
Registro do fotógrafo Arnaldo Klajn, profissional desde 1972
Profissionais do litoral norte relembram histórias e falam do amor pela fotografia
Por Marcello Veríssimo
Robert Capa, um dos mais cultuados fotógrafos de guerra de todos os tempos, tinha uma frase que ficou famosa: “Se suas fotos não estão boas o suficiente, você não está perto o suficiente.” Capa levou essa máxima ao pé da letra, até o fim. Morreu ao pisar em uma mina terrestre, em 1954, cobrindo a guerra da Indochina.
Hoje, 19 de agosto, comemora-se o Dia Internacional da Fotografia, apresentada ao mundo em 1839 na Academia de Ciências da França, em Paris. O mundo aproveita a data para celebrar o fato e também homenagear grandes fotógrafos da história, como Henri Cartier-Bresson, Annie Leibovitz ou Sebastião Salgado.
A era digital em que vive grande parte da população popularizou a fotografia instantânea. Mas apesar da rapidez e da proliferação das selfies, algumas características são fundamentais no relacionamento entre o fotógrafo e a sua arte: técnica, ângulo, paciência, além de sentimento e do olhar apurado para registrar algo.
E a paixão pode começar praticamente no nascimento, como no caso do fotojornalista Ronald Kraag, 68. Morador de Ilhabela, Kraag é admirador de “tudo relacionado ao mar”, além de natureza e turismo, o que fez com que se fixasse no arquipélago há mais de 20 anos.
O mar, aliás, é uma das forças da natureza presentes na vida de Ronald: o fotógrafo nasceu dentro de um navio durante a viagem que mudou a vida da família, que saiu dos Estados Unidos durante a 2ª Guerra Mundial. “Meu pai conheceu minha mãe em um campo de concentração. A história foi evoluindo e, em uma dessas viagens, nasci no navio”, disse Ronald. “Nasci num navio em 19 de março de 1947, em águas internacionais; tecnicamente sou apátrida, sociologicamente sou marinheiro. Tenho uma árvore genealógica muito ramificada. Sinto que estou bem em qualquer lugar do mundo, com qualquer pessoa”, comentou o fotógrafo, que é filho de militar da marinha da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte).
Apátrida, segundo os dicionários, é a pessoa considerada sem pátria, ou que perdeu sua nacionalidade oficial e não adquiriu outra. Não é o caso de Ronald, que recebeu recentemente o título de cidadão honorário de Ilhabela. “Ainda não tenho nem um ano, só alguns meses”, brinca.
Popular em Ilhabela, Kraag coleciona trabalhos de sucesso na região. E é um cronista do bem, da alegria, do esporte e dos momentos de felicidade. “Pego minha câmera e já vejo os olhos das pessoas reluzentes”, explica Kraag, que ainda é guia de turismo cadastrado na Embratur (Empresa Brasileira de Turismo), autarquia especial do Ministério do Turismo Brasileiro.
E é justamente esse o alicerce do trabalho de Ronald nos últimos anos: focado no turismo, divulgando as belezas, o povo e o cotidiano. “Sempre procuro ver o lado bom das pessoas, e em Ilhabela o olhar dos moradores é feliz”, disse.
Um só coração
O repórter fotográfico Luiz Gustavo Campino Grunewald se considera “caiçara de coração”. Na região desde 2002, Grunewald passou parte da infância e da adolescência dentro de redações. Filho do jornalista Luizinho Grunewald, Gustavo recorda que desde muito pequeno vivenciou a rotina em diferentes departamentos de jornais na região. “Mas desde muito novo minha paixão foi pela fotografia; meu pai me incentivava muito também. Profissionalmente, comecei a fotografar em 1994 e não parei mais”, recorda o fotógrafo com mais de 20 anos de carreira.
Com uma trajetória profissional de sucesso, em uma época que a internet estava apenas começando no Brasil, Grunewald participou de uma fase em que os jornais não possuíam muitos recursos em seus departamentos de fotografia. Em 1999, conseguiu o registro de jornalista/repórter fotográfico (MTB) publicando fotos no Estadão, e nos extintos Jornal da Tarde , Diário Popular e Notícias Populares. No Vale do Paraíba, fez fotos para o caderno regional da Folha de São Paulo – o Folha Vale –, além de Gazeta Mercantil e jornal Vale Paraibano. “Quando comecei era difícil conseguir um bom equipamento, o filme era caro. O laboratório foi o nosso Photoshop”, comparou.
Tanto Ronald quanto Gustavo consideram que a evolução tecnológica, através das câmeras digitais, popularizou a fotografia no Brasil, com cursos online de aperfeiçoamento e capacitação proporcionando possibilidades para todos. Mas, apesar de acreditar ainda ser possível viver de fotografia no país, Gustavo alerta que é preciso atenção para investir na profissão. “Quem está iniciando tem que estudar muito, praticar sempre. Saber o que vai fotografar é importante. Para viver de fotografia no Brasil é necessário viver a fotografia e manter o foco nos seus objetivos”, diz.
Apesar de, como outros colegas, exercer outra atividade profissional paralela ao fotojornalismo, Gustavo não diminuiu sua rotina de trabalho. Concilia aulas de professor na rede pública municipal de Caraguatatuba com o hobby de fotografar. “Não digo que é hobby apenas, mas um modo de vida. Não tenho feito mais 12 pautas por dia como já fiz, mas ainda fotografo praticamente todos os dias, a diferença é que são pautas longas, que podem durar meses”, explica o fotógrafo, que deve começar a trabalhar em um livro.
Paz
Filho de judeus poloneses, nascido na capital paulista em 10 de setembro de 1953, Arnaldo Klajn começou sua carreira em 1972, como estagiário na empresa José Pinto Produções, “que produzia mais filmes publicitários que fotografia”. Arnaldo na época estudava na ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) com especialização em fotografia.
Amigo de infância do fotógrafo Bob Wolfenson, foi indicado para exercer a função de assistente de estúdio na Editora Abril. “Fiz o teste, fui aprovado, permanecendo lá de 1973 a 1987”, relembra. Fotografou para as publicações mais importantes da editora, como as revistas Veja, Claudia, Manequim, Contigo, Elle, Playboy, entre outras, além de fotografar para a Abril Cultural, no segmento de fascículos. “Um trabalho que tenha um conceito importante, mas um resultado pobre, não emociona, não sensibiliza, não passa o recado”, define Arnaldo, que possui ampla carreira no mercado publicitário. Antes de chegar a São Sebastião, Klajn foi sócio de uma agência-estúdio em São Paulo. Nesse período ainda estudou Artes Plásticas na FAAP com graduação em desenho industrial.
Para uma boa foto, é necessária um boa ferramenta de trabalho. O equipamento usado pelos profissionais varia de acordo com o estilo de imagem a ser capturada. O surfe, dizem os profissionais, exige boas lentes teleobjetivas. O valor das lentes pode chegar a R$ 20 mil. A caixa-estanque (uma espécie de submarino que zela pela segurança do equipamento no mar), pode custar de R$320 a mais de R$9 mil. “O fotógrafo especializado neste esporte tem que saber se virar na água e conhecer profundamente o esporte”, avalia Gustavo. Apesar do alto custo dos acessórios, são eles que “trazem resultados muito melhores em toda condição de luz”, finaliza.
Além de uma boa câmera e lentes, é preciso paciência. E sorte. Foi o que aconteceu com Arnaldo Klajn quando registrou a foto de capa desta reportagem. Durante uma competição de ciclismo em Taubaté, Klajn teve que unir experiência, técnica e preparo físico. “Os ciclistas corriam em um circuito bem extenso que tinha, na maior parte, prédios e instalações ao fundo. Tive que caminhar uns bons quilômetros sob o sol até encontrar uma cena que me agradasse, um fundo que ressaltasse o colorido das roupas e o grafismo das rodas e personagens em movimento, sem a confusão visual dos outros locais. Quando o grupo se aproximou do ponto escolhido, percebi o pássaro chegando e rezei, não tenho outra palavra, para que o encontro pássaro ciclistas ocorresse; o que felizmente aconteceu”, lembrou.