Porto São Sebastião

Sindicato dos Operadores defende exportação de cargas vivas em São Sebastião

Tamoios News

Fazenda Serramar, em Caraguá, serve como”estação de pré-embarque”, onde animais são descarregados e tratados antes de serem embarcados

Por Daniele Murillo.

A exportação de cargas vivas através do porto de São Sebastião tem gerado controvérsias. Tem gente que defende a atividade; e, ambientalistas, se posicionando contra. O Tamoios News tem abordado o assunto, ouvindo sempre os dois lados.

 

Para esclarecer algumas questões a respeito das operações de exportação de gado vivo no Porto de São Sebastião, conversamos com Luiz Felipe da Costa Santana, representante da SOPESP (Sindicato dos Operadores do estado de SP) e membro do CAP (Conselho de Autoridade Portuária) de São Sebastião.

Luiz Felipe explica que sua intenção é defender a visão dos operadores a respeito do assunto, e isto independe da opinião pessoal dos mesmos. A ideia é, tão somente, esclarecer como as coisas funcionam. Segundo ele, além dos empresários, como ele, envolvidos nas operações, o SOPESP também é favorável ao embarque deste tipo de carga no porto sebastianense.

Luiz Felipe explica que, atualmente o Brasil já é o maior exportador de proteína animal no mundo, porém, de outras formas, como cortes congelados e prontos para consumo, e agora, desponta como um dos maiores exportadores de gado vivo no mundo, rivalizando com a Austrália. Tal prática começou a ser adotada em função de situações de guerra e também questões religiosas.

Ele nos conta que as primeiras operações do gênero, aqui em São Sebastião, aconteceram por volta de 1997, porém, eram em menores quantidades e também com menos frequência. Ele nos dá um panorama de como as operações são feitas atualmente, acompanhe;

Existem hoje no país 3 portos que fazem este tipo de exportação: O Porto de Rio Grande – RS, atende Rio Grande do Sul, Santa Catarina e o sul do Paraná, o Porto de São Sebastião – SP, atende a região do norte Paranaense, São Paulo, Mato Grosso do sul, sul do Mato Grosso, Goiás, Minas, podendo vir a atender fazendas do sul do RJ. O terceiro é o Porto do Pará, que atende a Vila do Conde no Pará, as fazendas do norte do país de um modo geral, norte do Mato Grosso e do norte do Centro Oeste.

Esta divisão acontece justamente por conta da logística, segundo Luiz Felipe, para minimizar qualquer tipo de estresse para o animal. Cada um destes portos atende a uma hinterlândia territorial (local onde existe a formação do lote que vai ser exportado).

O gado sai da fazenda onde é criado, é levado para uma região chamada EPE – estação de Pré embarque – uma fazenda aonde existe todo um regramento de tratamento para o animal, com cobertura do ministério da agricultura e pecuária e veterinários que acompanham todas as adequações necessárias ao processo. Sua alimentação passa da natural (capim) para uma ração, e somente após 21 dias, tempo que é exigido por lei, ele poderá ser embarcado. Estas estações de pré embarque estão distribuídas na região sul, sudeste (especialmente em SP) e no norte, próximas à Vila do Conde no Pará.

Na época em que começaram a ser realizadas aqui em São Sebastião, estas operações aconteciam somente uma vez ao mês, com média de 1.000 cabeças por embarque. Atualmente, temos a média de 4 embarques por mês e uma média de 5.000 mil cabeças por embarque. Ele salienta que este tipo de operação é de suma importância para a comunidade portuária, visto que recentemente houve uma forte baixa de movimentação de carga no Porto de São Sebastião, que já é restrito, em comparação aos demais portos do país.

Operações como estas equilibram a atividade portuária de um modo em geral, especialmente para os trabalhadores da região, que se mantêm e sustentam suas famílias, de forma que todos os valores advindos destas operações retornam, de alguma maneira para a cidade. Quanto aos valores, ele ainda comenta que pelo menos 5% do valor gerado em cada operação realizada no Porto fica para a cidade e este universo de valores arrecadados são importantíssimos para a economia local.

Quanto aos cuidados com os animais, Luiz Felipe explica que quando o navio atraca, o representante do mapa sobe à bordo para verificar as condições de fornecimento de alimento e água, somente após estar tudo dentro das exigências é que são liberados os embarques, a comida e a água obrigatoriamente já devem estar à disposição dos animais, comenta ainda que os animais ganharam peso, por volta de 20 quilos cada, durante o trajeto da viagem, segundo dados das últimas operações aqui realizadas.

Quanto à quantidade de alimentos, é feita uma projeção e quando, por algum motivo, eles verificam que pode haver falta, é feita então uma escala, em algum outro porto no caminho, em geral na Espanha, onde é feita a reposição dos alimentos.

Além das baias normais, existem as chamadas “baias hospital”, e qualquer animal que seja identificado com qualquer tipo de problema, é separado e levado para observação e cuidados especiais, e reforça: “o que é preciso entender na questão dos cuidados, é que os maiores interessados no bem estar do animal, é quem vende e quem compra” e afirma que toda a tripulação envolvida trabalha para que os animais cheguem aos seus destinos na melhor forma possível, tanto de saúde como bem estar.

Ainda sobre a questão do bem estar, perguntamos à Luiz Felipe sobre os caminhões que, supostamente, ficam parados com os animais, próximo à fazenda Serramar, em Caraguatatuba. Ele esclarece que, a própria fazenda possui a sua criação de gado, e que ali permanecem, por volta de 10 a 15 mil cabeças todos os dias, porém, espalhadas por toda a fazenda. Ao mesmo tempo, a fazenda Serramar é hoje uma EPE e recebe esporadicamente os animais que serão exportados para um determinado cliente.

Assim como explicado acima, os animais somente são liberados para transporte após os 21 dias de adequação feitos na EPE. Neste momento, onde concentram-se em torno de 5 a 6 mil cabeças a mais na fazenda é que acontecem as reclamações, por conta do odor que muitas vezes se espalha pela região. Porém, ele afirma que os caminhões não ficam parados com animais dentro e que o transporte só é liberado quando os animais estão prontos para seguir viagem.

Outra informação importante é que medidas estão sendo tomadas para minimizar esses possíveis problemas, como por exemplo a questão dos odores. Ele admite que as atividades portuárias não podem incomodar a cidade e justamente por este motivo a intenção é melhorar as condições da operação como um todo, não só para os animais como para a cidade. A prática hoje é que, nenhum caminhão pode sair de uma EPE sem ser devidamente lavado para que o animal possa embarcar.

Quanto à melhoria da logística, a chegada dos caminhões devem acontecer preferencialmente à noite, e após descarregarem os animais são devidamente lavados outra vez para poderem sair do Porto. Tal lavagem é feita com caminhões de sucção para poder retirar os excessos que ali estão. Ele enfatiza que existe todo um cuidado da parte do Porto, para que estes dejetos sejam devidamente tratados.

Além das lavagens dos caminhões de transportes, outra medida adotada é a lavagem anterior ao recebimento dos animais, no próprio porto, com um produto que dá uma essência de eucalipto, para inibir possíveis odores durante a operação. E no decorrer da operação, se necessário, também são feitas lavagens em pontos estratégicos da cidade, como por exemplo na Av. Guarda Mor Lobo Viana. Segundo ele, todo este cuidado tem sido tomado para melhorar e criar o menor impacto possível à todos.

 

2 Comentários

  • Reportagem muito esclarecedora e espero que os ambientalistas e outras entidades passem a conhecer melhor todos estes cuidados com os animais e parem de falar do que não sabem. O porto de S.Sebastião hoje precisa demais destas cargas vivas e como os srs ambientalistas têm conseguido seguidos atrasos na ampliação do porto, a dependência com esse tipo de carga se tornou muito grande, caso contrário mais trabalhadores portuários ficarão sem emprego, aumentando ainda mais o contingente de pessoas nesta situação por aqui.

  • Reportagem esclarecedora?
    A Tamoio News informa nos inicio da reportagem que ouve sempre os dois lados, porém não consta nesta matéria qualquer parecer de um ambientalista, o que me leva crer que a reportagem é de cunho tendencioso!
    Se ouve os dois lados, por favor façam uma reportagem completa!

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