Denise Rangel, 48, criadora do projeto Revela
Projeto Revela une a moda náutica com geração de trabalho e renda
Por Marcello Veríssimo
O 1º Ilhabela Boat Week, realizado no Parque Municipal Fazenda Engenho D’Água, na região da Vila, é uma ótima chance de fechar bons negócios. De pranchas de Stand Up Paddle até lanchas e iates, com preços variando de R$ 1 a R$ 12 milhões, a feira náutica reúne muitas novidades deste mercado.
Neste cenário de consumo de luxo, que aparentemente não sente os efeitos da crise econômica brasileira, foram vendidas embarcações de R$ 1 milhão, mas também foi lançado ao público o projeto “Revela, Paixão pelo Mar”, existente no arquipélago há pouco mais de oito anos.
O Revela foi pensado pela Produtora Criativa Denise Rangel, 48. Ao levar as filhas para velejar na escola municipal de vela da ilha, ela auxiliava no conserto de velas danificadas, enquanto as meninas aprendiam a velejar. Foi quando Denise, que é uma mulher contemporânea, pensou: “Não dá para fazer uns acessórios?”.
Foi então que a psicóloga por formação, mas possuidora da “célula do empreendedorismo”, apresentou uma ideia ao professor de costura náutica da escolinha na época. “Queria criar um produto que fosse sustentável, um modelo de economia criativa para a própria Ilhabela”, disse Denise, que conquistou espaço no “mundo da vela” com suas criações produzidas com velas e outros tecidos náuticos reciclados de barcos e veleiros.
O trabalho envolveu os pais das crianças da comunidade. Segundo Denise, para que eles “tivessem outra função além de só ficar esperando e observando as crianças velejar”. A ideia foi sucesso na escolinha. “As pessoas que foram aprender costura náutica viram meu trabalho com interesse. Então desenvolvemos almofadas, bolsas, estojo para criança, nécessaire, acessórios úteis. É um material que possui uma durabilidade muito grande”, conta Denise Rangel, que é viúva de um velejador.
Tanto que quase uma década depois, a produtora conta que os produtos podem “ser usados tanto por quem é da vela como por quem não é”. Os tecidos são considerados nobres no mercado da vela, com proteção contra sol e chuva, entre outras particularidades. “Começou no boca a boca, com amigos velejadores, pessoas que gostam dos acessórios”, conta.
Social
Denise sabe que ninguém produz um projeto de sucesso sozinho. Motivada, resolveu desenvolver o lado social do Revela, que entre suas missões está a de contribuir com o planeta, reaproveitando matéria prima de baixo custo que iria para o lixo. “(O material) Viraria mais um tipo de lixo e (eu posso) transformá-lo em um produto que vai ser usado; por exemplo, uma sacola bacana que a mulher possa ir ao supermercado fazer compra”, disse Rangel.
O projeto que produz peças com preço acessível e bastante variedade é um trabalho bem elaborado, produzido em fases. Trata-se do outro braço social do projeto: Denise faz a captação do material, catalogando dados importantes como sua procedência e ainda informações sobre quem foram os donos da vela, e quais trajetos ela já navegou. “Ganho vela de muitos velejadores, capotaria de barco, de motor, vou até as oficinas onde as pessoas entregam esse tipo de material, e recolho para fazer um registro”.
É por esse registro que Denise adquire parâmetros para saber no que determinada peça pode ser transformada. “Vou dar uma nova vida para esse material, faço corte, as modelagens”, disse ela, que depois encaminha os tecidos para costureiras e costureiros de comunidades carentes do arquipélago, entre elas o Morro dos Mineiros e o Reino. O pagamento é feito por produção, independente do destino final. “Eles têm o dinheiro deles garantido. A ideia é produzir, captar e distribuir aqui na ilha mesmo”, diz.
Entre as ideias realizadas, ainda constam cama de cachorro, luminárias e sacos de marinheiro, que também podem ser usados como cesto de roupa suja.
Criatividade e Disposição
Sempre atendendo por encomenda, o Revela foi exposto publicamente pela primeira vez durante o 1º Ilhabela Boat Week, que termina neste domingo (12). Denise conta que o resultado foi positivo e agradeceu ao prefeito Toninho Colucci pela oportunidade de mostrar seu trabalho em um evento de grande porte. “Na realidade é o lançamento do projeto pela primeira vez”, contou Denise, que também produz peças para alguns hotéis e pousadas da cidade.
Aprovado pelos velejadores e apreciadores do iatismo, o Revela pode ser implantado nas oficinas do arquipélago, e por meio da Associação Social dar continuidade ao projeto.
A situação econômica do Brasil torna mais difícil para a empresária conciliar a vida de mãe, dona de casa e empreendedora. “É prazeroso e ao mesmo tempo dificultoso. O cenário do Brasil é de muita dificuldade, a criatividade é minha grande motivação”, diz.
O Revela é realmente especial. Com as peças, Denise possui a chance de ajudar a preservar o meio ambiente, gerar uma receita e ainda agregar valor à vida de profissionais sem chances no mercado de trabalho. A ilha coloca por ano, em média, 500 jovens a partir dos 18 anos na concorrida disputa pelo primeiro emprego. “Também faço um bem para minha própria alma”, reconhece Denise.
Saiba mais sobre o projeto Revela: http://ilhabela.com.vc/
