Memória Rádio

Caraguá: Morre ex-radialista Nerli Amaral, avô de MC Guimê

Tamoios News

Nerli, líder de audiência por 32 anos, nas décadas de 60, 70 e 80

Morreu neste sábado, aos 75 anos, o radialista Nerli Amaral, um dos precursores do rádio no Litoral Norte. Nerli trabalho em rádio por quase 40 anos, 32 deles, liderando a audiência, através de um programa sertanejo o “Alvorada Sertaneja”. Ele tentou até o fim da vida se reaproximar do neto famoso, MC Guimê, mas não conseguiu

Por Salim Burihan

Nerli morreu de câncer e será sepultado neste domingo, em Caraguá. Ele era avô do MC Guimê, um dos músicos de maior sucesso no funk nacional, mas que nunca deu qualquer atenção à Nerli, por desavenças familiares.

Há alguns anos, desempregado e passando por dificuldades, Nerli chegou a pedir ajuda ao neto, mas não foi atendido.

MC Guimê é filho de Maria Cristina Amaral, uma das filhas de Nerli. Quando Guimê era pequeno, Maria Cristina resolveu deixar São Paulo e retornar para Caraguá, deixando os dois filhos- Guilherme(Guimê) e Rodrigo,  aos cuidados do pai. Criado pelo pai, Paulo Dantas, Guimê depois que ficou famoso, não quis mais saber da mãe e nem do avô.

Nerli Amaral trabalhou por mais de 50 anos na Rádio Oceânica, que este ano completa 61 anos de existência. Na emissora, fez de tudo um pouco. Abria e fechava a rádio, ou seja, iniciava e encerrava as transmissões. Cuidou dos transmissores, cuidou da gerência, foi contato comercial e foi líder de audiência por mais de 30 anos.

Como radialista, ele comandou três programas de muito sucesso: Alvorada Sertaneja, das 5 às 8 horas; Tarde Sertaneja, das 17 às 19 horas; e, aos domingos, Alô Bom Dia, das 5 às 12 horas. Havia deixado a carreira de radialista há 15 anos.

 

Nerli, sempre foi muito querido em Caraguá. “Acordava” os moradores às 5 da manhã no programa Alvorada Sertaneja. E, prestava homenagens à todos os aniversariantes da cidade em seus programas.

Em seus programas, passaram cantores de muito sucesso, entre eles, Paulo Sérgio, Chitãozinho e Xororó e Tonico e Tinoco. Eles se apresentavam ao vivo, para lançar seus discos e, mais tarde, CDs. Nerli abria os shows das duplas sertanejas que no passado se apresentavam circos e cinemas da região.

Tive o privilégio de trabalhar com ele, na década de 80, quando foi o responsável pelo jornalismo da emissora. Aos domingo, durante minhas transmissões do futebol amador, por várias vezes, ele atuou como repórter de campo.

Líder em audiência e famoso no rádio, Nerli Amaral, no entanto, não conseguiu obter sucesso financeiro. Com a chegada das emissoras FMs na região, na década de 90, os programas sertanejos foram aos poucos perdendo audiência. A música sertaneja voltou a ganhar destaque a partir de 2.000.

Em 2002, deixou a carreira de radialista. Não conseguiu se aposentar por problemas em sua documentação. Foi trabalhar na prefeitura, como zelador de uma quadra de esportes, mas em 2017 acabou demitido.

Desde então, passou a viver com muitas dificuldades. Nerli morava com a família numa unidade do Conjunto Habitacional Nova Caraguá, no Perequê-Mirim. Pagava R$ 60,00 pela prestação da casinha. No ano passado ficou muito doente.

Nerli na entrevista de 2017, desempregado e doente. Queria ajuda do neto

Desesperado, enviou uma carta ao apresentador Geraldo Luiz, do Programa Domingo Show, da TV Record. Uma assessora de Geraldo veio até a cidade, mas não se concretizou o que Nerli tanto queria, a reaproximação e a ajuda do neto famoso.

“Gostaria de contar a minha história como radialista e ver se meu neto, MC Guimê, me daria uma ajuda”, comentou ele comigo, na última conversa que tivemos, no ano passado.

 

Histórias


Nerli tinha realmente muitas histórias e causos legais envolvendo cantores famosos que se apresentaram em seus programas. Foi muito amigo dos avós de Chitãozinho e Xororó, dona Santa e Tenente Torres, que viveram muitos anos no bairro do Ipiranga, em Caraguá.

“Quantas vezes não ajudei a empurrar o fusquinha, que a dupla tinha, quando eles se apresentavam na região. Tem cantor que levei na garupa da bicicleta para se apresentar no circo”, relembrou.

MC Guimê

Nerli deixou três filhas: Cristina, Patrícia e Aurélia. Nerli lembra que conviveu com o neto Guimê até os 12 anos, quando ele foi morar com o pai, em Osasco. “Levava ele para nadar em nossas praias e jogar bola nos campinhos da cidade”, recordou.

Nerli afirmou que não via o neto há mais de 10 anos. “Só vejo ele pela TV. Ele se apresentou aqui em Caraguá há uns quatro anos, mas não consegui entrar na Lost (casa de shows que promoveu o show) para vê-lo cantar. Acompanho seu sucesso e torço por ele, mais gostaria que ele me ajudasse”, afirmou na ocasião.

Segundo Nerli, há uns quatro anos Guimê mandou um recado para ele. “Ele me perguntou o que gostaria de ganhar dele. Pedi um carro popular, nas côres preta ou prata. Na época, estava trabalhando, não passava por tantas dificuldades. O tempo foi passando e não recebi nada”, comentou. Segundo ele, Guimê ajuda a mãe, sua filha Cris, lhe enviando dinheiro todo mês.

“Gostaria de contar com a ajuda dele nesse momento de muitas dificuldades. Sei que ele ganha muito bem, apesar de seu ex-empresário ter-lhe passado a perna. É um cantor de muito sucesso e, hoje, também é empresário no ramo de óculos de praia. Não perco as esperanças de ele me ajudar. É meu neto”, finalizou.

Em setembro de 2017 consegui trazer o pessoal da TV Record para fazer um programa com ele e o neto, MC Guimê, para um quadrono programa do Geraldo Luiz, mas o neto, famoso e orgulhoso, não teria aceitado uma aproximação com o avô. Foi uma pena, era o grande sonho de Nerli.

Nerli Amaral também foi jogador de futebol, durante muitos anos defendeu os principais times da cidade. Atuava como goleiro. Sempre que encontrava comigo relembrava o que denominou de “Gol de Vento”, um gol que fiz nele de fora da área durante a decisão de uma partida do futebol amador de Caraguá, na década de 80. Era um grande cara  e até hoje, dia em que morreu era considerado “a memória viva do rádio no Litoral Norte”.

 

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