Uma grande confraternização cheia de música, artes, reencontros e comemorações marcou o Fórum Inclusivo da Semana de Valorização à Pessoa com Deficiência, realizado pela Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência e do Idoso (Sepedi), na noite de quarta-feira (3), no Teatro Mario Covas.
O público foi recebido com o som da Banda Harmonia PcD e puderam circular pelo saguão do teatro para conferir a exposição de artes dos alunos do Núcleo de Artes do Centro Integrado de Atenção à Pessoa com Deficiência e ao Idoso (Ciapi), que frequentam as aulas da professora Karla Terra, artista plástica. Também a Exposição do Programa Inclusão em Movimento, com mostra de fotos, troféus e medalhas conquistados em homenagem a equipe dos atletas que compõem o programa nas modalidades de atletismo, natação, bocha e tênis de mesa.
Em seguida, a plateia curtiu as apresentações “Abecedário da Xuxa”, com usuários do Centro Dia do Ciapi; “No ritmo da torcida” da professora Carolina Moreira; a interpretação em LIBRAS da música “Meu sangue ferve por você” de Sidney Magal, com os alunos de LIBRAS do Ciapi da professora Janaína Ramos; a coreografia “Caminho das Índias” com o grupo de dança do Ciapi do professor Nestor Prado; e a apresentação “Dançando na Chuva” com alunos da APAE.

Apresentação “Caminho das Índias com o grupo de dança do Ciapi do professor Nestor Prado
Na abertura oficial, o prefeito Mateus Silva disse que o trabalho realizado pela equipe da Sepedi é de grande importância para as políticas públicas desenvolvidas pelo governo municipal e para desenvolvimento, crescimento e avanço da inclusão no município.
“Parabenizo à equipe da Sepedi pela Semana de Valorização à Pessoa com Deficiência. Estou muito contente de estar aqui, esta noite, e receber abraços calorosos. Ano que vem, vamos avançar e muito nas políticas públicas inclusivas. Estamos adquirindo um veículo adaptado; implantaremos uma plataforma para acessibilidade comunicacional em LIBRAS em todos os equipamentos do serviço público municipal; reformaremos o Espaço Aventura, no Centro; entre outras ações específicas para nossos munícipes com deficiência”, disse o prefeito.
No ano em que o Brasil comemora 10 anos da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, (Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015), a secretária da Sepedi, Ivy Malerba, disse que foi uma alegria e honra retornar à frente da pasta e refletiu sobre os avanços na trajetória de luta pelos direitos das pessoas com deficiência.

Apresentação “Cantando na Chuva” com alunos da APAE
“No Dia Internacional de Luta pelos Direitos da Pessoa com Deficiência (3/12), a Semana de Valorização à Pessoa com Deficiência e o Fórum Inclusivo também comemoram a evolução das leis, das políticas públicas, do fortalecimento de ações voltadas às pessoas com deficiência em Caraguatatuba e reforça a luta e protagonismo do segmento.
Tudo começou em 1998 em um movimento pela Educação Inclusiva; em 2004 a criação do setor de Educação Inclusiva; em 2010 a inauguração dos Centro de Referência para Inclusão Escolar (CRIES); em 2012 do Centro de Reabilitação no Centro de Especialidades. Ela lembrou ainda que no 1º Fórum Inclusivo, em 2011, houve a instituição do Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência, o Comdefi. No 2º Fórum foi comemorado a criação da Sepedi. Em 2016, a inauguração do Ciapi (Centro Integrado de Atenção à Pessoa com Deficiência), entre tantos outros projetos como a Praia Acessível; Praça Sensorial; Espaço Aventura; Programa de Concessão de Tecnologia Assistiva; Calçada Legal; entre outros.
De acordo com a secretária da Sepedi, neste ano foram realizadas diversas ações pela acessibilidade e inclusão como a formação na Língua Brasileira de Sinais, concessão de benefícios, a consolidação de um calendário anual com eventos e capacitações promotores da cultura inclusiva. “São muitas políticas consolidadas e direitos conquistados em mais de 20 anos. Temos muito a comemorar mas muito para avançar e vamos trabalhar nesse sentido”, ressaltou Malerba.

Alunos do Núcleo de Artes do Ciapi das aulas de arte da professora Karla Terra, artista plástica, se apresentam no palco do Teatro Mario Covas. Vários painéis coloridos estão decorando ao fundo, feito pelos aluno
A presidente do Comdefi, Priscila Moraes Lopes, agradeceu ao prefeito, à secretária da Sepedi e ao presidente da Câmara Municipal, Antonio Carlos da Silva Junior e aos conselheiros por serem parceiros na luta de estabelecer políticas públicas para tornar Caraguatatuba uma cidade cada vez mais inclusiva.
“A nossa Semana está com uma programação cheia de energia e tem diversas atividades que engrandecem a pessoa com deficiência. O intuito é demonstrar como as pessoas com deficiência podem e devem estar onde elas quiserem, e não tem motivo para serem excluídas da sociedade. Esta Semana ressalta diversas histórias, talentos, superações em vários aspectos, incentiva a inclusão e combate cada vez mais ao preconceito, a discriminação e ao capacitismo”, declarou.
Stand Up Comedy de Jeffinho Farias arranca gargalhadas do público
O humorista, ator, roteirista e palestrante Jeffinho Farias, que ficou cego aos 11 anos em decorrência de uma trombose cerebral, foi uma das atrações da noite, no Teatro Mário Covas, com a palestra motivacional e stand up comedy “Eu decidi enxergar”.
Com muito bom humor, Farias, que participou durante 11 anos do programa “A Praça é Nossa”, no SBT, contou diversas situações desde que perdeu a visão aos 11 anos devido a uma trombose cerebral.

O comediante, ator, escritor Jeffinho Farias faz palestra motivacional e stand up comedy “Decidi enxergar” no palco do Teatro Mario Covas. Ele usa camisa verde de mangas compridas e calça larga bege
Aos 34 anos, ele narrou à plateia, a vez que estava dançando com uma menina e sua bengala estava dobrada no bolsa e a acompanhante achou que era uma arma, porque ele tinha vergonha de exibir o equipamento assistivo. Ou sobre os pisos táteis, que são referências para locomoção dos cegos, que acabam de uma hora para outra em um prédio ou nas ruas e que já causaram muito transtorno e para ele e outros cegos, que se perderam no caminho por este motivo. Essas e outras situações embaraçosas e capacitistas vividas por Farias e amigos viraram aprendizado e piadas.
“São muitas as faltas de acessibilidade que as pessoas com deficiência se deparam no dia-a-dia. As arquitetônicas ou físicas, as comunicacionais e as atitudinais, entre outras. Mas a pior é e a atitudinal. É o desconhecimento das pessoas em relação à vida de uma pessoa com deficiência. Temos que desmistificar isso e para isso temos que falar sobre como é a nossa vida”, afirmou.
Ele conta que ele próprio teve que se aceitar quando ficou cego. A princípio se revoltou muito com a nova condição, até aceitá-la. Não queria aprender a usar bengala, e aí sofreu vários acidentes andando sem ela, até que passou a utilizá-la. Também aprendeu Braile, um sistema de escrita e leitura tátil para as pessoas cegas, para ter mais autonomia. Foi estudar História na Universidade Federal Fluminense (UFF) e teatro na UniverCidade (RJ).
“Costumo dizer que nós, pessoas com deficiência, passamos por quatro estágios e que são as seguintes regras de ouro: aceitação, adaptação, ação e avançar. Você se aceita como é, se adapta ao mundo com sua nova condição, não pode parar e aí tem que agir para desenvolvimento e crescimento próprio e avançar na vida. Foi o que aconteceu comigo”, declarou.
Atualmente, Jeffinho Farias está encenando a primeira comédia romântica do mundo escrita e protagonizada por uma dupla de atores cegos: ele e a atriz, cantora, compositora, autora e escritora Sara Bentes, com direção de Bel Kutner.
“Nesta encenação mostramos a vida de um casal com deficiência que mesmo com todas as suas especificidades e particularidades vivenciam o que há de comum com todos os casais. O enredo mostra como os seres humanos se igualam em suas diferenças”, disse Farias.
Ao público Jeffinho deixou dois recados: às pessoas com deficiência que sigam as quatro regras de ouro de aceitação, adaptação, e principalmente ação e avanço e, aos pais e familiares, que incentivem seus PcDs a serem independentes e tenham um propósito de vida e se realizarem pessoalmente e profissionalmente.
“Clareou” em LIBRAS
Outra apresentação que emocionou o público foi a dos alunos do instrutor dos cursos de LIBRAS da Sepedi, básico e intermediário, Alan Miranda. Eles encenaram junto com o professor, no palco do teatro Mario Covas, a música “Clareou”, do cantor e compositor Diogo Nogueira. Ao final foram aplaudidos de pé.
Miranda disse que foi uma prova de proficiência para os alunos das duas turmas e que escolheu “Clareou”, pela mensagem da letra de superar os obstáculos impostos pela vida com fé e cabeça erguida.
“Estou muito emocionada com resultado de vocês. Foi lindo demais. Parabéns a todos que decidiram fazer LIBRAS e ampliar e levar essa cultura inclusiva adiante”, disse a secretária da Sepedi.
Para a aluna Viviane Cristina dos Santos Silva, servidora pública, foi um desafio aprender a Língua Brasileira de Sinais. “O curso de Libras mostrou que eu posso fazer a diferença na vida de alguém. Ver o sorriso no rosto de uma pessoa surda quando eu me comunico com ela, abriu meus olhos para um mundo que eu sabia que existia”, declarou Vivi.
Roda de Conversa sobre superação
Os professores de natação e atletismo do programa Inclusão em Movimento, Thiago Intrieri e Rodrigo Brandt conduziram uma roda de conversa com Adalberto Romano, 70 anos, e Adalberto Romano Junior, 43 anos, paratleta da natação; com Fabiana de Barros Soares Santos, 54 anos, mãe da paratleta Amanda, 31 anos, que fazia paratletismo e faleceu há pouco mais de um mês; e com João Vitor Custodio, 27 anos, e a mãe Dayane Oliveira Silva, 43 anos.
Adalberto, pai, contou que o filho jogava futebol e teve passagens pelo Corinthians e pelo São Paulo. Aos 19 anos sofreu um acidente grave de carro com outros atletas e teve traumatismo craniano, entrou em coma, ficou um ano no hospital e, posteriormente, levou oito anos para recuperar parte dos movimentos das pernas e braços e a fala.
“Meu filho quase morreu. E quando saiu do hospital lutamos muito para que ele se recuperasse. Chegamos a Caraguatatuba, em 2012, e o Betinho foi treinar com o Thiago (Intrieri). Hoje meu filho é realizado no esporte. Conquistou muitas vitórias graças ao trabalho desenvolvido pela prefeitura de Caraguatatuba. Sou muito grato a todos que nos acolheram e transformaram nossas vidas”, afirmou.
Também Fabiana de Barros disse que Amanda tinha 16 anos quando sofreu um acidente vascular isquêmico e perdeu a fala e os movimentos do corpo e foi recuperando aos poucos.
“Quando ela descobriu o esporte, primeiro a natação com o Thiago e depois o atletismo com o Rodrigo e o Fernando, minha filha se tornou outra pessoa. Treinar e competir, estar com os colegas e os técnicos era motivo de muita alegria para ela. Só tenho a agradecer pela segunda família que eles se tornaram para a Amanda”, disse.
No caso de Dayana, ela contou que ao receber a notícia aos 16 anos que o filho João Vitor havia nascido com glaucoma e que ficara cego, não aceitou o diagnóstico.
“Era muito nova e não sabia lidar com a situação. Quando nos mudamos para Caraguatatuba o João Vitor foi praticar esportes com o Felipe (Leite), o Thiago e o Rodrigo. Aos 13 anos ele passou a se destacar no Goalball (um jogo para pessoas com deficiência visual cujo objetivo é lançar a bola na rede adversária com um movimento de arremesso, enquanto os jogadores adversários tentam bloqueá-la com o corpo), nos campeonatos”, contou.
Hoje João Vitor, está em um dos três times principais de Goalball de São José dos Campos, é destaque no judô até 80 kg e se prepara para no próximo ano atingir o índice para fazer parte das próximas paralimpíadas.
“Meu conselho aos pais de pessoas com deficiência é que deixem seus filhos irem à luta. Deixem que eles tenham as experiências positivas e negativas, que eles vivam como querem. Deem apenas incentivo, amor e estejam ao seu lado”, disse João Vitor.
Atletas paralímpicos de Caraguá brilharam em 2025
A noite foi finalizada com uma homenagem aos paratletas de atletismo e natação que fazem parte do programa Inclusão em Movimento e aos que se destacaram este ano em competições.
A última grande conquista do time de natação foi na Seleção Paulista de Natação, que ficou em 1º lugar, nos Jogos Escolares Brasileiros, e foi composta por cinco nadadores de Caraguatatuba, Arthur Demétrio, Beatriz Janete, Daniel Segurado, Lívia Carmo e Thauan Rioli, com o técnico Thiago Intrieri.
No atletismo, Ellen Cristina Dias Braga (classe F32) conquistou o 3º lugar no Campeonato Brasileiro Loterias Caixa 2025, com os técnicos Fernando dos Santos e Rodrigo Brandt, realizado entre os dias 1º e 3 deste mês.
Fonte: Prefeitura Municipal de Caraguatatuba


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