Quando se deixa a cidade de Ilhabela, bem ali na saída da balsa, do lado direito, pode-se ver uma raridade que muitas pessoas desconhecem: um marisma, conhecido como uma vegetação rasteira, típica de praias, que é um berçário para diversas espécies. Segundo os ambientalistas ouvidos nesta reportagem, em todo Litoral Norte Paulista esse marisma só restou no estuário do Ribeirão Água Branca, que fica na praia da Barra, na Ilhabela.
De acordo com Patrick Inácio Pina, biólogo e ornitólogo (especialista em aves), esse raro marisma está ameaçado pela presença de animais soltos na praia, que perseguem as aves que escolhem o local como ponto de descanso no decorrer de suas viagens migratórias.
No município de Ilhabela é proibido a presença de animais em todas as praias. A reportagem do Tamoios News entrou em contato com a prefeitura que informou que na lei, 529 de 2007, o artigo 71 cita que “para preservar a estética e a higiene pública é proibido animais na praia, a infração de qualquer dispositivo desta seção será imposta a multa correspondente, atualizados nos valores de hoje R$ 633,18″.
Muitas pessoas não cumprem a lei por diversos motivos, sendo um deles a falta de conhecimento dos problemas que animais soltos trazem para as aves.
Preocupados com esse quadro, um grupo composto por diversos profissionais criou o COA (Clube de Observadores de Aves) da Ilhabela. Fernando Bebiano Moraes de Jesus Rebouças, monitor ambiental e guia de observação de aves, faz parte do COA. Ele disse que o projeto surgiu depois do Festival de Aves de Ilhabela, no ano passado. “Assim podemos compartilhar informações e realizar saídas e eventos que envolvem as aves, além de termos mais força para cobrarmos das autoridades públicas ações de preservação do meio ambiente”, relata Fernando.
Recentemente o grupo realizou um evento na praia da Barra com o objetivo de conscientizar os frequentadores do local sobre o problema dos animais soltos. “É importante deixar as aves descansarem após sua longa viagem e especialmente não permitirem que os cães as persigam. Os cachorros que frequentam o local devem ser mantidos em guias pelos proprietários”, reforça Arlaine Francisco, bióloga e membro do COA. Segundo ela, somente no mês de novembro deste ano, os observadores do COA já contaram oito cães diferentes perseguindo as aves migratórias no Estuário Ribeirão Água Branca.
Marcio Motta, biólogo que frequenta o local e faz um trabalho fotográfico de registro do ataque dos cães lamenta a falta de conscientização das pessoas. “Em Ilhabela, participo de um grupo que estuda baleias e golfinhos, o Instituto Verde Azul, e aproveito sempre que posso para registrar as aves marinhas e costeiras da região. Fiz essas fotos no início de novembro no Manguezal da Barra, em Ilhabela. Atualmente, os cães são uma das principais ameaças às aves costeiras em diversas regiões do mundo. Alguns estudos apontam que em algumas localidades esse impacto pode ser maior do que o de turistas. As pessoas precisam entender que essa liberdade conferida aos cães na praia pode ter um preço: a vida de um outro animal. E não é culpa do cão, pois ele está seguindo seus instintos: é um predador. A culpa é do tutor que sabendo disso, permite que o cão fique solto na praia. A simples presença de cães na praia pode afugentar as aves, muitas vezes com ninhos e ninhadas inteiras, que se perdem por isso”, lamenta Márcio.
Na opinião dele as prefeituras poderiam ampliar as campanhas de sensibilização em clínicas veterinárias, abrigos, loja de animais e fiscalizar as praias. A prefeitura da Ilhabela informou que atualmente a pasta conta com quatro fiscais.