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Dia do Nordestino: a força de quem ajudou a erguer São Sebastião

Tamoios News
construção da Rio/Santos - Imagem Arcervo Digital do Arquivo Nacional

A data que celebra o povo nordestino também reconhece a força de quem ajudou a erguer a cidade de São Sebastião – SP. Duas leis estaduais em São Paulo reforçam esse legado, transformando a homenagem em parte da história do próprio estado.

O Dia do Nordestino, celebrado em 8 de outubro, nasceu em São Paulo e tem suas bases fixadas em duas leis estaduais que consolidam o reconhecimento à contribuição nordestina. A Lei Estadual nº 8.441, de 23 de novembro de 1993, incluiu a data no Calendário Turístico do Estado, e a Lei Estadual nº 12.061, de 26 de setembro de 2005, criou o Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Nordestina, responsável por promover ações culturais e políticas de valorização dessa população em todo o território paulista.

A cultura nordestina moldou a São Sebastião contemporânea. Hoje, boa parte das famílias carrega raízes vindas do Nordeste, em um encontro que transformou a cidade em um território mestiço, de fé, trabalho e afeto.

Quem caminha por suas ruas ouve o sotaque misturado, sente o tempero do dendê, o cheiro do feijão de corda e o ritmo do forró que se confunde com o som das ondas. Aqui, as fronteiras entre nordestinos e caiçaras praticamente desapareceram: as famílias se cruzaram, se uniram e formaram uma identidade própria, onde a herança do sertão e o espírito do mar se misturam.

Hoje, é comum encontrar três gerações de uma mesma família com raízes tanto na Bahia, no Ceará ou em Pernambuco quanto nas praias de Boiçucanga e Cambury. Essa mistura de tradições criou uma cidade única, onde a fé, o trabalho e a convivência se tornaram o cimento da vida cotidiana.

Das grandes obras às novas vilas

A história começa nas décadas de 1950 e 1970, quando São Sebastião recebeu as primeiras levas de migrantes nordestinos para as obras da Petrobrás e da Rodovia Rio/Santos (BR-101). Vieram de várias partes do Nordeste, fugindo das secas e das dificuldades no campo, em busca de emprego e dignidade. Muitos acabaram fixando moradia nas praias, casando com caiçaras e dando origem a comunidades que, décadas depois, se tornariam os bairros populares e vibrantes da cidade.

Nos anos 1980, com o turismo ganhando força, a construção civil e os serviços locais se tornaram o motor da economia em Boiçucanga, Vila Sahy, Areião, Baleia Verde e Barra do Sahy cresceram com pequenos comércios e novas moradias. Foi nessa época que a mãe deste repórter, baiana e comerciante da Barra do Sahy, fincou suas raízes na cidade, tornando-se parte dessa história que uniu trabalho, esperança e pertencimento.

O encontro das crises e o novo ciclo migratório

Na década de 1990, dois eventos opostos no mapa nacional mudaram o destino de São Sebastião. Com o Plano Real (1994), o país estabilizou a economia e o litoral paulista se tornou um dos principais polos de investimento imobiliário e turístico. Enquanto isso, o sul da Bahia vivia a crise da vassoura-de-bruxa, que arrasou as plantações de cacau e deixou milhares de famílias sem renda.

Muitos migraram em busca de trabalho, e o Litoral Norte paulista se tornou destino natural. O resultado foi um crescimento rápido e duradouro das vilas da Costa Sul — como Tropicanga, Areião e Vila Sahy —, que se transformaram em centros de convivência e cultura popular, onde o Nordeste se reinventou à beira-mar.

Do canteiro à liderança

A presença nordestina em São Sebastião não é apenas memória: é presente e futuro. Os descendentes daqueles primeiros trabalhadores hoje ocupam cargos de destaque na política, na economia e na administração pública. O vice-prefeito Reis, baiano, é o rosto mais visível dessa transformação, mas há muitos outros — vereadores, empresários, comerciantes e profissionais de alto escalão — que representam essa força.

O que antes era força de trabalho agora é também força de decisão e de criação. As mesmas mãos que levantaram paredes hoje dirigem empresas, planejam políticas públicas e coordenam ações que moldam o destino da cidade.

Uma cidade mestiça e plural

São Sebastião é o retrato de um encontro bem-sucedido entre o mar e o sertão. As tradições nordestinas e caiçaras se fundiram na música, na culinária e na fé — do forró ao samba de roda, do acarajé ao peixe frito, da reza de santo às festas juninas. Essa convivência criou um território de identidades compartilhadas, onde não há mais “eles” ou “nós”: há apenas nós, sebastianenses.

Celebrar o Dia do Nordestino, em 8 de outubro, é celebrar a própria São Sebastião. Uma cidade feita de migrações, encontros e recomeços — que segue, teimosa e luminosa, sendo o ponto onde o Brasil inteiro se encontra.

Por Jornalista Poio Estaviski