O caranguejo Ocypode quadrata, popularmente conhecido como guaruçá ou maria-farinha, vive na praia, onde se alimenta e cava tocas na areia. Tendo a praia como habitat natural, o animal é afetado por diversos eventos que, isolados ou combinados, podem provocar seu declínio populacional. Quem explica é o professor e pesquisador Samuel Faria, do Centro de Biologia Marinha da USP.
“Sabe-se que o preenchimento artificial das praias, bem como o aplainamento, pisoteio devido às práticas recreativas (caminhadas, corridas, prática de esportes), tráfego de veículos, turismo, poluição e desmatamento afetam negativamente as populações do guaruçá. Como já estamos em alta temporada, o tráfego de veículos altera a disponibilidade de matéria orgânica e modifica o grau de compactação da areia da praia, afetando a estabilidade das dunas e a morfologia das tocas onde vivem”, explica o biólogo.
Outro problema enfrentado pelos animais é a remoção de detritos de matéria orgânica na linha alta da praia. Segundo Faria, não se trata de sujeira, mas sim de um rico substrato de algas, gramíneas e outros organismos de origem terrestre e marinha que abriga uma complexa comunidade de invertebrados, que sustenta outros organismos que fazem uso das praias, como por exemplo as aves. “A remoção desse material, portanto, é contraindicada, pois reduz a diversidade e o estoque de alimento – inclusive para o guaruçá”, esclarece o professor.
De acordo com o pesquisador, estudos demonstram que regiões mais urbanizadas sustentam menores densidades populacionais também de outras espécies desse mesmo gênero e que estão distribuídas em outros continentes.
Há ainda outros fatores que podem estar influenciando as populações do caranguejo guaruçá, que serão objeto de estudos do Centro de Biologia Marinha da USP. “Temos o planejamento de iniciar alguns experimentos com o Ocypode quadrata nos próximos meses, bem como com outras espécies de caranguejos de praias arenosas, mangues e costões rochosos. Estou coordenando uma pesquisa que visa, entre outros aspectos, investigar a ecologia, fisiologia, genética e evolução de diversas famílias de caranguejos aquáticos e semi-terrestres, bem como testar os efeitos das mudanças climáticas em condições laboratoriais simuladas, especialmente no contexto do aquecimento global e acidificação dos oceanos”, conta o pesquisador Samuel Faria.