Parte dos coqueiros replantados na faixa de areia em praias de Caraguá está ameaçada de cair. Suspeita-se que os coqueiros já estavam com problemas quando foram replantados na rola. Enfraquecidos em sua base, os coqueiros são derrubados pelas ressacas e ventos fortes. A administração atual pretende remove-los, substituindo-os por espécies nativas
Por Salim Burihan
Coqueiros plantados nas areias das praias de Caraguatatuba estão ameaçados de cair. A erosão costeira, a senilidade e o ataque de pragas e doenças são alguns dos principais fatores que ameaçam os coqueiros. Técnicos do Embrapa, no entanto, alegam que boa parte deles apresentam “estresse nutricional”.
As ressacas e os ventos fortes colaboram para a derrubada das plantas que apresentam comprometimento estrutural e estão frágeis. Existe a suspeita, também, de que os coqueiros tenham sido trazidos jovens ou adultos de outras regiões onde tiveram problema de nutrição ou de solo e replantados nas praias.
Marco Santos, da Flora Paraty Paisagismo, que plantou alguns coqueiros para quiosques da Martim de Sá, disse que é difícil reconhecer as condições das plantas que chegam de fora da região, na fase jovem ou adulta para serem replantadas a beira mar.
“Não tem jeito de ver isso. A maioria planta na areia e deixa a Deus dará. Coqueiro tem que ser alimentado. 99% deles apresenta afunilamento do estipe devido ao “sofrimento” para superar o replantio”, explicou.
Coqueiros com problema de afunilamento de estipe podem ser vistos em várias praias da cidade, entre elas, Martim, de Sá, Capricórnio, Massaguaçu, e Mococa. Em algumas praias, como a do Capricórnio, os moradores fizeram um reforço de concreto na base dos coqueiros para evitar que eles possam cair em caso de ventos mais fortes.

No Capricórnio, moradores “reforçaram” a base das plantas
Parte dos coqueiros derrubados pela força dos ventos ou pelas ressacas acaba sendo reaproveitada. Na praia do Centro da cidade, por exemplo, a escola de vela utilizou os coqueiros para construir uma “barricada” para proteger o local da ressaca e maré alta.

Coqueiros caídos na praia foram reaproveitados para fazer “barricada” contra avanço da maré
A maioria dos coqueiros replantados nas praias pela prefeitura não são nativos, vieram de outras regiões e não se adaptaram por aqui. A prefeitura de Caraguá confirmou que são espécies de outras regiões que foram replantadas na cidade.
Prefeitura
Segundo a Secretaria de Meio Ambiente, Agricultura e Pesca (SMAAP), não existe nenhuma técnica para recuperação de coqueiros. São espécies exóticas, principalmente da família cocus nucifera (coco da bahia).
Segundo a secretaria, periodicamente é feita manutenção, com remoção de folhas mortas, manutenção do coroamento, além de remoção dos exemplares com comprometimento estrutural, mas não existe nenhuma metodologia para “recuperação”.
O Plano Municipal de Arborização Urbana prevê a gradual remoção destes exemplares e substituição por exemplares de espécies nativas. Estas espécies são mais adequadas tanto à arborização urbana como às características ambientais da região, especialmente clima, por essa razão desenvolvem-se melhor e tem maior tempo de durabilidade ambiental.
Embrapa
Consultamos a Embrapa sobre o assunto. Falamos com a pesquisadora da Embrapa Tabuleiros Costeiros (Aracaju, SE) Joana Ferreira, especialista em pragas do coqueiro e com o pesquisador Humberto Fontes, da mesma Unidade da Embrapa, especialista em produção do coqueiro.
Segundo Joana Ferreira, pelo sintoma observado na base do estipe das plantas não se trata de uma doença. A planta, ainda jovem, sofreu um estresse abiótico (nutricional, hídrico) que causou um afilamento na extremidade do estipe. Cessado o estresse, a planta se recuperou, aumentou o diâmetro do estipe e passou a se desenvolver normalmente.
Joana explicou que as doenças mais comuns em coqueiros são as causadas por fungos e nematóides. Embora, existam outros patógenos, de causa ainda desconhecida, que também, podem causar danos à planta.
O pesquisador Humberto Fontes ficou impressionado com as fotos que lhe enviamos. “Nunca tinha visto algo assim. Esse estreitamento da parte da base do estipe não é causado por doença. Esses coqueiros, que devem ter sido replantados jovens ou adultos, possivelmente enfrentaram problemas de nutrição hídrica ou de solo no local onde foram cultivados”, explicou.

Técnico da Embrapa ficou surpreso com o afunilamento da estipe ao ver as fotos enviadas pelo Tamoios News
Segundo ele, ao selecionar o tipo de planta que será plantada, tem que considerar se o tipo de solo e as condições climáticas locais correspondem, satisfatoriamente, às necessidades do coqueiro.
O técnico explicou que ventos e a maresia não interferem na vida dos coqueiros. “Mas, em excesso, provocam secamento nas folhas, que, de certa forma, interfere no desenvolvimento pleno da planta. Mas, o coqueiro sobrevive”, disse.
Se a remoção das espécies ameaçadas seria a única solução, Fontes afirmou que sim. “ Sim. Pois, as plantas com esse afilamento pronunciado ficam mais vulneráveis à tombamento, em presença de ventos fortes ou mesmo com o crescimento continuado da planta, que vai ficando mais pesada acima desse ponto. O ideal seria retirar essas plantas e as substituir por coqueiros mais jovens, fazendo o transplantio de forma correta, ou plantando o coqueiro na fase de muda.