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A Sapopemba Gigante: Símbolo de Resistência no Litoral Norte de São Paulo

Tamoios News
Árvore Sapopemba em Cambury - São Sebastião - Foto: Poio Estavski

No coração da Mata Atlântica, no Sertão de Cambury, em São Sebastião, São Paulo, ergue-se uma das árvores mais impressionantes da região: uma sapopemba com quase 40 metros de altura e mais de 400 anos de vida. Suas raízes tabulares, que se expandem como verdadeiras catedrais, sustentam não apenas o solo ao seu redor, mas também a história e a resiliência da floresta que ainda sobrevive, apesar dos constantes desafios. Este símbolo de resistência se destaca em um Brasil que enfrenta uma crise ambiental sem precedentes, com queimadas devastando biomas e florestas por todo o país.

A Urgência da Preservação em Meio à Crise Climática

Em setembro de 2024, o Brasil enfrenta o que pode ser a maior crise ambiental de sua história recente. As queimadas, que destroem biomas como a Amazônia, o Cerrado e a própria Mata Atlântica, lançam fumaça que atinge as grandes cidades, incluindo São Paulo, que recentemente registrou uma das piores qualidades de ar do mundo. É nesse contexto que a preservação de monumentos naturais como a sapopemba de Cambury se torna ainda mais vital. A árvore não é apenas uma relíquia botânica; ela é um lembrete vivo da importância de preservar o que resta de nossa biodiversidade.

A Visita de Ricardo Cardim e Cássio Vasconcellos

Recentemente, o renomado botânico e paisagista Ricardo Cardim, acompanhado do fotógrafo Cássio Vasconcellos, visitou essa sapopemba como parte da documentação para a segunda edição de seu livro Remanescentes da Mata Atlântica. Durante a visita, Cardim declarou:

“A Sapopemba de Cambury, também conhecida como Sloanea, é uma árvore emblemática da Mata Atlântica. Suas raízes tabulares são características e desempenham um papel importante na sustentação do solo em regiões de encosta, evitando deslizamentos. No bairro de Sapopemba, em São Paulo, essas árvores eram comuns, e o nome da região deriva dessas mesmas raízes. Os povos indígenas as utilizavam para se comunicar através da mata, batendo nelas para que o som ecoasse por longas distâncias.”

A História de Preservação de Regina Valentim e Friedrich Widmer

A proteção dessa sapopemba e de toda a área ao seu redor é resultado de mais de 40 anos de dedicação de Regina Valentim, 74 anos, e Friedrich Widmer, 85 anos. O casal chegou à região no final da década de 1970 e transformou o Sítio Bacarirá em uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). Regina descreve o momento em que se depararam com a árvore pela primeira vez:

“Quando vimos essa árvore, soubemos imediatamente que nossa missão era preservá-la. Ela é um testemunho vivo da história e da interação entre os seres humanos e a natureza. Desde aquele momento, decidimos que dedicaríamos nossas vidas a protegê-la e preservar a floresta ao seu redor.”

Regina Valentim

Frederico, que é ecólogo e engenheiro agrônomo, desenvolveu projetos de bioconstrução inspirados no estilo Bauhaus e sempre focou na preservação ambiental. Ele e Regina enfrentaram a especulação imobiliária e a pressão por desenvolvimento ao longo dos anos, mantendo intactos os 26 alqueires de terra onde a sapopemba reina.

A Cozinha Política e a Educação Ambiental

Regina Valentim também é conhecida por seu projeto “Cozinha Política”, que une segurança alimentar e consciência ambiental. Focada em alimentação vegana e macrobiótica, ela organiza eventos educativos na Casa Bacarirá, ensinando crianças e jovens sobre a importância de preservar o meio ambiente. “O que estamos fazendo aqui é mais do que ensinar receitas. Estamos cultivando uma nova geração de defensores da floresta, que entendem a importância de preservar cada elemento do ecossistema,” explica Regina.

A Sapopemba como Símbolo de Esperança

A sapopemba gigante de Cambury continua a ser um farol de esperança em um mundo que enfrenta uma crescente crise ambiental. Enquanto o desmatamento e as queimadas ameaçam os biomas brasileiros, esta árvore e as pessoas que a protegem nos lembram do poder da resistência e da preservação. Para Regina, Frederico e tantos outros que dedicam suas vidas à proteção da natureza, a sapopemba é um símbolo de que ainda há tempo para salvar o que resta da Mata Atlântica e garantir um futuro sustentável para as próximas gerações.

Por Poio Estavski