De acordo com dados da saúde de Caraguatatuba, uma das quatro cidades do litoral norte de São Paulo, o número de pessoas contaminadas com a doença aumentou este ano. No primeiro semestre de 2022 o município registrou 99 casos, contra 70 no mesmo período de 2021.
Ubatuba apresentou 124 casos no total do ano passado, e em 2022, até o momento, já soma 119. Ilhabela registrou 79 em 2021, e este ano, até a presente data, 55. São Sebastião foi a única cidade que não enviou os dados solicitados à nossa equipe até o fechamento da reportagem.
Porém, o número pode ser ainda maior do que os divulgados, diz o médico ginecologista Mauro Noronha, “pois grande parte (das pessoas) não faz exame, não faz teste”, ressalta. “Temos percebido um aumento de sífilis na região, principalmente daqueles casos sem sinais, sem sintomas e com exames de laboratório positivos”, diz o ginecologista.
A sífilis é uma doença infecciosa, causada pela bactéria Treponema pallidum. Os números são referentes à sífilis adquirida, transmitida via sexual, em gestantes e a congênita, transferida para o feto durante a gestação.
É uma doença longa e apresenta-se em fases como explica Dr. Mauro: “A fase primária apresenta uma úlcera na parede genital masculina e feminina. Após seis semanas mais ou menos, até seis meses após o contato, pode apresentar algumas lesões cutâneas, manchas vermelhas pelo corpo inteiro, é a sífilis secundária. Depois de um ano podemos ter a sífilis latente, que não tem sintoma nenhum.”
A sífilis latente, identificada apenas por exame, é dividida em precoce e a tardia. “Precoce é até mais ou menos um ano. Após um ano é a tardia. E por último, após alguns anos, muitos anos, a Sífils terciária, que atinge órgão, principalmente o sistema nervoso central, que é a neurossífilis” complementa Dr. Mauro.
Nessa fase a pessoa começa a apresentar problemas neurológicos, devido à ação da bactéria que ataca o sistema nervoso central do cérebro, nervos e coração, o que decorre diversos problemas no paciente.

Imagem Ilustrativa / Crédito: Freepik
“No início do século muitas pessoas morreram de neurossífilis, hoje não, porque o tratamento é imediato e não deixa mais evoluir a doença. Não achamos mais essa fase infecciosa, talvez em países subdesenvolvidos, mas não temos visto mais”, explica o médico.
Apesar disso, o cenário atual é considerado preocupante, principalmente com os casos em gestantes. “A gente nota porque é rotina, durante o pré-natal, investigar a sífilis, e tem dado muito positivo, sem sinais e sem sintomas” diz. “A sífilis congênita, ou seja, a transmitida verticalmente da mãe para o bebê dentro do útero, pode causar má formações fetais, então é muito preocupante”, reforça.
A única forma de prevenção, para os profissionais, é a educação. “Disseminar que tem que se fazer um sexo protegido, pra evitar as doenças sexualmente transmissíveis. Quando apareceu a Aids, foi bastante difundido e a prática do uso do preservativo foi muito, muito usada. Agora tá se deixando o uso de uma forma mais intensa devido a não se preocupar mais em ter tanta mortalidade por HIV”, diz o médico.
A psicóloga especialista em relacionamentos e sexualidade Stephanie Crisla, concorda que a educação sexual é imprescindível para informar a população, e também para quebrar crenças sobre como lidamos com saúde e relacionamento.
“Antigamente existia uma ideia de que havia ‘grupos de risco’, hoje já entendemos que o que existe é ‘comportamento de risco’, ou seja, a forma como as pessoas tomam suas decisões dentro do contexto de intimidade é o que pode ou não colocá-los em risco”, alerta Stephanie.
Para a profissional um assunto complexo e com questões multifuncionais, pois os homens estão preocupados com prazer enquanto as mulheres se preocupam em acatar as vontades do parceiro e apresentam dificuldade em se impor.
“No consultório recebo muitos homens com um discurso perigoso sobre como o uso de camisinha interfere no prazer, o que não é verdadeiro. Hoje já encontramos no mercado diversos modelos de preservativos extra finos que aumentam a sensibilidade e ainda mantêm a proteção. Já as mulheres relatam grande insistência dos parceiros pelo não uso do preservativo e grande parte das vezes, elas cedem”, relata a psicóloga.
A baixa preocupação, em parte, para Stephanie, também se deve a uma falsa sensação de segurança. “Principalmente pelo fato de essas doenças muitas vezes serem silenciosas e não apresentarem sinais e sintomas por meses ou anos. Soma-se a resistência e diminuição no uso de preservativos e também o baixo nível de conhecimento sobre educação sexual”.
A psicóloga ainda faz um importante alerta sobre o excesso de confiança e a idealização de que o parceiro, ou parceria, não mantenha relações sexuais com outros. “O que é em muitos casos um grande equívoco, que acaba colocando várias pessoas em risco. Mesmo em relacionamentos estáveis é muito importante que o uso de preservativo seja mantido”, conclui a terapeuta.
Por Cynthia Louzada / Redação Tamoios News