Cidades Ubatuba

Cerimônia homenageia imigrantes japoneses presos na Ilha Anchieta

Tamoios News
Divulgação

Parentes e até quem esteve preso, falam do que sabem e de suas memórias

 

Por Valéria Andrade 

A prisão de 172 imigrantes japoneses que chegaram à Ilha Anchieta em 1946, foi relembrada em cerimônia realizada nesse sábado (23).

O tenente Samuel Messias, da Associação pró-resgate histórico da Ilha Anchieta e dos Filhos da Ilha, cita a importância de um evento como este e lembra que não só os imigrantes japoneses fizeram história na ilha. “Nós temos 430 famílias, agora com os japoneses, umas 600. Isso sem falar dos búlgaros e gagauzos bassarabianos, agora só falta falar sobre os caiçaras”.

A  coordenadora do Projeto Caravelas e uma das idealizadoras do evento, Melisa Sakamoto, lembra que não conhecia a história do local, e que precisou da ajuda do pai. Sua curiosidade foi despertada quando no começo desse ano viu um banner na Ilha e a partir daí, passou cerca de seis meses em pesquisas. “Eu quis ser curiosa, eu quis estudar para entender um pouco do passado. Apesar de eu ter sentimentos tão ambíguos: muitas vezes felizes e outros tristes”, recorda.

Para o prefeito, que também é descendente de japoneses, Décio Sato (PSD), a data deve ser lembrada com emoção. Segundo ele, o evento seria um preparatório do que pode acontecer em 2018, durante comemoração de 110 da imigração japonesa no Brasil. “Hoje não é apenas o significado de uma comemoração, mas de coisas impotantíssimas”, considera Sato.

Ruína do antigo presídio – Foto: Valéria Andrade/TN

A história –  Durante o regime do então presidente Getúlio Vargas, muitos criminosos eram enviados para o antigo presídio da Ilha Anchieta.

Em um conflito entre os kachi-gumi (que acreditavam na vitória do Japão na Segunda Guerra Mundial) e os make-gumi (que não acreditavam), ocorreram assassinatos. Ocasião essa, em que muitos japoneses foram presos.  Porém, apenas 10 pessoas tinham envolvimento com um desses crimes. Outros iam presos injustamente.

Tokuishi Hidaka é o único remanescente, com 94 anos, e consegue lembrar de detalhes do que passou na Ilha. Ele foi preso em 1946, acusado de envolvimento no assassinato do coronel Jinsaku Wakiyama, em crime atribuído à entidade Shindo Renmei (Liga dos Caminhos dos Súditos).

Hidaka com dificuldade de se expressar em português, precisou da ajuda de uma tradutora para alinhar suas memórias e falas em relação ao passado. “Quando  nós viemos  para cá não tinha energia, meus colegas consertaram o gerador sem ferramentas”, conta.

Segundo ele, muitos que estavam ali eram inocentes e ficou feliz em ver a comemoração, pois acredita que  todos que faleceram ali mereciam esse momento. “Minha fala é muito simples, mas estou muito agradecido e agradeço em nome de todos que estiveram aqui”, completa.

O evento foi organizado pela Associação Pró-Resgate Histórico da Ilha Anchieta e Filhos da Ilha, com apoio da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social (Bunkyo) e da Prefeitura de Ubatuba.

Gerador de luz daquela época – Foto: Valéria Andrade/TN

Para saber mais – Lançado em 2012, o documentário  “Yami no Ichinichi – O crime que abalou a Colônia Japonesa no Brasil” de Mario Jun Okuhara, explica a história de acordo com as memórias do senhor Tokuichi Hidaka. No filme, ele retorna à Ilha e conta com riqueza de detalhes como era viver lá e etc.

Ruínas da Ilha Anchieta – Foto: Valéria Andrade/TN

Deixe um Comentário

O Tamoios News isenta-se completamente de qualquer responsabilidade sobre os comentários publicados. Os comentários são de inteira responsabilidade do usuário (leitor) que o publica.

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.