Em 2021, a ONU (Organização das Nações Unidas) deu início à Década do Oceano. E um dos principais focos da ação dos países membros deve ser instigar a alfabetização oceânica, ou seja, levar conhecimentos sobre o maior ambiente terrestre às pessoas. O professor Flávio Augusto de Souza Berchez, do Instituto de Biociências (IB) da USP, aponta, em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, que o desconhecimento da população sobre o oceano “é um problema mundial”.
“O sistema de ensino tem grandes deficiências [em ensinar sobre o oceano]. Professores não sabem, governantes, que pensam a educação, não sabem. Há aspectos do oceano na educação formal, mas com menos detalhes e ênfase do que deveria ter”, comenta o especialista.
Dados obtidos por meio de pesquisas e entrevistas mostram que o “visível” normalmente é mais conhecido pela população, como praias e manguezais. Enquanto isso, o “não visível” é pouco conhecido. Berchez cita, como exemplo do segundo caso, os bancos de rodolitos, que ocupam a plataforma continental de boa parcela da costa brasileira. “São pedras vivas, têm uma pedrinha e a parte de cima é viva. Ali cresce lentamente uma alga calcificada, com uma concha e, em cima dela, outras algas. É como um gramado submarino, que serve como alimento para diversas espécies. É algo de grande importância ecológica e ninguém conhece”, explica o professor.
Entre 2021 e 2030, o mundo viverá a Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável, a Década do Oceano. Assim como em outras “décadas propostas pela ONU” desde 1960, a ideia é que os países membros da ONU unam esforços para um objetivo comum. O oceano ganha destaque neste momento por sua grande importância, que — como aponta o especialista — vai além das comunidades marinhas:
“Ele regula os climas, por exemplo. As correntes quentes que levam o calor da região equatorial do atlântico, que passa pela região do Caribe, da Flórida, vai aquecer a Inglaterra. Essa corrente é um bom exemplo. Com o degelo do Ártico e a mudança da densidade da água do mar, essas correntes reduzem. Essa corrente de ar passa a ir menos para a região da Flórida e Inglaterra. Com isso, elas tendem a esfriar, enquanto a Amazônia a esquentar”.
*Fonte: Jornal da USP / Rádio USP