Jogo que estimula suicídio entre adolescentes pode ser falta de diálogo em família
Por Leonardo Rodrigues, de São Sebastião
O jogo online conhecido como “Baleia Azul”, que estimula a automutilação, e que tem sido apontado como o responsável por diversos casos de suicídio entre jovens no mundo todo, inclusive no Brasil, pode ser o escape para crianças e adolescentes que estão em depressão.
A Baleia Azul tem como base a relação entre os desafiantes (também chamados de jogadores ou participantes) e os administradores. O jogo, dividido em 50 etapas, envolve uma série de tarefas que os participantes devem completar diariamente, tendo como último desafio o suicídio.
Em entrevista ao Tamoios News, a psicóloga Aline Ribeiro explica que os adolescentes e jovens que se envolvem com jogos assim já apresentam sintomas de depressão. “É preciso entender que eles não vão estar depressivos depois de jogarem. Eles já estão em sofrimento. Quando entram nesses jogos é para buscar coragem e acabar com a própria vida. Eles estão em busca, na verdade, de pertencer a algo. O que a adolescência traz muito”.
Segundo a profissional, quando os jogadores encontram um grupo, que diz compreender o sofrimento pelo qual estão passando, seguem e confiam no mesmo instante em que também começam a se distanciar da família.
Aline aponta a incoerência de se viver na era da informação e, ainda assim, existir pouco diálogo. “Hoje em dia, as pessoas estão o tempo inteiro nas redes sociais e em outras atividades, e não tem tempo de olhar para o sofrimento do jovem, e perceber alterações comportamentais”. Segundo informou, falta atenção dos pais, ou responsáveis. “Ou que se percebe é, às vezes, você estar tão ocupado que vai deixando para depois”.
Adolescentes que apresentam um quadro de depressão percebem a falta de atenção dos pais e criam barreira para relacionamento próximo. “O que propicia a busca por um grupo no qual se identifique e passam a achar que o diálogo acontece. Falta a atenção dos pais. Falta o olhar”, ressalta.
Em sua avaliação, se o relacionamento não foi desenvolvido pelos pais, os adolescentes acabam se escondendo atrás do computador. “Até porque na Internet é até mais fácil você se abrir, do que ter uma conversa com alguém frente a frente”.
Para ela, é importante frisar que, embora seja a era da informação, existem várias maneiras de se comunicar. “No online é impessoal e você perde muito da empatia. Assim, os adolescentes se sentem mais livres para falar o que querem com quem nunca viram e os pais também acabam se escondendo em seus afazeres”.
Outro fator comum apontado por Aline é o vício dos jovens na internet, ou em jogos online. “Há pais que se sentem aliviados por pensarem ser um afazer a menos. Às vezes, há tarefas domésticas, ou trabalhos pendentes e ao olharem o adolescente ou a criança quieta no computador, acham que está tudo bem. E cada vez mais não desenvolve essa habilidade social, cada vez mais introspectiva e preferindo relações virtuais”, disse a psicóloga.
Para se evitar situações tardias, ou de sofrimento, é preciso que pais, ou responsáveis se dediquem a estarem integralmente presentes. Outra coisa é não menosprezar a aflição ou agonia de alguém.
A psicóloga aponta que, embora há informações disponíveis, também existe falta de interesse em buscar a ajuda de um profissional, e perceber e compreender as mudanças de comportamento dos adolescentes.
Ela classifica que estas situações criam um “abismo” entre os pais. O que torna difícil o adolescente se abrir e falar o que esta sentindo, e pelo que está passando. “Isso quando não são recriminados com frases do tipo: ‘Você não tem motivo, vai trabalhar. Você é saudável, não tem do que reclamar’”.
Alertas – O termo “Jogo da Baleia Azul” refere-se a um suposto fenômeno que surgiu na Rússia. Acredita-se que o jogo está relacionado com mais de 130 casos de suicídio no mundo. O termo “Baleia Azul” refere-se ao fenômeno de baleias encalhadas, supostamente suicidas.
Os pais ou responsáveis devem ficar alertas ao detectarem postagens de baixa autoestima nas redes sociais; isolamento (afastar-se da família e dos amigos); falas em morte e suicídio, mesmo que indiretamente, com vontade de “sumir”, desaparecer, ir embora; tentativas de suicídio anteriores ou recentes; história de suicídio ou tentativa na família; situação de bullying; comportamentos autodestrutivos (automutilação, uso de álcool e drogas, exposição a situações de risco); abuso sexual prévio ou recente; mudanças de comportamento em geral (muitos pacientes não compartilham seus pensamentos sobre a vontade de cometer suicídio, então, estejam atentos as mudanças de comportamento); pessoas que vêm com quadro depressivo, melhora repentina (podem simular melhora para conseguir executar o ato suicida); exposição à violência; perda do interesse em atividades que costuma fazer; perda do interesse nas pessoas; preocupação repentina com morte, morrer e violência; mudanças no hábito do sono (insônia ou aumento de horas dormindo); mudança nos hábitos alimentares (perda ou aumento de apetite); irritabilidade, crises de raiva; piora no desempenho escolar; interesse anormal por filmes de terror, passando horas assistindo; recusa a ir à escola.