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Jovens assumem papel central na regularização fundiária da Vila Sahy, em São Sebastião

Tamoios News
Imagem/ICC

Dois anos e dez meses após a tragédia climática que devastou a Vila Sahy, um novo capítulo começa a ser escrito no território. O Instituto Conservação Costeira (ICC), em parceria com a Prefeitura de São Sebastião e a Associação de Moradores da Vila Sahy (Amovila), lança nesta quarta-feira (3) o Plano de Cadastramento Socioeconômico da comunidade — etapa inicial da Regularização Fundiária Urbana (Reurb). A apresentação ocorrerá às 19h, no ginásio do Instituto Verdescola.

Diferente dos modelos tradicionais, em que equipes externas percorrem as casas para registrar dados, o projeto adota uma abordagem inédita: jovens moradores da própria comunidade serão capacitados e responsáveis pela coleta de informações. A iniciativa transforma o processo burocrático em um movimento de engajamento social e fortalecimento do território.

Segundo o ICC, a proposta parte de uma premissa simples: “A regularização fundiária só é efetiva quando construída com quem vive o território. Por isso, a juventude da Vila Sahy será protagonista desde o início.”

Resposta à tragédia de 2023

O cadastramento nasce em um contexto decisivo. Em fevereiro de 2023, São Sebastião enfrentou a maior chuva já registrada no país, que resultou em deslizamentos massivos, perdas humanas e destruição urbana — especialmente na Vila Sahy. A tragédia expôs a vulnerabilidade histórica da região e reforçou a necessidade de ações permanentes de prevenção, ordenamento territorial e regularização fundiária.

De acordo com o ICC, o novo plano contribuirá para “garantir maior segurança e qualidade de vida às famílias que vivem em áreas de risco”, criando condições técnicas para que o município avance nas fases posteriores da Reurb.

Capacitação e pertencimento

Os jovens selecionados receberão formação em abordagem comunitária, ética e proteção de dados, leitura territorial, aplicação de questionários e registro das informações que compõem o Boletim de Informações Cadastrais — documento essencial da primeira etapa da regularização.

Além de colaborar com o território, os participantes terão a oportunidade de iniciar trajetórias profissionais no campo socioambiental. “É um projeto que gera pertencimento, conhecimento e novas perspectivas de futuro”, avalia a organização.

Transparência e parceria com a comunidade

No encontro desta quarta-feira, o ICC apresentará o método de trabalho, o cronograma das visitas às residências e os instrumentos de coleta de dados. A Prefeitura, por meio da Secretaria de Habitação e Regularização Fundiária (SEHAB), reforçará a importância da etapa, que subsidiará fases futuras ainda judicializadas e dependentes de novos instrumentos legais e financeiros.

A Amovila, responsável pela mobilização local, destaca que a participação dos moradores será decisiva para a qualidade do levantamento: “O futuro da Vila Sahy passa por esse processo, e cada família precisa estar presente”.

Base técnica para um processo de longo prazo

O cadastramento será coordenado pelo ICC e validado tecnicamente pela SEHAB. Embora esta primeira fase seja conduzida pela organização socioambiental, as etapas seguintes da regularização fundiária seguem sob responsabilidade exclusiva do poder público.

Referência nacional e internacional em conservação costeira, o ICC foi eleito Melhor ONG de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Brasil em 2024 e novamente listado entre as Melhores ONGs do país em 2025, além de acumular nove prêmios internacionais por projetos de restauração e soluções baseadas na natureza.

Por jornalista Poio Estaviski