Transexual está entre as primeiras do Brasil que disputarão em outubro uma vaga para comandar o Poder Executivo Municipal
Por Ricardo Hiar, de Caraguatatuba
O PSOL realizou neste sábado a convenção para definir os nomes que representarão a legenda na eleições de outubro. O encontro aconteceu na Câmara Municipal e reuniu cerca de 40 pessoas. Por unanimidade, a pré-candidata Thífany Felix foi apoiada para concorrer ao cargo de prefeita, tendo José Antonio, o pardal, como vice da chapa. Os partidários que disputarão as vagas do Poder Legislativo também foram definidos.
Anderson Gueiroz, presidente do PSOL em Caraguatatuba foi quem conduziu os trabalhos e a votação que definiu o nome de Thífany para o processo eleitoral. Ele disse que o partido tem enfrentado lutas árduas nos últimos tempos para levar em frente o projeto político na cidade. Apesar disso, ele acredita que já ocorreram muitas conquistas.
Emocionada, Thífany disse que será uma honra e uma felicidade enorme ter a oportunidade de disputar as eleições 2016. Em seu discurso, ela aproveitou para falar sobre sua trajetória e também as dificuldades e preconceitos que sofre por ser transexual. “O que sou não me envergonha nenhum um pouco. O que me envergonha é saber que tem pessoas que não aceitam a diversidade. Atrás de mim vem diversas pessoas, não só no quadro LGBT, que sofrem todos os dias por serem quem são”, comentou.
Segundo ela, apesar do apoio que recebe da família, como a mãe que mesmo sendo evangélica a aceita e apoia, sua vida sempre foi marcada por lutas, incluindo ter sido demitida de um trabalho na área da saúde porque assumiu a sexualidade. Ela acredita que por sua vivência, consegue saber um pouco do que passam as pessoas que sofrem no dia a dia por inúmeros motivos e entende o quanto isso dói.
Thífany Félix contou que se propôs a concorrer estas eleições para representar todos os segmentos. “Represento uma massa oprimida, não só LGBT. Lembro do dia em que fui a uma escola pra querer me profissionalizar, e não queriam deixar eu entrar pra estudar por ser transexual. Quantos negros, quantos pobres não passam por isso, por não ter uma roupa adequada, por não estar no mesmo padrão que outros? Muitas pessoas passam pelo que passei”, completou.
A pré-candidata ainda comentou sobre o vice de sua chapa. “Quando vejo um homem heterossexual, com uma educação normativa, apoiando minha candidatura, fico feliz. Mostra que podemos atuar juntos sim, podemos ser prefeitos, vereadores, doutores. Podemos ser o que a gente quiser, o que lutar. Basta que não se oprima. Os evangélicos, negros, LGBTs, podem sim trabalhar juntos, basta se olharem com igualdade”, concluiu.
Durante a convenção, houve também a participação de um representante da estadual do PSOL, o professor Tarcísio Ramos. Ele teve dez minutos para fazer uma breve apresentação sobre alguns temas e bandeiras que o PSOL vem levantando pelo país.
“Nossa luta é coletiva. Queremos entrar no Legislativo e Executivo, mas com objetivo de revolucionar, mudar. Queremos um governo da classe trabalhadora, das mulheres, do movimento LGTB, do movimento dos negros.Nosso partido é diferencial, porque nós agimos como humanos e vemos as pessoas de forma humanizada, para respeitar as diferenças. Se não ganhar essa eleição, vamos continuar lutando e mostrando que esse sistema está falido e que queremos um novo sistema”, disse.
Ramos ainda afirmou que Caraguatatuba entrará no cenário nacional por essa decisão importante de Thífany, que mostra que o municipío está saindo à a frente. “Caraguatatuba não só terá uma candidata transexual, mas uma pessoa que representa toda uma luta. Não tenho dúvidas que ela levará essa batalha do partido em frente e o nome da cidade para muitos outros lugares e poderá ser a das primeiras transexual a administrar uma cidade”, disse.
