Por Salim Burihan
O Estado de São Paulo começou no dia 1º de junho o plano de flexibilização da quarentena contra o coronavírus. Anunciada pelo governador João Doria a retomada levou em conta os dados e avanços das cidades na luta contra a Covid-19.
O Estado foi dividido em cinco fases de risco, levando em conta indicadores de capacidade dos hospitais públicos e privados e a evolução da doença nessas regiões.
A primeira delas é a fase 1(Vermelha), a mais crítica, onde a ocupação dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) está acima de 80%; na fase 2 (Laranja) , com ocupação entre 60% e 80%; a fase 3(Amarela) será a da flexibilização (abaixo dos 60%).
A fase 4(Verde) prevê abertura parcial desde que os leitos hospitalares apresentem ocupação abaixo dos 60% e baixa incidência de novos casos; e a fase 5(Azul) permite a reabertura normal.
O Litoral permanece na fase 2-Laranja desde o inicio do plano São Paulo. Pressionadas pelo comércio e com a arrecadação em queda, as prefeituras foram aos poucos permitindo novas flexibilizações.
Para a maioria dos moradores, a retomada de várias atividades aumentou a circulação de mais pessoas nas ruas, comércios e transporte público, o que teria resultado no crescimento de casos e mortes por Covid-19.
Nas cidades da região, parece que tudo voltou ao normal. É evidente, que a maioria dos comércios e das pessoas aderiu aos protocolos preventivos, como uso de máscaras de proteção e álcool gel. A taxa de isolamento social, fundamental para controle do avanço da doença, caiu com a flexibilização.
Percebe-se que aumentou as aglomerações, principalmente, no transporte coletivo, nos centros comerciais e praias. A região vive um temporada turística atípica, pois milhares de veranistas e turistas decidiram cumprir a quarentena ou curtir o fim de semana por aqui.
Flexibilização/Casos
Quando começou a flexibilização, no dia 1º de junho, a região tinha 621 casos confirmados e 15 mortes pelo novo coronavírus.
Dos 621 casos na região, São Sebastião registrava 349 casos; Caraguatatuba, 166; Ubatuba, 58; e, Ilhabela, 48 casos do novo coronavírus. O Litoral Norte tinha 15 mortes, sendo seis em Caraguatatuba; cinco em São Sebastião; duas em Ubatuba; e, outras duas em Ilhabela.
A partir daquela data várias atividades comerciais reabriram suas portas ainda de maneira gradual e segura, adotando medidas de prevenção, que incluíam capacidade ocupacional e horários reduzidos.
As prefeituras deixaram claro, na ocasião, que se a situação se agravasse a reabertura seria suspensa. O número de casos e de mortes foram crescendo, mas as prefeituras, em nenhum momento, decidiram retroagir. Hoje, 49 dias depois da flexibilização, as cidades registram uma grande explosão de casos e de mortes por covid-19.
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O Litoral Norte contabiliza neste domingo(19) um total de 2.166 casos e 79 mortes pelo novo coronavírus. A região tem ainda 426 casos em investigação em Caraguatatuba, Ubatuba e Ilhabela e outras nove mortes, cinco delas, em São Sebastião. Segundo as prefeituras, 1.538 pessoas já se recuperaram da doença. São Sebastião é a cidade com maior número de casos, já são 754. Caraguatatuba é a cidade com maior número de mortes, são 44, sendo duas de moradores não residentes.
Em São Sebastião, em 49 dias, o número de casos passou de 349 para 754 e o de mortes de cinco para 15. Em Caraguatatuba, eram 166 casos, hoje, são 614; o número de mortes passou de seis para 44. Em Ilhabela, eram 48 casos, hoje, são 479; o número de mortes passou de duas para seis. Ubatuba tinha 58 casos, hoje, são 319; eram duas mortes, hoje, 14.
Prefeituras
Entre as quatro prefeituras, apenas duas delas, Ilhabela e São Sebastião, avaliam retroagir na flexibilização devido ao crescimento de casos e de mortes. A prefeitura de Ilhabela suspeita que a reabertura da balsa possa ter colaborado com o aumento da covid-19. A prefeitura de São Sebastião argumenta que a cidade recebeu mais de 50 mil veranistas e turistas na quarentena.
O prefeito de Caraguatatuba, Aguilar Junior, cidade que registra o maior número de mortes e a maior taxa de letalidade na região(7,0%), disse em nota enviada pela sua assessoria, que são muitos fatores que devem ser avaliados.
“Destacamos que devido a mudança do protocolo do Ministério da Saúde com relação ao atendimento médico, o número de óbitos em julho já está menor comparado aos meses anteriores – mesmo com a flexibilização em andamento. Acreditamos que o tratamento precoce tem feito a diferença”, alegou.
Segundo ele, antes o pedido era que a população apenas procurasse a unidade de saúde em casos graves, isso fez com que muitas pessoas chegassem aos hospitais extremamente debilitados, dificultando muito a recuperação. Agora, mesmo com o aumento no número de atendimentos, conseguimos realizar o diagnóstico e o tratamento de forma mais segura.
Segundo o prefeito, a prefeitura fez sua parte e investiu no sistema e infraestrutura de saúde e no treinamento de suas equipes, a grande maioria dos comércios vem cumprindo com as regras da vigilância sanitária e nossa fiscalização tem realizado um trabalho intenso nesse sentido. Para que tudo isso seja válido, é fundamental a parceria e consciência da população, segundo ele. Aguilar Junior garante que os dados são avaliados com frequência e que a cidade pode voltar para a fase vermelha se for indicado pelo Estado ou se a prefeitura avaliar que está perdendo capacidade de atendimento.
“Em Caraguatatuba temos avaliado diariamente os números. Os óbitos que tivemos tem na maioria uma importante característica: tratam-se de idosos com comorbidades. 80% dos óbitos são de pessoas acima de 60 anos. Outro dado importante é que a população idosa em Caraguatatuba é muito grande, por isso em nossas campanhas destacamos os cuidados em especial com esse público”, finalizou.
O prefeito de Ubatuba, Delcio Sato, afirmou que não acredita que a flexibilização fez crescer o número da covid-19 em sua cidade. “Não acredito. O aumento infelizmente acontecerá como tem ocorrido no mundo. O importante é o controle sempre atento a questão saúde x economia e lógico a saúde e a vida em primeiro lugar. Nossas medidas iniciais foram imprescindíveis para poder flexibilizar com responsabilidade . Monitoramos diariamente tudo isso”, concluiu.
O prefeito de São Sebastião, Felipe Augusto, em suas últimas lives tem considerado como preocupantes o crescimento de casos e de mortes da covid em seu município. Demonstra preocupação com um possível colapso nas unidades de saúde, onde os atendimentos cresceram muito nos últimos dias, principalmente, no PA de Boiçucanga que tinha em média 15 atendimentos diários e hoje, atende em média 200 pessoas. Essa situação, levou o comitê de contingência que cuida das ações covid no município a se reunir diversas vezes nos últimos dias, se a situação não melhorar, a prefeitura poderá retroceder na flexibilização.
A prefeita de Ilhabela, Gracinha Ferreira, é a primeira autoridade na região a adotar medidas visando restringir a flexibilização. A prefeita cancelou a abertura de academias e piscinas prevista para ocorrer a partir do dia 22 deste mês.
A Prefeitura de Ilhabela informou que com o aumento do número de casos positivos, óbitos e internados infectados com a Covid-19 na última semana, não flexibilizará no dia 22 a abertura de academias e piscinas, conforme decisão do Comitê de enfrentamento da doença, que acompanha diariamente o número de casos no município e da região, levando em conta
não só aumento de casos, mas a ocupação dos leitos nos hospitais.
“Se não desacelerar o número de novos positivos, o Comitê técnico já estuda regredir a flexibilização no município. O que vemos diariamente são pessoas sem máscaras, estabelecimentos desrespeitando as regras, festas, churrascos e aglomerações”, declarou o secretário de Saúde e presidente do Comitê de enfrentamento, Gustavo Barboni.
Os membros do Comitê recebem diariamente diversas denúncias de irregularidades e a falta de comprometimento de grande parte da população. “Estamos realmente muito preocupados com as denúncias, principalmente sobre pacientes positivos, que não estão cumprindo o
isolamento, saindo de casa e contaminando mais pessoas”, salientou Barboni.
Segundo a prefeitura, a flexibilização do comércio é uma maneira de manter empregos e gerar renda. O momento não é de normalidade e sim de atenção aos protocolos e das orientações divulgados diariamente. Mesmo com a rede hoteleira operando, as praias estão abertas apenas para atividades individuais ou em dupla, com permanência máxima de uma hora.
A Associação Comercial e Empresarial de Ilhabela foi orientada pelo Comitê, a informar aos hospedes sobre não se estabelecer na faixa de areia com cadeiras, coolers, guarda-sóis, cangas e similares, além disso, trilhas e cachoeiras também permanecem fechadas.
Segundo a prefeitura, todas as flexibilizações serão avaliadas semanalmente em razão do cumprimento das normas e da análise dos dados do Boletim Coronavírus, emitido pela Secretaria Municipal de Saúde de Ilhabela.