A esportista Bruna Moura, moradora do Rio do Ouro em Caraguatatuba está participando das seletivas de Ski Cross Country para participar dos Jogos Olímpicos de Inverno que se realizarão de 4 a 20 de fevereiro de 2022, na China. Para realizar esse grande feito, a atleta, que desde criança sonhou em seguir carreira no esporte profissional, passou por muitos desafios e superações.
Bruna conta que começou nos esportes ainda na escola, ela participava das atividades da Escola da Família nos finais de semana e com isso, conquistou suas primeiras medalhas. Anos depois a jovem foi apresentada ao Mountain Bike e com dedicação e trabalho duro conseguiu conquistar uma bicicleta própria para iniciar no esporte radical e começar os treinos.
Em 2010 a esportista entrou para a equipe de mountain bike de Caraguatatuba, ganhou medalhas e ajuda para participar do projeto MTeenB, da atleta olímpica Jaqueline Mourão. Para esse projeto, vinte e quatro meninas de todo o Brasil seriam selecionadas para passar o final de semana treinando com a atleta olímpica e ter a chance de assistir palestras sobre temas importantes no mundo dos esportes.
Com essa experiência Bruna conquistou a maturidade e confiança necessária para, poucos meses depois, se tornar campeã brasileira de mountain bike pela primeira vez, com apenas 16 anos. Nesse período a jovem campeã ainda foi convidada para continuar treinando com Jaqueline no Canadá. Mesmo com o maior nível de dificuldade, a jovem logo conseguiu se adaptar, aprender as novas técnicas e assim conquistar medalhas de ouro e prata nas competições canadenses.
De volta ao país, a esportista continuou ganhando competições, “me tornei campeã paulista de mountain bike e ganhei outras provas estaduais. Em 2011, integrei a Seleção Brasileira, competindo pelo país no campeonato Pan-americano de mountain bike na Colômbia e obtive a 8° colocação. Participei de duas etapas da copa do mundo em uma terceira versão do projeto MTeenB, me tornei bicampeã brasileira e ganhei várias outras corridas”.
Ao realizar um exame de rotina, solicitado por Jaqueline, sua então treinadora, Bruna descobriu um problema cardíaco que a impedia de continuar no esporte. Ela foi diagnosticada com CIA – Comunicação Interatrial de 2 centímetros [Defeito congênito que produz um buraco na parede entre as câmaras superiores do coração (átrios)]. Depois de uma certa resistência a atleta teve que parar de praticar e de competir e precisou deixar o sonho de chegar ao ápice da carreira de um atleta, as Olimpíadas, de lado.
Mas Jaqueline, sua treinadora, continuou a apoiando, não aceitou essa opção e decidiu que iriam atrás de uma forma de a atleta realizar o cateterismo. “A Jaque conseguiu uma oportunidade para que eu realizasse o cateterismo através de uma pesquisa no Instituto Dante Pazzanese em São Paulo. Ela foi pessoalmente na clínica pedir por essa oportunidade e após horas de conversa, conseguiu. Nessa pesquisa, seria testado um novo tipo de prótese – CERA – que era uma versão atualizada da prótese AMPLATZER.
Em 2013 o cateterismo foi realizado e após a permissão médica, três meses depois, Bruna pode voltar a praticar esportes de alta intensidade sem restrições. Seis meses após retornar ao mountain bike, o convite da CBDN (Confederação Brasileira de Desportos na Neve) para ingressar no ski e eventualmente integrar a seleção brasileira. “O sonho olímpico ainda estava vivo”!
Atualmente, a atleta faz parte da Seleção Brasileira de Ski Cross Country e de 2014 a 2020 também fez parte da Seleção Brasileira de Biathlon (ski com tiro esportivo). Como o ski é um esporte muito específico e por não termos neve no Brasil, quando está em Caraguá, Bruna precisa adaptar seus treinos, utilizando um Rollerski – equipamento adaptado para trabalhar a técnica do ski no asfalto.
“Eu realizo em média treze treinos por semana, divididos em seis dias com um dia de descanso. Eu faço treinos de bike, corrida, musculação, saltos e track & field. Ou seja, ao me tornar uma esquiadora eu tive a oportunidade de fazer o que amo, praticar vários esportes ao mesmo tempo”, conta a atleta.
Bruna também fala do quanto o esporte a levou a conhecer o mundo e a pessoas como a Jaqueline, “o esporte já me levou a 26 países diferentes (4 no mountain bike e 22 no ski). No início de 2021, com os resultados atingidos no Campeonato Mundial de Ski, na Alemanha, e posteriormente na última etapa da Copa do Mundo, na Suíça, eu e a Jaqueline Mourão conquistamos pontos suficientes para abrirmos duas vagas olímpicas para o Brasil no feminino. Um feito inédito, já que o Brasil até então só se classificou com 1 vaga nos jogos anteriores. Com esse resultado, há uma grande chance de representarmos o Brasil juntas em Pequim, o que seria um desfecho incrível, considerando toda nossa história juntas”.
*Texto: Claudinéia Silva