Caraguá e suas lendárias figuras do carnaval como “Tainha” e “Chico Tanque”

 Algumas figuras são inesquecíveis no carnaval de Caraguá. Foram pessoas marcantes na folia. Vamos relembrar de “Tainha”, a musa do carnaval da década de 60; “Chico Tanque”, cuja ousadia na década de 70, foi fundamental para o surgimento do Bloco das Piranhas, o maior e mais animado do carnaval da cidade. Relembre

Por Salim Burihan

Quando chega o carnaval, os moradores mais antigos de Caraguá relembram com muita saudade o carnaval de antigamente.

A cidade não recebia tantos turistas, não promovia eventos carnavalescos como ocorrem hoje em dia, investia poucos recursos, mas a festa era muito animada.

Como a prefeitura não tinha muitos recursos, os próprios moradores organizam a festa, que se resumia num desfile de carros alegóricos pelas ruas centrais da cidade.

Os carros eram decorados com simplicidade, mas muito bom gosto. E, tinha uma atração muito especial, uma espécie de concha acústica que trazia em seu interior, uma bela caiçara, que trajava um maiô, estrela principal do desfile.

A moça que encantava a todos era Conceição Aparecida do Nascimento, mais conhecida como “Tainha”. Era a bela morena que ficava no interior da concha acústica, parecida com a  logomarca da “Shell”.

O carro passava com a concha fechada, mas em alguns trechos da avenida, alguns homens puxavam uma cordinha e a concha se abria. De dentro dela, surgia a bela morena, para encanto de moradores, veranistas e turistas.

Conceição morou em Caraguá, no bairro Estrela D´Dalva, era filha do seu Lino e dona Bertulina, caiçaras de Ubatuba, que se mudaram para Caraguá.

Conceição estudou no Grupo Escolar de Caraguatatuba(hoje, Museu Adaly Coelho Passos) e no Colégio Thomaz Ribeiro de Lima. Adolescente, frequentava o Clube XV de Novembro e o Clube das Américas, que ficava no bairro do Ipiranga (na época, conhecido como Risca Faca).

Ainda jovem, Conceição trabalhou na Magazine Flórida e no Auto Posto Atlantic, de propriedade do Ditinho Lelis. Conceição, uma das moças mais lindas da cidade, participava de desfiles de moda.

Ela contou que o convite para desfilar na concha partiu do então prefeito, Geraldo Nogueira da Silva, o Boneca. Conceição desfilou na concha nos carnavais de 1967 e 1968, quando tinha 22 anos de idade.

Em 1969 casou-se com o italiano Antonio Cataldo e foi morar na capital paulista. Lá teve dois filhos: Karina e Giuseph. Em 1975 mudou-se para São José dos Campos e montou a Doceria Antoniella, uma das mais famosas do Vale do Paraíba.

Ela contou que muita gente que frequentava a doceria a reconhecia como a moça que desfilava na concha no carnaval de Caraguá. Em 1993 vendeu a doceria e foi trabalhar como corretora de imóveis. Depois de 15 anos na área decidiu parar de trabalhar.

Conceição lembra com muito carinho do carnaval de antigamente: “Era muito legal, muito família…Desfilar na concha era ótimo…Depois do desfile a gente ia para o clube XV pular carnaval…Foi um período muito bom…”. relembra.

Chico Tanque

Na década de 70, outra figura surgiu no carnaval de Caraguá: Chico Tanque. Chico e seu inseparável amigo “Marrom” foram os primeiros homens a se vestirem de mulher no carnaval da cidade.

Chico Tanque era são-paulino roxo

Francisco Vilegas era o seu nome, mas na cidade inteira era conhecido como “Chico Tanque”. Era uma figura sensacional, cheio de histórias engraçadas. Era antenista de profissão e adorava futebol e carnaval.

Quando chegava o carnaval, todos os dias, ele e o “Marrom”, se vestiam de mulher e ficavam na esquina mais famosa da cidade, na época, a esquina entre as ruas Santa Cruz e Altino Arantes.

Dá ousada brincadeira dos dois surgiria em 1976 o Bloco das Piranhas, o mais famoso até hoje na cidade. Mesmo após a morte de “Marrom” seu inseparável amigo, Chico Tanque continuou se vestindo de mulher e até participando do Bloco das Piranhas. Ele morreu em 2010.

Após sua morte, Chico recebeu uma bela homenagem da Fundação Cultural de Caraguá: um bonecão com a sua imagem anima o carnaval da cidade, desde então. Chico continua vivo e presente no carnaval da cidade. Legal!!

Além de Tainha e Chico Tanque, o carnaval de Caraguá, teve outras figuras importantes: Mestre Dionízio e Dona Leonor, ambos da escola de samba Tubarão, que animava o carnaval nas décadas de 70 e 80; o maestro Pedrinho, Zé Pinto e a rapaziada antiga da banda Carlos Gomes, que animavam o carnaval local.

Um dos primeiros blocos da cidade foi o “Notei do Teu Semblante”, que era coordenado pelo Aldinho Magalhães. Depois veio o “Segura Meu Louro”, coordenado pelo Luis Antonio Bastos Ribeiro, conhecido popularmente como “Lula”.

O carnaval de salão era muito legal. Primeiro no Clube XV de Novembro, no centro; depois no Clube Náutico.

Durante alguns anos, na década de 70, o melhor carnaval da região era no Tebar, em São Sebastião. Logo em seguida, surgiu o baile do Recanto Ana, na subida da Tamoios. O Recanto Ana passou a ter o melhor carnaval do litoral.

Alguns anos mais tarde, o carnaval foi se transformando, ocupando as avenidas beira mar, perdendo suas escolas de samba e se transformando em grandes bailes na orla para agradar os milhares de turistas que a cidade passou a receber. O tempo foi passando, mas a saudade fica!!!