Moradores apontam descaso com o dinheiro público, já que a via foi bloquetada, repavimentada dois meses depois e ainda apresenta uma série de problemas
Por Ricardo Hiar, de São Sebastião
Uma via pública no bairro Topolândia, na região central de São Sebastião, tem gerado muitas reclamações de moradores e comerciantes. Isso porque, segundo relato de vários munícipes, algumas ações da prefeitura, que deveriam proporcionar melhorias, têm trazido ainda mais transtornos.
A principal reclamação da comunidade local é a falta de agilidade e qualidade nas obras executadas no local. Segundo muitos contam, a Prefeitura de São Sebastião demorou quase um ano para nivelar a rua e instalar bloquetes e, dois meses depois, retirou todo o material e aplicou pavimento asfáltico. O trecho em questão tem menos de 500 metros de extensão e já apresenta várias rachaduras e buracos, uma semana após a conclusão dos trabalhos.
O morador Abraão Estevan disse que não entende o que acontece na via. Ele conta que cada hora mexem numa coisa, mas ninguém resolve nada. O aposentado já pensa em fazer reformas na sua calçada, pois com o asfalto a situação ficou mais crítica e o volume de água das últimas chuvas já quase atingiu o interior de sua residência. “Sempre encheu aqui, mas agora parece que piorou. A água está acumulando muito rápido”, comentou.
Para a moradora Lidiane Santos, a mudança na via complicou a situação, pela falta de drenagem. De acordo com o que relatou após as chuvas da última quarta-feira (9), tudo ficou ainda pior. “A José Pacini parecia um mar. Foi assustador, nunca vi uma situação dessas por aqui. Tinha muito lixo, insetos sendo trazidos pela água para nossas casas”, disse.
Para Roberto Figueira, 46, que está há 20 no local, os trabalhos realizados na via atrapalharam muito a comunidade local. “Demoraram muito tempo para arrumar a rua da primeira vez. Os funcionários vinha um, dois dias e depois ficavam semanas sem aparecer. A rua ficava interditada, não dava pra passar. Era um transtorno. Aí do nada, sem avisarem, vieram aqui rapidinho dessa vez, tiraram tudo o que tinha sido feito e asfaltaram. Não faz sentido”, completou.
O que motivou ainda mais as reclamações é que a primeira intervenção no local durou muitos meses e mexeu com a rotina das pessoas que circulavam pela rua José Pacini.

Foto: Ricardo Hiar
O início
Tudo começou ainda no fim do ano passado. No dia 25 de setembro de 2015 a Prefeitura de São Sebastião divulgou nota, onde era afirmado que obras de melhoria em toda a extensão da José Pacini seriam realizadas para melhorar as condições de acessibilidade da via. Na ocasião, foi estabelecido que as obras começariam em 20 dias.
Apesar disso, a interdição e início dos trabalhos na via começaram efetivamente no dia 6 de janeiro de 2016, quando a prefeitura fez outro comunicado sobre o assunto. O fechamento da via, que era previsto por 15 dias, gerou reclamação de moradores e comerciantes locais, por ocorrer justamente no período da temporada de verão.
Mesmo assim os trabalhos foram iniciados. O problema, no entanto, é que as obras que deveriam ficar prontas em 15 dias, demoraram quase nove meses para serem concluídas.
Segundo um comerciante que atua há quase uma década na região, mas não quis se identificar, a indignação da comunidade com a interdição era tanta, que eles já não tinham esperanças que os trabalhos fossem finalizados antes de um ano. “A gente já planejava uma festa para cantar os parabéns para essa obra, que trouxe tantos transtornos. Queria colocar uma faixa no início da rua para agradecer ao prefeito todo esse problema”, comentou.
Ele ainda disse que a demora nos trabalhos afetou toda a população. Os carros já não podiam circular, pessoas que dependiam de ônibus para irem a pontos distantes do bairro precisavam fazer longas caminhadas, além de outras que tiveram problemas de saúde pelo excesso de poeira gerado.
A própria administração municipal afirmou que as alterações de itinerários ocorreriam. Conforme explicou no início das obras, a alternativa para quem precisasse acessar bairros como o Olaria, era a antiga rua das Mangueiras.
Na época, a Prefeitura de São Sebastião chegou a informar que as ações de melhoria na José Pacini ocorreriam para sanar danos ocasionados pela Sabesp, o que exigiria a retirada dos bloquetes, nivelamento do pavimento e recolocação das estruturas de concreto. “A Sabesp andou executando alguns serviços ali naquela rua e prejudicou bastante o pavimento. Por isso vamos fazer toda a substituição dos bloquetes”, explicou o secretário Sérgio Félix, da Seadre (Secretaria das Administrações Regionais), em nota divulgada pela administração.

Notas sobre o assunto foram publicadas no site da Prefeitura de São Sebastião
Conforme outra moradora, que também preferiu não se identificar, sem avisar ninguém equipes chegaram à rua no final do mês passado para aplicar o asfalto. “Eles vieram, tiraram todos os bloquetes que demoraram um tempão para colocar e asfaltaram. Dessa vez foi rápido, mas não tem qualidade. Já tem vários problemas na rua, como buracos e pontos que estão afundando. Mais uma vez não fizeram algo que vai ser bom para a população”, completou.
Marcos Dias, 36, foi mais enfático e considera essa ação uma falta de respeito com o dinheiro público. “A gente vota nas pessoas para administrarem o dinheiro que é do povo, e fazem isso daqui. Um absurdo”.
Despesas
Na primeira ação realizada na Rua José Pacini, a execução foi realizada por funcionários da própria Seadre, por isso, além da mão de obra empenhada nas atividades, os gastos teriam ocorrido com o material utilizado (parte dos bloquetes foram reutilizados). A prefeitura não divulgou valores aplicados na época.
Desta vez, a pavimentação asfáltica da via pública aconteceu dentro de um pacote que custou quase R$ 1,5 milhão. Os trabalhos foram definidos pelo processo 60834/16, que incluía a pavimentação de vias na Topolândia e Itatinga, sendo elas: Avenida Prefeito Machado Rosa, Rua Josefa Santana Neves, Rua Montes Claros, Rua José Pacini e Rua Antonio Pereira da Silva. A pavimentação foi iniciada em 19 de setembro, com prazo de dois meses para conclusão.
Outro lado
A reportagem entrou em contato com a Prefeitura de São Sebastião nos dias 8 e 11 de novembro, solicitando um posicionamento da administração municipal sobre o assunto, mas até o fechamento da edição não obteve qualquer retorno.

Foto: Ricardo Hiar