiritual a uma identidade que, por séculos, permaneceu adormecida. Esse resgate se soma ao fato de que o Brasil abriga a Kahal Zur Israel, em Recife, considerada a primeira sinagoga das Américas, fundada no século XVII — um testemunho da longevidade e da força da presença judaica no país.

A comunidade judaica na Costa Sul de São Sebastião

Na Costa Sul de São Sebastião, o calendário judaico encontra espaço para se expressar em meio à natureza da Mata Atlântica e à hospitalidade caiçara. Muitas famílias paulistanas estabeleceram sua segunda residência na região, consolidando uma presença marcante e de longo prazo.

Essa presença vai muito além da fé. A chegada e fixação de famílias judaicas impulsionaram a valorização imobiliária, adaptaram o comércio local — hoje com oferta de produtos kosher — e fortaleceram o setor de serviços. Restaurantes, supermercados, padarias e fornecedores locais sentiram o efeito positivo da circulação econômica gerada por essa comunidade.

Mais do que movimentar finanças, os moradores de origem judaica se tornaram parte do cotidiano: bons vizinhos, consumidores ativos e agentes de integração. Ao prestigiarem o comércio local e valorizarem os serviços da região, ajudam a consolidar uma economia mais dinâmica e conectada a São Paulo

Cultura, turismo e projeções

A presença judaica também se manifesta em aspectos culturais, da gastronomia à música, passando pelas tradições familiares que se espalham pelas casas de veraneio. Em outubro, quando os feriados concentram encontros e celebrações, a Costa Sul vive um período de maior circulação de pessoas, favorecendo o turismo e reforçando o papel do Litoral Norte como extensão natural da capital paulista.

Essa vitalidade projeta o futuro de São Sebastião como um território de diversidade e integração. Tradições milenares convivem com a hospitalidade caiçara e a exuberância da Mata Atlântica, em um mosaico que combina fé, memória, economia e convivência. Um vínculo que se aprofunda a cada feriado, a cada temporada, a cada geração.

Por jornalista Poio Estavski