Cidades Ubatuba

Com lixo na Câmara, moradores protestam contra turismo predatório

Tamoios News

Na noite de segunda-feira, 7 de setembro, enquanto muitos turistas estavam nas estradas voltando para casa após terem passado o feriado prolongado em Ubatuba, um grupo realizava uma manifestação em frente à Câmara Municipal.

Moradores indignados com a quantidade de lixo jogada nas praias, ruas e calçadas, deixaram em frente ao Legislativo sacos de lixo e um aviso: “Esses lixos estão desinfetados”. O objetivo, segundo fonte que participou da ação, foi fazer um ato silencioso e simbólico, de forma pacífica e sem convocação pública.

Cartazes deixados na grade que cerca o prédio da Câmara exibiam as frases: “Quantos ainda vão morrer? Turismo predatório aumenta covid-19”, “20% do turismo traz riqueza para a cidade, 80% é turismo predatório!”, “Estamos em pandemia!”, “Sr. Prefeito, quantas vidas vamos perder por sua irresponsabilidade?”, “A Santa Casa vai colapsar, nossos profissionais de saúde vão morrer! Não aceitamos isso. E a prefeitura vai fazer campanha com o Hospital de Campanha?”, “Sr. Prefeito, além dos seus milhões de turistas deixarem a covid, ainda deixaram o lixo! Então nada mais justo que você recolha, já que a covid não dá pra gente deixar pra você pegar.”

Protesto solitário

O marceneiro Alex Arruda, de 48 anos, seis deles vividos em Ubatuba, costuma surfar e correr na Praia Grande. Durante a pandemia, diz que chegou a ver a praia limpa, sem nenhum lixo. Mas, na manhã do dia 7 de setembro, a praia estava tão suja que ele parou a corrida para gravar um vídeo e mostrar a grande quantidade de lixo deixada na areia após o final de semana. Côcos, garrafas, plásticos e embalagens diversas jogados no chão da orla. “A impressão que eu tive é que algumas pessoas foram lá com um monte de saco de lixo, abriram os sacos e espalharam pela praia, porque era muito lixo”, descreve.

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O vídeo foi compartilhado nas redes, teve grande alcance e impulsionou os mais indignados a fazerem uma manifestação. Arruda, que soube do protesto por uma rede social, conta que quando chegou no ponto de encontro combinado com outros manifestantes não havia mais ninguém. Ele teria resolvido então fazer um protesto solitário e deixar um saco de lixo em frente à prefeitura. Segundo o morador, havia duas viaturas da Guarda Civil Municipal na frente do portão. Ainda de acordo com Arruda, após um empurrão, discussão, xingamentos e ofensas, se sentindo hostilizado pelos guardas, ele teria ido embora pedalando sem fazer o protesto. “Não fiz nada de errado, não fiz nada de mais. Estou tranquilo”, afirma Arruda, garantindo que não pretendia ultrapassar o direito constitucional de se manifestar pacificamente.

A Prefeitura, a quem a GCM está subordinada, foi procurada por nossa reportagem por meio da Secretaria de Comunicação, para comentar o caso e se manifestar sobre a questão que os manifestantes chamaram de “turismo desordenado”, mas até o fechamento da matéria a Secom não respondeu aos questionamentos. A Câmara também foi procurada, por meio de seu setor de comunicação, para comentar o protesto e, a exemplo do Executivo, não respondeu aos questionamentos da reportagem.

Pronunciamento do prefeito

Em vídeo publicado no seu perfil em uma rede social, o prefeito Delcio Sato (PSD) classificou o fim de semana como “atípico” e disse que “na verdade o país todo foi invadido por um grande número de pessoas”. O chefe do Executivo comentou as questões relativas ao lixo e as aglomerações que aconteceram na cidade em plena pandemia da covid-19.

Segundo ele, sua gestão estaria trabalhando muito no combate ao coronavírus, tendo conseguido um bom índice de isolamento social na pandemia. No mesmo vídeo, Sato afirma que pediu ao governo do Estado um maior efetivo de policiais militares para ajudar no combate às aglomerações na cidade durante o feriado, mas não teria sido atendido, e mesmo assim os efetivos de guardas municipais e policiais militares teriam feito um bom trabalho dentro do que foi possível.

Lixo na Praia Grande de Ubatuba, na manhã do dia 7 de setembro. (Foto: Alex Arruda)

Sobre a quantidade de lixo jogado nas ruas e praias, Sato se disse surpreso e indignado e lembrou que a responsabilidade não pode ser toda atribuída ao poder público. “Infelizmente, às pessoas falta um pouco mais de educação, falta sem dúvida uma atitude de cidadania”, declarou. “A questão do lixo é uma questão mundial, e cabe a cada um de nós fazer a nossa parte”, destacou o prefeito.

*Texto: Renata Takahashi / Tamoios News