Chiquinho, aos 40 anos de idade, está aprendendo a ler e escrever. Sua felicidade é tamanha, que comove as pessoas. Confira
Por Salim Burihan
O Brasil tem 795.434 pessoas adultas analfabetas. Caraguá tem 2.111 adultos que não sabem ler e escrever. É uma realidade muito triste em pleno século XXI, era da tecnologia.
Saber ler e escrever, mesmo que seja o próprio nome, quando já se é adulto, gera autoestima.
Aprender a ler, hoje, é muito simples. Todas as prefeituras do Litoral Norte oferecem cursos para adultos. É preciso, no entanto, divulgar e incentivar mais as pessoas analfabetas a frequentarem esses cursos.
Em Caraguá, por exemplo, a rede municipal de ensino trabalha com a EJA (Educação de Jovens e Adultos) em duas escolas: EMEF Professor Antônio de Freitas Avelar (Estrela D’Alva) com Ensino Fundamental I e II e no EMEI/EMEF Prof. Alaor Xavier Junqueira (Travessão) com Ensino Fundamental I. A coordenadora é Lindalva Gevão Nepomuceno Gutierres.
Ao todo são 230 alunos no Avelar, sendo 17 do Fundamental I (1ª a 4ª séries) e 213 do Fundamental II (5ª a 8ª séries). Além disso, são mais 30 alunos no Alaor do Fundamental I (1ª a 4ª séries).
A formação é semestral. Para se inscrever, o aluno precisa levar a uma das unidades escolares: cópia do CPF, RG, Comprovante de Residência e, se tiver, algum documento com o grau de escolaridade anterior para saber em qual série inicia o processo de aprendizagem. Caso não tenha, o aluno passa por uma prova classificatória. Podem se inscrever a partir dos 15 anos completos.
Existe também o CEEJA (Centro Estadual de Educação de Jovens e Adultos), que funciona na Rua Vinte de Abril, 125, no bairro Massaguaçu. Neste caso, esse espaço está sob a responsabilidade da Diretoria Regional de Ensino, ligada a Secretaria Estadual de Educação. São 867 alunos que cursam o Ensino Médio.
Chiquinho
Escrevo sobre esse assunto, da questão do analfabetismo, porque andava pela calçada, quando um amigo gritou do outro lado da rua pelo meu nome e veio em minha direção, todo feliz da vida.
“Estou aprendendo a ler e escrever”, disse ele. Eu nunca soube que ele não sabia ler e nem escrever. Nunca percebi isso.
A felicidade dele era tanta, mas tanta, que ele começou a ler as letras de um painel de propaganda na minha frente. Ainda com muitas dificuldades para pronunciar as letras, pois ainda por cima, é um pouco gago.
Tamanha era felicidade dele, que me interessei pelo assunto e tentei procurar saber mais sobre sua busca pela alfabetização.
O nome dele é Benedito Roberto Braz Junior, está com 40 anos e é conhecido por toda a cidade como “Chiquinho”.
Ele viveu nas ruas dos 8 aos 22 anos. Teve problemas com drogas e passou por vários centros de recuperação. Não tem pai e nem mãe.
Apesar disso tudo, Chiquinho nunca entrou na marginalidade. Vivia da ajuda de comerciantes da cidade.
Hoje, tem uma empresa de instalação e higienização de ar condicionado e faz serviços para muita gente na cidade.
Ele contou que sem saber ler e escrever, aprendeu a copiar o nome e pedia ajuda das pessoas quando precisava.
Chiquinho contou que está frequentando o EJA da escola Antônio de Freitas Avelar, no bairro do Estrela D’Alva, de segunda a sexta-feira.
Para agilizar o aprendizado, está tendo aulas particulares com uma professora, três vezes por semana.
A professora mora no bairro do Jetuba, na região norte e ele, no bairro do Golfinho, na região sul. Ele vai de bicicleta de onde mora até a casa da professora. Ele pedala cerca de 12 quilômetros, mas não falta às aulas, faça chuva ou sol.
Chiquinho está tão entusiasmado com a alfabetização, que fica até às 2 horas da manhã lendo seus livros. Ele está simplesmente “encantado” com a alfabetização.
“Estou fazendo no EJA os três primeiros anos do ensino fundamental. Mas, quero ir mais longe, quero fazer faculdade e ser advogado”. Afirmou ele.