Meio Ambiente

Sítio em Ilhabela produz comida e água de maneira autossustentável

Tamoios News
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Agrofloresta pode contribuir para ajudar comunidades e resgatar o Meio Ambiente na região

Por Marcello Veríssimo

Antes de os recursos hídricos terminarem, e de todas as atrocidades que a humanidade comete contra o meio ambiente, como o desmatamento, a estiagem e outros desastres naturais devastarem totalmente o planeta, todo ser humano deve conhecer uma agrofloresta.

Trata-se de um reduto ambiental com suas características geográficas adaptadas à realidade local, capaz de produzir comida para animais e seres humanos, além de contribuir para o verdadeiro milagre de auxiliar os rios e o lençol freático das localidades.

Saindo da balsa, em direção ao extremo sul de Ilhabela, admiramos o cenário paradisíaco e, aos poucos, enxergamos também que, apesar da situação econômica brasileira, somada à crise hídrica e aos escândalos de corrupção, o arquipélago paulista – assim como todo Brasil – vai se adaptando à nova realidade. Cada um deve cuidar do que é seu, do que produz, inclusive do lixo.

Por esse caminho, após a Ponta Sela, na avenida Perimetral Sul, altura do 14.446, na Ponta de Itapecerica encontramos o Sítio Santa Seiva, uma área com mais de 25 mil hectares, praticamente autossustentável, com diversidade de ecossistemas e construções ecologicamente corretas.

“Entende-se por agrofloresta, uma floresta onde se tem a preocupação de respeitá-la fundamentalmente e adequá-la para que a mesma produza para bicho e gente, e material para que bicho e gente façam suas moradas”, explica o dono do sítio, o bioconstrutor Galeno Simões.

A agrofloresta se reaproveita de quase tudo na natureza, como se ela mesma estivesse em processo de reciclagem. “Entram cascas, fibras, folhas, raízes, cipós nas construções”, disse Galeno. Na tendência de não ao glúten, escassez de água e sustentabilidade, o assunto agrofloresta também é relativamente novo no Brasil. “[Até pouco tempo] Não existia esta preocupação de que se faz uma devastação para plantar capim e criar gado, que essa é a realidade brasileira: a pecuária faz esse estrago violento, não só bovinos e caprinos, como também na lavoura coloca o arado e se planta soja”, completa o bioconstrutor.

A produção de milho, por exemplo, cultiva espécies que já estão desaparecendo, como o milho andino, indígena brasileiro, e o milho caboclo, caboclinho. “Milho é um alimento já transgênico”, conta Galeno. “Eles cortam tudo, desmatam tudo e plantam agriculturas impróprias. A agrofloresta vem salvar, modificar esse conceito: é uma floresta, mas também existe uma agricultura adequada à realidade da região para que essa floresta se faça”.

Durante os anos de trabalho, Galeno realizou estudos em sua área de 25 mil metros que, segundo ele, “era totalmente devastada”. “Foi então que resolveram estudar as espécies que melhor se adequavam à região, não só na sua função de enriquecer a cadeia alimentar; mas também em se tratando de uma encosta muito íngreme, nós colocamos espécies contentoras dessas erosões prováveis”, comentou.

Tudo vive em harmonia no Sítio Santa Seiva em um trabalho realizado há 40 anos. “Eu sozinho não sou nada, você sozinho não é nada, mas se nos juntarmos nós fazemos pontes”, filosofa. Essa ponte retratada por Galeno se observa na prática no sítio. “Enquanto os tucanos, periquitos, papagaios se abastecem dos frutos das palmeiras, ao mesmo tempo em que construímos as casinhas das galinhas, as necessidades das galinhas nós levamos para fazer adubo”, explica Galeno sobre um pouco da rotina do trabalho.

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Quando Ilhabela passa por grandes estiagens, logo percebemos diminuição no volume de água das cachoeiras, consequência da falta de árvores. A crise hídrica, se houver solução ao longo prazo, será o replantio da mata ciliar já destruída por muito tempo pela humanidade. “Uma floresta não precisa ser devastada, ela precisa ser adequada para receber o homem e tudo que o acompanha”.

Culturas Renováveis – O bioconstrutor cita os benefícios do bambu, por exemplo, que não substitui a madeira em todas as suas atividades, mas é um coadjuvante importante. Ele colabora em média 60% para evitar desmatamentos, podendo ser utilizado de diferentes formas. Além do bambu, Galeno ensina que as podas de árvores devem seguir critérios e, em caso de descarte, que seja em local adequado. “Quando você vai fazer uma poda veja o ser que habita na árvore. São como nossos membros. Toda madeira descartada nas caçambas, no lixão de Ilhabela, eu aproveito tudo”.

A agrofloresta se aproveita de várias possibilidades. Acompanhado das galinhas Odete e Odara, Galeno nos leva ao “galinheiro orgânico”, onde produz frangos e ovos orgânicos. Tudo muito bem organizado e limpo, sem insetos, sem odor. As galinhas comem uma espécie de massa orgânica com farelo de milho, de trigo e de arroz, sem hormônio, o que faz com que as penosas coloquem aproximadamente dois ovos por dia. Diferente daqueles comprados no supermercado, o ovo orgânico exibe um aspecto de 100% natural.

O ovo é o segundo alimento mais importante do mundo, só perdendo para o leite materno. “A avicultura no Brasil não existe mais, virou uma fábrica de carne e de ovos”, Galeno disse. “Nossa galinha bota seis meses e meio, as deles [durante] 40 dias bota, bota, bota, depois vai para a máquina virar ração. Tem gente que acha que o ovo vem da caixinha, aqui [no sítio] provamos que não”, disse Simões já a caminho da horta orgânica, outra faceta da agrofloresta cultivada com amor.

A horta orgânica também pode ser feita em casas e apartamentos, para cada pessoa ter seu próprio tempero, sem precisar consumir os industrializados. “Tem pessoas que possuem um pedaço de terra e não sabem o que fazer com ela. Se você quiser colher, você tem que zelar”. E Galeno colhe. Da horta para a cozinha saem mostarda, cebolinha, manjericão, couve, alface, brócolis, acelga, quiabo, repolho, entre outras verduras e hortifrutigranjeiros.

Apesar da falta de apoio de políticos e de incentivos do Ministério da Agricultura, Galeno acredita que a agrofloresta pode ser uma saída para a crise das comunidades ribeirinhas e tradicionais da região. Por isso quer repassar seus conhecimentos para interessados no assunto. A partir de agosto, está programando cursos de capacitação para produtores.

Para saber mais ligue (12) 3894 2100

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